quarta-feira, 22 de abril de 2009

Abril


Desculpa, mas é mais forte que eu. Bate uma inquietação. Bate um negócio, não sei explicar. Começa nem sei onde. Mas, desculpa, é mais forte que eu. Sim, vinho, mais vinho. Pode me dar um pouco de uísque também. Se eu virar o copo nem sinto o gosto. Mais vinho. Não, vodca hoje não. Sim, quando bebo sei tragar. Me dá teu cigarro. Não, não quero ir pra casa, está cedo. Muito cedo. Quero andar pela cidade. Quero dançar. Quero explodir. Quero outro cigarro. Não, não quero esse cheiro em mim. Se eu apagar, não morremos nem eu nem você de câncer.


Minha morte? Infarto! Pelas enxaquecas e pelas estatísticas, sou candidata a AVC. Ah, não, infarto. Igual a família da minha mãe. Aos homens da família. Por que fui nascer mulher? Infarto. Uma vez e só. Uma vez e nunca. Moço, sabia que eu sempre achei mais que ia morrer do que ia viver. Foi a alimentação. Minha avó sempre dizia que eu ia pegar uma pneumonia e ia pro hospital. E ia morrer. Acreditei nela. Mas só corri o risco de ficar internada uma vez. Mentira, duas vezes. Teimosa, moço, nem fiquei. Voltei pra casa. Deus me livre de morrer em hospital. Quero morrer na minha cama. Sei até como. Igual à Bela Adormecida. Com os dedos cruzados sobre o peito. Com cara de serena. Já brincou de imaginar que você morreu e ainda não sabe? Que as pessoas não estão lhe vendo?


Contei os dedos das mãos dos cinco aos dez anos para marcar meu tempo de vida. E sobrevivi. Aí lembrei de contar até quantas mãos eu chegaria. Já estou na quinta mão completa. É assim, a gente nasce e depois só faz morrer. Brincadeira. A gente nasce-vive-morre o tempo todo. O instante inteiro.


O que eu quero? Prefiro nem saber. Lá vem de novo. Conheço cada um dos sintomas. Que ninguém chegue perto. Parece que o ar fica mais perto, que dá pra sentir o ar tocando na gente. Na gente. É demais para ser só em mim. Todo mundo tem isso.
Só tinha conhecido quem lutasse por coisas para muitos. Para depois terem muitos agradecimentos ocultos e honrarias discretas ou não. Aí ela foi lutar por ela, para ela, pela vida. Então, viver deve ser algo muito bom. Que seja mais viver que morrer. E o nascer fique indo e vindo.

O toque do celular:

If I was young, I'd flee this town
I'd bury my dreams underground
As did I, we drink to die, we drink tonight
Far from home, elephant gun
Let's take them down one by one
We'll lay it down, it's not been found, it's not around
Let the seasons begin - it rolls right onLet the seasons begin - take the big king down
Let the seasons begin - it rolls right onLet the seasons begin - take the big king down
And it rips through the silence of our camp at night
And it rips through the night
And it rips through the silence of our camp at night
And it rips through the silence, all that is left is all
That I hide

Mais vinho. Pelo entorpecimento.




Obs.: Pelas enxaquecas que retornaram, seis meses depois. Para matar a saudade, estão comigo quase todo dia.

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