quinta-feira, 30 de abril de 2009


“Existem etapas que precisam ser concluídas por você, você sozinha, moçoila. Não adianta chamar o pombo-correio para enviar mensagens às amigas. Elas estão bastante ocupadas, demos trabalho suficiente para que elas não possam se comunicar com você nem mesmo por pensamento. E lembre-se, não se revolte, pode perder a harmonia” , disse a mais velha, a mais horropilante das três mulheres. Aquela que não havia determinado nenhuma tarefa e sem linhas ou novelos nas mãos.

Lili havia acordado de péssimo humor. Pensava por que havia de ter imaginado naquela pequena marca, daquele pequeno arbusto, uma passagem secreta para qualquer outro lugar. O lugar, em si, não importava. O que valia era a descoberta. Ou, quem sabe, a ansiedade pela descoberta. A possibilidade. A vazão perigosa que a imaginação precisa de vez em quando.

Quando o Sol refletiu naquele pequeno pino encravado no tronco da planta, ela não duvidou. Correu até lá. Poderia ser uma inscrição antiga de um índio, índio somente não, de um pajé. Um traço de um mapa fabuloso deixado ali há mil anos por um pirata. O portal para um cemitério escondido, cheio de fantasmas. Parte de um feitiço de uma bruxa. Tudo ao mesmo tempo. A cada novo pensamento, um pulo, um esfregar de mãos diante de tamanha excitação. Lili não se continha com tantas idéias juntas que surgiam ao mesmo tempo. Saltitava para um lado, rodopiava para outro. Até perceber a presença de alguém. De vários alguéns. Das três senhoras simpáticas que se aproximavam e que a faziam voltar a si aos poucos.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Se alguma revolução vier


Por Confúcio


"A vida conduz o homem responsável por caminhos tortuosos e mutáveis.

Muitas vezes, o curso é bloqueado, em outras, segue desimpedido.

Ora pensamentos sublimes vertem-se livremente em palavras, ora o pesado fardo da sabedoria devce fechar-se no silêncio.

Mas quando duas pessoas estão unidas no íntimo de seus corações, podem romper até mesmo a resistência do ferro e do bronze.

E quando duas pessoas se compreendem plenamento no íntimo de seus corações, suas palavras tornam-se doces e fortes como a fragância das orquídeas"

terça-feira, 28 de abril de 2009

JLB




A princesa Lili era muito, muito curiosa. Por isso, três mulheres do reino dos seres fantásticos fizeram o que era preciso. Lili foi encurralada e a única saída era cumprir três tarefas. Que, na verdade, eram três formas distintas e definidas de fazê-la entender algumas coisas, adquirir alguns hábitos.

Cada uma das mulheres pôde designar-lhe uma missão. A primeira missão era a reparação por algo feito por Lili no passado. A segunda, correspondia ao presente. A terceira só seria entregue se Lili executasse as duas com harmonia e serenidade. Ah, com paciência também, claro. Caso fracassasse, passaria uma semana isolada na Torre das Apreensões, até que as duas primeiras mulheres conseguissem dispor de curiosidade para inventar tarefas novas.

Tempos difíceis. Bem difíceis.
P.S.: Preciso lembrar de procurar no sebo O Livro dos Seres Imaginários

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Manhã de segunda






Ai se o se ainda fosse possível.

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Anjos existem


Agradeço enormemente ao flanelinha do Estrela do Mar; à coragem de Margareth, Talita e Mariana; a Hugo, que apareceu no sinal para lembrar de ligar o farol; ao senhor com seu cachorro e sua filha, que me ajudou com a ré às 23h; à paciência surpreendente do meu pai; às aulas teóricas de Seu Pedro e mainha; ao senhor sentado no Carmo, que me ajudou a estacionar; à impaciência bruta de um certo senhor; aos pombos, que me fizeram dar o primeiro semi-banho de Penélope; ao guarda que me parou três dias depois de estar com a habilitação nas mãos; a Michael e Marilia, por me ajudar a ir ao Tacaruna e a tirar o carro da garagem de vovó. Em vinte dias, descobri que adoro dirigir. Se gasolina não fosse tão caro e eu confiasse mais no álcool, trocaria meus momentos de tédio em frente a livros, filmes e pc por horas de direção sem fim, com som alto.
Ah, dirigir à noite é bem melhor que de dia.
Protesto: todos deveriam dar exemplo e respeitar as leis de trânsito. Se tem 40 km/h, é pra ser 40 km/h!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Ansiedade


Daqui a umas duas semanas é Dia das Mães. Agradeço pelas mães que ganhei nos últimos tempos. Uma delas faz aniversário exatamente no segundo domingo de maio. Espero que não demore muito para que eu também possa ganhar presente na data. E retribuir tudo que aprendi com essas mulheres. Agradeço a minhas amigas, de quem sou um pouco filha também.

Pode ser pequeno, pode ser provinciano, pode não ter nada a ver com a imagem que faço. Mas o maior sonho da minha vida é ser mãe. O maior medo da minha vida é não ter filhos. Eles ainda nem têm data nem expectativa de vir ao mundo, mas já são imensamente amados. Tanto que aprendi a comer alface todos os dias. O correto era espinafre, mas. Ah, como peixe sempre que posso também.

Ontem, ouvi uma conversa importante sobre leite materno. E no meio da conversa, duas histórias lindas: uma triste, outra feliz. Aí o relógio biológico (adiantado como todo relógio meu) provoca um choro.

A gente vira adulta e fica mais manteiga derretida que o usual.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Jogo do Contente


Aninha,

Só para deixar declarado que você é minha heroína. Que você me faz olhar para a vida de forma diferente. Agora, neste exato momento, um choro de alívio ameaça tomar conta de mim. Sua bondade, seu jeito suave de perdoar fácil, sempre foram inspiradores. E até merecedores de críticas. Afinal, era preciso que você pensasse um pouquinho em si mesma. Não achasse tanto que os desafios dos outros eram gigantescos perto dos seus. Você mostrou que não tem desafio que não possa ser vencido. Com maturidade, serenidade, cabeça erguida e paz de espírito. Além da crença em Deus, claro.

Eu me vi como portadora de más notícias quando soube que era câncer de mediastino. Chorei com Cecília no celular. E hoje foi Cecília quem me deu a boa notícia. Meu celular não funcionou quando você me ligou. Acho que era porque era pra Cecília ser a mensageira da boa nova. Compensações da Providência. Foi difícil ver você internada, com dificuldade para respirar. Mas, você reagiu de forma impressionante. Surpreendente. E, às vezes, você nem imagina, fui até a quimioterapia buscando um pouco dessa sua sabedoria, sabe? Buscando cura para mim mesma. Fui egoísta, confesso.

Aninha, você ensina tanto a gente. Graças a você, me sinto menos constrangida para dizer “eu te amo” a alguém. Principalmente, a meus amigos. O tempo é muito curto para não nos mostrarmos para quem amamos, não é? Tudo pode mudar tão rápido. Graças a você, acredito em milagres. Afinal, você é um. E pude ver de perto.

Para mim, a sua doença mais trouxe de bom que de ruim. Porque Deus escreve certo por linhas tortas (de vez em quando, de acordo com a estratégia dele, que nem sempre entendemos). Não há nada de mal que não possa trazer algo de muitíssimo bom. É questão de tempo, de paciência, de saber enxergar.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Let the seasons

Estava ali. Há bastante tempo. Muito tempo. No Ano Novo já devia estar. Mas só chegou no sábado. Foi anunciado em outubro ou novembro, algo assim. "Lembre-se de São Bernardo. É um clássico brasileiro". Um amigo disse. Ficou mais amigo por isso. Ela deveria ter raiva. Deveria gritar. O medo de colocar para fora e com isso deixar ir embora. Por mais que machucasse, não deveria ser expulso. Ser deixado.
Ela foi lá, no restaurante. Naquele. Tijolo por tijolo, sentimento some. Ou cresce. E eram tantos movimentos, tantas novidades. Tanta gente. Que era um brilho, um brilho forte. Feito o do Sol quando surge de manhã cedo, depois de uma madrugada de chuva. Um resgatar da mente quando temos um estalo e lembramos de algo. Precisa dizer mais nada. Quem entende, sabe. Quem pode, lê.
O medo de deixar o ruim ir embora com o bom. O medo de ficar estanque. Nem sempre ir é sair do lugar. A moça estava no mesmo canto. Dava giros e giros e voltava para o mesmo lugar. Ela convulsionava abraçada aos joelhos. Aí lembrava de um banho de chuva inesperado. De fechar os olhos por segundos sem ser percebida. E deixar a chuva. A chuva. Queria pular, queria ficar ali. Ia lembrar sempre daquela chuva. Do quanto precisava ficar ensopada logo naquele dia.
Só faltava um mar cedinho. E o choro seria de alegria. Porque tem moça que não sabe ficar se derramar.

Abril


Desculpa, mas é mais forte que eu. Bate uma inquietação. Bate um negócio, não sei explicar. Começa nem sei onde. Mas, desculpa, é mais forte que eu. Sim, vinho, mais vinho. Pode me dar um pouco de uísque também. Se eu virar o copo nem sinto o gosto. Mais vinho. Não, vodca hoje não. Sim, quando bebo sei tragar. Me dá teu cigarro. Não, não quero ir pra casa, está cedo. Muito cedo. Quero andar pela cidade. Quero dançar. Quero explodir. Quero outro cigarro. Não, não quero esse cheiro em mim. Se eu apagar, não morremos nem eu nem você de câncer.


Minha morte? Infarto! Pelas enxaquecas e pelas estatísticas, sou candidata a AVC. Ah, não, infarto. Igual a família da minha mãe. Aos homens da família. Por que fui nascer mulher? Infarto. Uma vez e só. Uma vez e nunca. Moço, sabia que eu sempre achei mais que ia morrer do que ia viver. Foi a alimentação. Minha avó sempre dizia que eu ia pegar uma pneumonia e ia pro hospital. E ia morrer. Acreditei nela. Mas só corri o risco de ficar internada uma vez. Mentira, duas vezes. Teimosa, moço, nem fiquei. Voltei pra casa. Deus me livre de morrer em hospital. Quero morrer na minha cama. Sei até como. Igual à Bela Adormecida. Com os dedos cruzados sobre o peito. Com cara de serena. Já brincou de imaginar que você morreu e ainda não sabe? Que as pessoas não estão lhe vendo?


Contei os dedos das mãos dos cinco aos dez anos para marcar meu tempo de vida. E sobrevivi. Aí lembrei de contar até quantas mãos eu chegaria. Já estou na quinta mão completa. É assim, a gente nasce e depois só faz morrer. Brincadeira. A gente nasce-vive-morre o tempo todo. O instante inteiro.


O que eu quero? Prefiro nem saber. Lá vem de novo. Conheço cada um dos sintomas. Que ninguém chegue perto. Parece que o ar fica mais perto, que dá pra sentir o ar tocando na gente. Na gente. É demais para ser só em mim. Todo mundo tem isso.
Só tinha conhecido quem lutasse por coisas para muitos. Para depois terem muitos agradecimentos ocultos e honrarias discretas ou não. Aí ela foi lutar por ela, para ela, pela vida. Então, viver deve ser algo muito bom. Que seja mais viver que morrer. E o nascer fique indo e vindo.

O toque do celular:

If I was young, I'd flee this town
I'd bury my dreams underground
As did I, we drink to die, we drink tonight
Far from home, elephant gun
Let's take them down one by one
We'll lay it down, it's not been found, it's not around
Let the seasons begin - it rolls right onLet the seasons begin - take the big king down
Let the seasons begin - it rolls right onLet the seasons begin - take the big king down
And it rips through the silence of our camp at night
And it rips through the night
And it rips through the silence of our camp at night
And it rips through the silence, all that is left is all
That I hide

Mais vinho. Pelo entorpecimento.




Obs.: Pelas enxaquecas que retornaram, seis meses depois. Para matar a saudade, estão comigo quase todo dia.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Milagre

Nas pequenas coisas, nos pequenos gestos, nos pequenos sinais. O grande assusta, impacta, desmonta. Às vezes, só precisamos passear por dezenas de pés de sapoti. Outras, observar por segundos uma casa antiga cheia de plantas.
À vida!

Mellon collie and the infinite sadness


Lily, my one and only
I can hardly wait till I see her
Silly, I know i'm silly
Cause i'm hanging in this tree
In the hopes that she will catch a glimpse of me
And thru her window shade I watch her shadow move
I wonder if she.......?
Lily, my one and only
Love is in my heart and in your eyes
Will she or won't she want him
No one knows for sure
But an officer is knocking at my door
And thru her window shade I watch her shadow move
I wonder if she could only see me?
And when i'm with her I feel fine
If I could kiss her I wouldn't mind the time it took to find
My lily, my one and only I can hardly wait till I see her
Oh lily, I know you love me
Cause as they're draggin me away I swear I saw her raise her hand and wave (goodbye)

Mais um aperitivo das Crácikas


De que vale o meu sangue azul e eu sempre a malhar

Se quando você vem só faz me estressar

Só tenho você, pro meu aborrecimento

E a sua presença é todo o meu tormento

Quero que você vá pra um exílio eterno

E que seja longo o seu inverno

O que vale é a minha boa vida de girl toy

Mas se entro no seu carro, a encheçao me dói

Onde quer que a gente transe, sempre é tão triste

Não me interessa se você existe

Quero que você pra um exílio eterno

E que seja longo o seu inverno

Não suporto mais você perto de mim

Quero até morrer só do que viver assim

Só quero que você vá pra um exílio eterno

E que seja longo o seu invernoOh, oh,

E que seja longo o seu inverno
Não suporto mais você perto de mim

Quero até morrer só do que viver assim

Só quero que você vá pra um exílio eterno

E que seja longo o seu inverno

E que seja longo o seu inverno

E que seja longo o seu inverno

E que seja longo o seu inverno
Obs.: Banda de jornalista, publicitária e designer não podia passar sem marquinha, ok?

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Outra das Crácikas - mais: Domingo - 16h - Alto da Sé

Ah hei! Ah hei! Ah hei!Ah!
O moço de Jú!
Ah hei! Ah hei! Ah hei!

Eu lembro do moço bonito
Na praia, era uma miragem
E o moço no meio da tarde
De sungão azul
De sungão azul, era o moço de Jú
Era o gostoso da tarde
Sua sunga azul como a tarde
Na tarde do níver de Jú

O moço de Jú!...(2x)
Omoço de Jú!Oh! Oh!Moço de Jú!

O moço de Jú
Era o mais galinha
De toda a cidade
E foi justamente pra ele
Que eu dei
O meu primeiro úh!...

Mas o moço de Jú
Com Jú namorava
Foi só naquela tarde
Na tarde do meu primeiro úh!
O moço de Jú!...
O moço de Jú!...


Eu lembro do moço bonito
Na praia, que miragem
E o moço no meio da tarde
De sungão azul
De sungão azul, era o moço de Jú
Era o pegador da cidade
Sua sunga azul como a tarde
Na tarde do níver de Jú

O moço de Jú
Oh! Oh! Oh
O moço de Jú
O moço de Jú

Era o mais galinha
De toda a cidade
E foi justamente pra ele
Que eu dei
O meu primeiro úh!...

Mas o moço de Jú
Com Jú namorava
Foi só naquela tarde
Na tarde do meu primeiro úh!
O moço de Jú!...

Ah hei! Ah hei!
Ah hei!Ah hei!
Ah hei! Ah hei!...

Primeiro show das Crácikas - CONVITE!


!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!



!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!



A banda Crácikas, cujo primeiro repertório está em fase de finalização, convida tod@s para o primeiro ensaio. Será no Alto da Sé, em Olinda, a partir das 15h30, 16h. O grupo é formado (por enquanto, viu) só por mulheres antenadas, descoladas, gente boa e legais.
O talento das garotas floresceu no clima carnavalesco de Momo, onde se reuniram pela primeira vez neste ano. O maior sucesso das meninas é a versão super original de Último Desejo, de Noel Rosa. A letra, de conteúdo impróprio para menores de 36 anos, foi divulgada à boca miúda, para não queimar a compositora.
Munidas de panelas, pires, caixas de fósforos e outros instrumentos, elas prometem pôr abaixo o Alto da Sé.

Tragam também seus instrumentos e cantem com elas. Deixem em casa os tomates, ok? Outra: vaia é coisa de gente mal educada. Quer dizer uhh vá pra um local onde possa ficar a sós, entre quatro paredes, ou vá pra um campo de futebol!


Palhinha:


"Nosso amor que eu já esqueço

E que teve seu enterro numa festa de Carnaval

Morre hoje sem (piiiiii!!!!!), sem (piiii!!!!) e espaguete

Sem brigas e sem sermão

Perto de você prefiro outro falo, tudo bebo e álcool exalo

Tenho medo de ir pro AA

Nunca mais quero seu queijo,

Mas meu último desejo, você não pode negar"










sexta-feira, 17 de abril de 2009

“Sempre a primavera, nunca as mesmas flores”




Recebi presentes significativos no aniversário. Quando escolho algo para dar, busco procurar algo que seja também um pedacinho meu a ser entregue junto com o presente. Lívia nem sabe quanto o primeiro CD de Maria Rita fez parte da minha vida há cerca de cinco anos. Barba não ia imaginar nunca o quanto eu precisava de uma leitura mais leve e mais feminina (porque me disseram que o pensamento lá no oriente está mais para a mulher que recebe que para o homem que age).

Quando fui para a Rua do Príncipe encontrar Marilia, choveu um pouco. Uma garoa, um chuvisco. E comecei a sentir que era bom estar viva e envelhecendo. No dia do aniversário, podemos nos sentir à vontade para lembrarmos que somos amados. Cacau e Maristela foram surpresas enormes. No dia do aniversário, precisamos lembrar de honrar o amor que recebemos.

Porque se há quem nos ame por perto, do lado, por que nos entristecemos? Ser humano é muito complicado. Queria ser filhote de cachorro.

O show de Maria Rita que fui em 2004 foi quase tão catarse quanto foi o de Alanis este ano.

“A chuva já passou por aqui, eu mesma que cuidei de secar”

“Day one, day one

Start over again

Step one, step one

I'm barely making sense for now

I'm faking it till I'm pseudo making it

From scratch begin again but this time "I" as "I"And not as ´we´”

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Hope you guess my name


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*** **

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"E no país houve uma revolução, há muito, muito tempo. Foi um príncipe de um país vizinho que começou. Um ato heróico. O príncipe, muito esperto, saiu pelas ruas em posse do instrumento que havia inventado. Era uma mistura de bandolim com guitarra com violão. Nem era grande nem era pequeno. A princesa Lili, que ainda nem princesa se sabia, havia entregue a primeira parte da tal criação, na época da infância quando eles nem imaginavam o futuro. Ela, mais que ele, lembrava de quando saiu pela estrada contente, com aquela peça nas mãos, objeto maior que os braços dela. Não percebeu o peso, não estranhou o desconforto de andar um bocado a segurar aquilo. A alegria era imensa. Olhem só, não passava pela cabeça dela que aquilo seria instrumento de revolução!


A cada toque, a cada nota, um muro das gigantescas cercas que protegiam o país diminuía. E a menina que carregava a primeira peça, amava. Percebia que amava. O príncipe, imponente, dsitribuía sons. A menina se fez doce e singela feito chocolate com avelã ou amêndoas. E ele lhe disse: princesa. Princesa Lili B. de B.


Durante a revolução da queda de todos os muros, a lua, que estava bem cheia e amarela, cedeu espaço para as estrelas. Não poderia ter só para si algo tão bonito, amor a crescer. Foi mais para o lado, arranjou um canto, deixou suas amigas assistirem também. Duas constelações se comoveram com a cena. E se deram as mãos. Outra revolução. (Porque evolução tem gosto de gente só, de crescimento só - revolução precisa de pelo menos duas pessoas e um amor).


A lua, encantada, cansada de tantas coisas eternas, antigas, longas, resolveu marcar o momento em algo temporário. Em gente. Que vai e vem deixa a Terra. A lua, intempestiva e inquieta, desenhou constelações nas pessoas. Porque pessoas mudam sempre, vão sempre. Mas nelas ficam sinais, ficam histórias. Ficam revoluções para mudar o curso das coisas, para fazer do rio, maré.


Havia muito mais a contar, houve um pulo para chegar logo na lua. Houve também uma chuva, que no país da Lili, depois da revolução dos muros, ganhou um nome mais adequado. Mas, já é tarde. Já é hora de dormir.



***** Ternura. Não a ternura de Vinícius. Ternura. Ternura
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O CD novo de Madeleine Peyroux é muito bom e hoje ouvi um pedaço no meio da rua!
"My heart is like a hand-me-down made soft by older brothers
My body's like my father's house, the sin of generations
Damn the circumstances
Life is hard enough
Damn the bones that rattle
Faith is good enough
You shook the ground beneath my feet, my hopes turned into water
The house came crashing down on me in the early morning hours
Damn the circumstances
Life is hard enough
Damn the bones that rattle
Faith is good enough
Now the lines are drawn and we sleep in the rags and dust
Where all good will has gone and the dreams we had went bust
Damn the circumstances
Life is hard enough
Damn the bones that rattle
Faith is good enough"



domingo, 12 de abril de 2009

Penélope


Não, moça, o mundo não é cor de rosa com tons lilás. Não, moça, o guarda não queria saber se você cantou pneu porque estava aprendendo a dirigir. Muito menos se você está com a habilitação há três dias.


Não depende de nós. Depende de você, moça. É preciso ter fôlego para subir a ladeira e saber a hora exata de ir mais devagar, para não ter que desistir no meio do caminho.


Não, moça, não pense demais na mulher do ônibus que falou das suas Três Marias. Melhor lembrar das Três Marias de Rachel de Queiroz e de As Meninas de Lygia Fagundes Telles. Recorda delas?


Moça fica quieta que é tempo de pouco movimento. Há perigo no seu desespero de vida.


Penélope, não esquece do teu marido e dos tantos nãos que te dou hoje. Não aqueles que você mesma se dá. É teu presente. Olha os sinais. São diferentes dos que queria mas possuem "sim". Abre os olhos, mulher.


"Enquanto Ulisses guerreava em altos mares, o pai de Penélope sugeriu que sua filha se casasse novamente. Ela, uma mulher apaixonada e fiel ao seu marido, decidiu que o esperaria até a sua volta. Perante a insistência de seu pai, para não desagradá-lo, Penélope resolveu aceitar a corte dos pretendentes à sua mão, mas com uma condição: casaria somente após terminar de tecer uma colcha. Colcha esta tecida em tricô, para que a noite o destrabalho rendesse".


Quando sairá do lugar, Penélope moderna? Quando terá coragem? Não percebe que o fio se acabou e não há ninguém a lhe esperar?
Brincadeira, brincadeira. É que alguns apegos precisam de nomes. Principalmente, os que são frutos de algum tipo de representação ou de marca de tempo.
Pena que a charmosa não é morena de cabelos curtos.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Conceitualização


"Instead of feelin' bad, be glad you've got somewhere to go

Instead of feelin' sad, be happy you're not all alone

Instead of feelin' low, get high on everything that you love

Instead of wastin' time, feel good 'bout what you're dreamin' of"


Madeleine Peyroux - Instead


É porque escrever na primeira pessoa cansa. Mas, se fosse pra escolher um mutante, Vampira. Tanto a do desenho quanto a do filme. Se bem que até vale a pena ser Jean Grey com Hugh Jackman como Wolverine. Hugh Jackman é um dos homens dos meus sonhos.


Só que negócio de homens dos sonhos não existe. Vampira quebra a cara com o vaidoso fazedor de gelo. Ariel, na verdade, vira espuma do mar porque o tal rapaz se encanta por uma humana e não por uma sereia abestalhada que se sacrifica por ele. É até melhor ser esponja do mar, porque não pensa, parece que nem possui terminações nervosas - não sofre! Foi uma bênção virar esponja! Ai se todo mundo cujo coração fosse despedaçado pudesse se transformar em esponja. Ficar enganchada nos corais bonitos, ver peixes coloridos de um lugar privilegiado, ver tudo azul o tempo inteiro. Nada melhor para curar dor de amor.


E dor e amor não tem nada a ver. Se tiver, é porque algo está pelo avesso.


Bem, por isso que é preciso aceitar a natureza das pessoas substitutas. São esponjas do mar. Vão e vem com a maré, são coloridas com o detalhe de que se desfazem se tocadas com mais força. Pelo menos, é assim que imagino como vive uma esponja do mar. Pessoas substitutas, na descrição feita através de um aprimoramento conceitual com aplicação inspirada numa distorção leve da idéia de Lévi-Strauss em "O Pensamento Selvagem", são pessoas que indicam condições transitórias da vida alheia.


Por exemplo, não fui o primeiro beijo nem primeira qualquer outra coisa na vida de ninguém. Elemento transitório, fica mais ou menos entre a terceira ou a quarta namorada, uma das mais legais (assim espero), mas que não desperta algo mais intenso. Quase uma recordista de foras, o que também é legal. Na brincadeira do Jogo do Contente, um fora soma pontos positivos e pode ser revertido em algo muito bom mais para frente. Uma pessoa substituta aprende a ser mais relax. Como o fora faz parte do cotidiano, a gente só espera a hora de acontecer. Às vezes demora, outras nem tanto. Dos foras que levei, como pessoa substituta que sou, estão (ordem aleatória, quem quiser que faça sua classificação):


1)Foi o timing

2)Sumi porque minha mãe estava com câncer

3)Seu cachorro late muito e sua irmã é chata

4)Oh, tu tem que ir. Vou estudar, tá (menos de meia hora depois que cheguei)

5)Gostar não é a questão

6)Você não se acha preparada para aprofundar a relação

7)Estou peregrinando pela cidade, alguma hora chego na tua casa. Ih, foi mal. Já é outro dia, né?

8)Voltei com minha ex

9)Mandei um buquê de rosas e ela gosta de outro (ela, outra menina, não eu)

10)Eu tô meio bêbado mas acho que gosto de outra, viu? Fique bem, tá? Dorme bem, viu? (várias ligações a cobrar às 3h30 da manhã)


Devidamente treinada na escola dos substitutos, eis minha reação para os respectivos foras:


1) Pois é.

2) Tudo bem, sem problemas

3)Ah, pode dizer que vem estudar aqui em casa, acoberto teu namoro (com outra)

4) Ah, boa sorte! Vou ali tomar um sorvete.

5) Certo. Vou para a Faixa de Gaza, ou para um retiro espiritual ou para a África do Sul, devem existir muitas questões por lá.

6) É porque sou menor de 18.

7) Sem problemas, eu também estava com sono, essas séries da Sony que reprisam de madrugada dão um cansaço.

8) Todo apoio! Acho que temos que ir atrás do amor, acreditar no amor, perdoar. A história de vocês é linda. Caramba! O amor é lindo. Declare-se urgentemente!

9) Ah, mas o que importa é que você demonstrou o amor que sente por ela. Conta mais aí de vocês.

10) Tudo bem. É, vê, a gente se fala depois. Tá certo, não vou ficar mal. Vê, preciso dormir. Toda sorte para vocês. viu.



Com exemplos práticos, pode-se perceber que pessoas substitutas são aquelas desavisadas pelo destino que ficam no meio caminho entre alguma história de amor incrível e surpreendente. Geralmente, seus envolvimenos sentimentais são catalisadores de algum romance intenso, forte e duradouro. Pessoas substitutas são tão acostumadas a isso que até acham bonito. É que é importante ajudar casais apaixonados, de qualquer forma. E, sim, pessoas substitutas acreditam piamente no amor. Nem que seja no amor dos outros.

P.S.: Claro que não levei somente dez foras na vida. Não dava para elencar todos.
(Na adolescência, eu podia jurar de pés juntos que o destino me colocou no mundo para ser coadjuvante do filme da vida das minhas amigas. É até bom pensar assim. Enquanto elas estavam de protagonistas de um filme só, eu era coadjuvante de um bocado de enredos. Eis a explicação do porquê é divertido aproximar casais a la Santo Antônio)

terça-feira, 7 de abril de 2009

Trela




Existem pessoas que nascem sem filtro. Não possuem nada que separe o vão que fica entre o cérebro e a língua. Pensou, falou. Não sei se é transparência ou se é burrice. Aí, para não falar do assunto, precisa esquecer. Devem ser parecidas com girafas, devido ao curto espaço entre cabeça e boca. Existem pessoas que são parentes de elefantes. Memória fabulosa. Pensamento de paquiderme. O que será que dá do cruzamento de elefante com girafa?

Existem assuntos sobre os quais não consigo escrever. Não consigo deixar anotado na agenda rosa, não consigo citar aqui. Um animal mais evoluído chamaria de interdito, ou algo parecido, de Psicologia não entendo. Mas acho que interdito é muito sério e muito grave. Não deve ser isso. Interdito deve ser nome pra algum segredo maior, daquele não se consegue nem falar sobre. Só em raríssimas ocasiões, mesmo sem muito contar. Muita gente deve ter algo assim de tão grande segredo, de tão misterioso, de tão perigoso.

E o que é perigo? Depois, espero poder escrever sobre perigo. Perigo de vida. Desespero de vida. Coisas sempre muito boas.

Bem, todo mundo possui silêncios. Vai ver que é a idade e o tempo que nos fazem falar menos hoje em dia. Vai ver que são coisas escondidas. Uma amiga lembrou da avó dela, que falava das pessoas, às vezes, ficarem escondidas em algo parecido com ostras, para não mostrarem que são pérolas. Deve surgir tanta coisa com pessoas-pérola. E tão poucas com pessoas-ostra. Algo bem comum. Tão comum quanto minha avó me dizer repetidas vezes: “Minha filha, coração é terra sem lei”. Logo, minha avó, pessoa tão passiva, tão medrosa do mundo, para dar corda a sentimento assim.

Pontos de luz, pontos de luz. Enxaqueca retorna. Grande companheira, sempre leal ao meu lado. E ainda não escrevi sobre pessoas substitutas.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Onda


Quando penso em melancolia, lembro do tapete verde felpudo que ocupava mais da metade da antiga sala daqui de casa. Era em cima dele que derramava minhas lágrimas de adolescente insegura (pleonasmo, não é?). É que chove muito hoje. E eu gosto mais de chuva que de dias de Sol. Muito simples o porquê.


Oras, Sol, em Olinda, faz todo dia. Calor é o tema mais recorrente daquelas conversas entre pessoas que se conhecem há mil anos mas possuem intimidade zero e pouquíssima empatia (diferente de simpatia, empatia é um milagre da comunicação que acontece entre dois seres, não muito raro mas tampouco comum). Falar do clima é a estratégia principal para ocupar vazios.


No Carnaval, tomei muito banho de chuva. E lembrava do que minha tia Sheila dizia: "Sinta como se cada gota fosse um pingo de Deus em você". Tomar banho de chuva é lavar a alma.


Lembro do dia em que cheguei do colégio, ainda a me refazer do primeiro fora, e fiquei no batente do portão, sentada, sem pensar em nada. Tirei a camisa e o tênis e deixei a água escorrer. Depois, fiquei girando em torno de mim mesma, de braços abertos. Sabia que não iria esquecer nunca aquela chuva.


Agora, para escrever, precisei acender a luz porque estava escuro. E é lindo ver a água descer pela janela. Imagino logo uma praia. Melhor que praia com Sol, praia com chuva. Um frio. O mar e o céu uma coisa só, indivisíveis. O vento forte.


Bênção


"É melhor ser alegre que ser triste

Alegria é a melhor coisa que existe

É assim como a luz no coração"


Vai ver que quando duas pessoas ficam em silêncio e acham uma maravilha o silêncio entre elas (se maravilha e não alívio), é porque existe bem muita coisa entre uma e outra. Embora existam vezes em que o silêncio entre duas pessoas é um monte de coisa que pede para ser posta para fora mas fica travada. Tem silêncio que é carinho, tem silêncio que é saudade, tem silêncio que é amor, tem silêncio que é medo.


Nada melhor que chuva hoje. Nada melhor.



(O CD novo de Madeleine Peyroux é melhor que o anterior e é excelente para dias de chuva)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Apegos


Aí, encontro, em cima da mesa do quarto de Marilia, Pollyanna. Ela e sua versão mais madura, que nunca terminei de ler porque achei que a seqüência não tinha o mesmo encanto. E eu nem gostava muito dela porque ela era boazinha demais.


Depois de muito tempo, posso assumir o quanto aquele livro faz parte de um monte de coisa até hoje. Acho que nem tenho mais minhas edições, devo ter doado ou trocado faz tempo. É que eu costumava perder livro das bibliotecas. Quem convive um pouco comigo sabe que só não perco a cabeça porque ainda não consegui realmente tirar do pescoço. Porque até isso, de vez em quando, eu tento. Jô Soares diria que é uma propensão natural para o desastre.


Deve ser mal de quem nasce em sexta-feira treza chuvosa, com a mãe convulsionando, o pai sem saber se fazia massagem cardíaca (como falamos de Seu Iranildo, leia-se murro de mão fechada no tórax de mainha) ou se tirava a água de dentro do Chevette, e com um caroço de Corcunda de Notre Dame na testa. Sim, fiz minha primeira plástica com dois meses de vida!! Uau!


Logo na semana em que separo uns outros livros pra doar. Creio ter lido pouco na vida, bem pouco. Mas é que tem livro que marca muito e é um tempão até o apego de um ir embora pra deixar entrar o apego do outro. Tenho problema seríissimo de relacionamento com livros. E quanto engancho num autor, então. Salve, salve, seu Machado e dona Clarice.



Jogo do Contente, Jogo do Contente, Jogo do Contente.



P.S.: Claro que não fiz outra plástica depois!
P.S.2: Tulipas para lembrar das tulipas negras.