terça-feira, 28 de setembro de 2010

Paciência

Primeiro estágio: analisar perfil; equacionar estratégias de abordagem; consolidar imagem; definir identidade e programação visual; benchmarking; estudar mercado e possíveis concorrentes; etc.

Segundo estágio: manter aberto canal de diálogo; atentar-se para possíveis ajustes; reforçar posicionamento;etc.

Aí meu analista insiste, sessão após sessão, no porquê fujo de relacionamentos.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

I´m not in love

Eu gostaria bastante de não ter vergonha de discutir política. De pegar pela mão cada indeciso e empurrá-lo de cima do muro. Se bem que andar em cima de muro é uma grande aventura. Dia desses, vou tirar uma tarde pra fazer isso.

Uma manhã, vou me matricular num curso qualquer só pra matar aula. Vou esperar chover, chover bem muito, pra sair da aula numa carreira só, pra me encharcar e voltar pra sala. Pingando em tudo. Será que assim se vira pingo d´água? Deve ser bom.

Parece bom também pedir algum menino em namoro. Só que não deve dar muito certo. Vou anotar pra fazer na próxima sexta-feira.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Love me tender

Hoje, voltei para casa com o cd de Jeff Buckley no carro. Você nem deve saber que eu gosto disso. Pensei em parar na beira-mar, como eu fazia depois de falar contigo no telefone. Onde tantas vezes falei contigo por telefone. O lugar dos domingos com sorvete. O lugar aonde mais fui quando sentia tua falta. E vou misturar as pessoas do pronome. Nem vem que isso não é hora de me aperrear com o Português.

Você nem deve se lembrar do show que chamei você pra ir comigo. Já passou. É, eu fui. Sim, sim, foi bem bonito. Tinha bonecos de pano que se mexiam e cantavam. É, é uma indireta. Você ligou um dia antes mas preferi não lhe chamar de novo. Pra quê?

Tem bem um continente entre tua mão e a minha. Há três meses, eu achava que demoraria só seis pra gente morar junto.

Não, não diz isso. Não. Para.

É que eu fico muito pequena nesse teu mundo grande.

Não parei na beira-mar hoje. E até achei que fosse chorar quando ouvi Jeff Buckley (eu chorei tanto, tanto já). Só que não saiu nem uma lágrima.

Daqui. Pra frente? Daqui a uma semana, dois anos. Era o tempo que faltava pra gente casar, lembra? Ainda bem que não comprei aquelas louças. Você deve ter tido um pressentimento.

Queria pegar de volta o violão. Sabia que parece que eu sou canhota? Ah, o saca-rolha também. Sim, eu sei que o meu é melhor mas sei lá que vinho ruim você vai abrir. E eu tenho minhas músicas para compor. Por sinal, manda pra mim aquela letra que fiz pra tu. Deletei do meu e-mail depois te enviar. Falava de Carnaval e das ladeiras de Olinda.

É, é sim. Eu também acho que a gente podia nem ter se encontrado. Tá. Eu fui teimosa.

Que bom que estamos em paz.

sábado, 11 de setembro de 2010

Desterro

José Cláudio, pega a letra da música. E percebe que eu menti pra você. Rá! Ass.: Felisberta.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Um por dia

Amei você 18.
Dez oito.
Ou foram vinte?

As senhoras daquele tempo
Que nem era meu
Diziam sempre algo de biscoito e oito.
Pus dez na frente pra dar sorte.

Amei você o alfabeto.
Com algumas letras repetidas.
Escrevi o que você não vai querer saber.

Risquei meu corpo.
Fiz adorno do que nem pensava pensar.

Eu não sabia o que fazer
Sem você por perto.

Fiz tudo pra você não achar certo
E dizer da minha vida:
Perdida.

Encerrei a conversa num beijo.
Antes de você contar
Que amou uma só.
Decorou só um nome.
Viu a flor em só um cabelo.
Num só vestido.

Porque, eu sempre soube.
Disso, eu sempre soube.

Em matéria de amor,
muito, pode ser muito pouco.

Ensaio 2

Moço de calça xadrez
Traz o sorriso de uma vez
E vem pra cá

Deixa os sentimentos no bar
Que é onde eles devem ficar
Numa garrafa de vinho
Tem mais paixão
Se não tiver, ela chega num gole

Ou em dois. Três taças e sou sua.

Porque não sou mulher de pensar muito.
Se penso, fujo.
Se fujo, não volto.

Tudo porque você usa calça xadrez e sente demais
Sente o mundo
Sente fundo
Sente medo

Se eu tivesse medo, seria a Dona Baratinha
Com dinheiro na caixinha.

Não batia carro, não fazia estrago
Com as letras do teclado
Com o teclado dos outros, banhado em vinho.

Se eu tivesse medo, teria paciência
E sorria de complacência
pelas suas calças xadrez.

Eu até gosto delas.
Falo menos
Tira elas.

Porque xadrez nem sei jogar.

Ensaio 1

Se eu levasse rima a sério
Não fazia da letra sacrilégio
Nem do caderno, bagunça
Não deixava amor por aí

Amor por ali
Amor nenhum aqui

S eu levasse rima a sério
Falava palavrão e gesto com as mãos
Deixava de ser boa moça
E assumia a levada
Desentoada
Desgraçada
Feito o que dizem do resto da feira

Mas é só brincadeira
Porque da rima faço graça

Faço piada, piso em cima
Esmago coração
Pra que coração?

Coração mandei correr

sábado, 7 de agosto de 2010

I´m not there

Este exato momento não se trata de uma 20h37 de um sábado à noite. Quem escreve não é uma jovem senhora de 26 anos. Não mesmo. Neste exato momento, nada disto existe.

O que o leitor lerá, a partir de agora, são trechos extasiantes de uma noite de fim de semana.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O que fazer em caso de

Já estava com 16 anos e não via graça nenhuma em plantar árvores. Filhos, demoraria ainda. Precisava começar a pensar no livro. Vai que morre ao atravessar a rua? Morte por distração. Seria bem seu fim.
Foi pesquisar, decisão já tomada.
A livraria organizava tudo por ordem alfabética, não por assunto. E era enorme. Sem fim. Ela ficou deslumbrada com aquele tamanho todo. Depois, pensou que, ao voltar ali, talvez achasse o lugar menor. Então, talvez não fosse o tamanho. Fosse os tons avermelhados das paredes. A impressão vermelha daquilo tudo. Não usava muito vermelho. Então, por quê? Era momento. Deveria ser momento.
Aquela organização não ajudava. Se fosse como tradicionalmente era, também não ajudaria. Como ela poderia saber o que poderia contar? Vivera pouco? Ela precisava de respostas. De um manual, bem indexado (um manual com um bom índice é manual bem indexado? Não sabia). Seria algo assim: "Como viver e saber que viveu de verdade - faça o teste e avalie".
Dez anos se passaram.
Agora. Era urgente. Chovia bastante, o trânsito engarrafado, a vida pelo avesso. A reaparição dele. Do sem nome. Leu por aí que pessoas de boa crença não falam no nome do diabo para evitar aproximação com ele. Ele de demônio, nada. Mas era impronunciável. Ela vigiava pensamento, vigiava esquecimento para não deixar escapar qualquer lembrança solta por aí.
Andava perto do mar pra ver se o sal e o sol serviam de descarrego.
Trancou coração para que ele não se anunciasse por aí. Deixava só uma janela aberta pro caso de alguém, cujo nome pudesse ser dito, pudesse se oferecer para entrar.
Agradecia a chuva e pedia para que lavassem sua alma.
Contou os dias para o Ano Novo e pulou ondas.
Contou os dias para o Ano Novo Maia e para o Dia Fora do Tempo e acendeu incensos.
Bebeu vinho e provou novos pratos.
Virou noites e viu nascer dias.
Foi para todas as festas e ...
Nada. Nada.
Nada.
Papel e lápis em mão, escreveu:
"Caras pessoas que cuidam disto aqui.
Peço um tanto de atenção e um bocado de paciência. Os governos cuidam de explicar o que se deve fazer em caso de desastre. Os bombeiros, o que fazer em caso de incêndio. Salva-vidas, o que fazer em caso de afogamento.
Será que vocês"
Amassou e jogou fora.
O caso dela era muito pessoal e particular. E, cada caso é um caso. Os clichês são verdades que a gente tenta não ver. Às vezes. Afinal, toda regra tem lá sua exceção.
Foi para casa. Quando ficasse mais velha, escreveria o livro. Já era mais velha. Aquilo tudo era demais, oras. Resolveu que precisava viver. Ainda poderia morrer por distração.
Pegou o caderno e rascunhou a primeira frase.
"O que fazer em caso de amor"
(Sem pontuação. Amor não avisa se chega com ponto ou com vírgula. A moça não se arriscaria)

domingo, 4 de julho de 2010

She´s not there

Um coração partido, novamente partido, obriga qualquer uma a deixar o relógio em casa. A tomar um bom vinho, ou um não tão ruim assim. Um coração novamente partido, recentemente remendado e prontamente partido de novo, faz a noite se mostrar. Mesmo que não chegue com lua cheia e as estrelas que fazem um pontilhado sem muito sentido naquele azul celeste tão acolhedor quanto o azul próximo da areia da praia.
Um coração partido torna tudo mais engraçado. E divertido. Por que, afinal de contas, para que serve o desamor se não para nos dar lágrimas de imeditado e risos no porvir? Um coração partido, quanto mais tempo partido, e mais ridículo pelo tempo raro gasto, é uma grande piada.
A menina retornou ao telhado na sexta-feira. Sumiu lá por cima. Não, não se jogou porque desamor exige discrição. Sinal de respeito a si mesma e aos outros presentes. Oras, todo mundo sabe onde dói, não precisa relembrar. Jogar na cara alheia o sofrimento próprio e pedir compaixão é um ato extremo de egoísmo. Desamor é feito amor, apesar de ser sua ausência. Não precisa dizer. Sabe-se.
Primeira frase daquela sexta, à noite: "Não, hoje você não vai para lá. Sem invenção". A porta estava fechada.
Ela abriu. E subiu de novo. No telhado, não ouvia nada, não sentia, não parecia existir. Ali, não havia buscas por respostas. Ela já sabia que seria não. E os "não" não chegam como os "sim". Os sim aparecem de uma vez, não demoram dois anos. Não demoram duas semanas. Não surgem em ligações muito menos em "eu te amo". Os não, que para muitos nem deveriam existir. Sim, eles chegam em epifanias, em revelações, em arroubos desmedidos, em agonias pequenas no estômago, quase como aquelas famosas borboletas do amor. Assim são os não. O não definitivo que a levava ao telhado.
Acharam que ela estava com um, havia ido ao apartamento de outro. Voltara pros braços dele.
A verdade é que ela estava no telhado. Ela, o vinho e o desamor. O tempo todo lá. Sem hora para voltar, sem satisfações do destino. Só, com o céu inteiro por cima dela.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Espera de feriado

Coisa de mulher grávida. Estranho, muito estranho. Como todo o resto e o que há por vir da vida. A questão é: estou com gosto de queijo manteiga na boca. É um mistério.
Desde os 13 anos, sou classificada como pessoa com enxaqueca crônica. Isso diminuiu minha ingestão de chocolate, não me deixa ter bons presságios depois de tomar coca cola e afasta qualquer possibilidade de juras de amor a café. Além, claro, de me deixar a dois palmos de distância de gorduras. Claro que isso não impede meus doces. Afinal, estou três quilos acima do meu peso normal. Talvez, quatro.
Meu pecado é queijo prato light. Que como feito rata. Polenguinho, requeijão. Gouda. Umas das noites mais divertidas no Rio de Janeiro foram com queijo gouda, wii e espumante. Gruyére. É, eu agradeço muitíssimo às vacas. Até porque a maior parte da minha alimentação até agora é à base de laticínios. Se não fossem as vacas, eu já teria partido desta para melhor, morta por pneumonia, como tantas e tantas vezes profetizou minha avó diante da minha negativa em comer feijão (algo que é feio até no nome). Mas, olha lá - não citei gorgonzola, provolone, do reino muito menos manteiga! Tá, coalho - se eu não comesse com regularidade não poderia me considerar moradora de Pernambuco.
Só que ontem eu comi quase queijo nenhum. Hoje, também.
E esse gosto de queijo manteiga na boca!

domingo, 20 de junho de 2010

Dois dias só

JustificarEu sinto falta de romances. Com personagens cheios de camadas, de gente. Com atitudes e enredos que não são possíveis. Eu gosto dos romances porque eles são impossíveis. Por isso que eu gosto tanto do velhinho tartaruga.

sábado, 19 de junho de 2010

Estranheza sem nexo - nexo pra quê? rima rima rima

Dormi bastante durante a semana mas estou esgotada hoje. Talvez o trânsito do Recife, talvez a vontade presa de tomar banho de chuva, talvez minhas finanças, talvez a morte de Saramago ... e os livros dele que deixei pela metade.
Talvez a falta de coragem de assumir que não me dou lá muito bem com esse mundo. Que queria ser uma velha de oitenta anos, sem certezas mais longas que a proximidade da morte. Queria ir pra um rochedo, morar numa casa pequena e simples na frente do mar. Ficar na pedra até me confundir com ela. Queria virar água. Na hora de morrer, quero virar água.
Aí, os parentes que a mim sucedessem ficariam intrigados. Virou choro aquela velha? Virou mar? Virou nuvem?
O que eu mais invejo da água é a habilidade dela de escorrer. Não fica presa na mão de ninguém. Não se segura em canto nenhum. E quando resolve parar em algum lugar, vai além dela - vira um tanto de coisa. Ou vira rio cheio de peixe, ou mar cheio de sal e de peixe mais gostoso que de rio.
Água é um negócio inquieto.
Se me perguntassem no vestibular de que é feito o coração, eu dizia que era de água. É tudo da mesma natureza. Se perguntassem onde fica - respondia que depende da hora.
É tudo muito estranho. Como é morre o homem que inventou Blimunda? Ele nem existe. Como pode morrer?
Eu sei que vou morrer porque cada vez mais eu sei que existo. As contas não me deixam esquecer. O frio na barriga não me deixa esquecer.
Menino, um dia a água do meu coração congela e você não consegue mais se banhar nela. Acha que sou feita de oceano e posso me derramar o resto da vida assim, à toa?
Já tenho 60 anos. Tenho só mais vinte pra ficar de brincadeira. Depois, vou saber de tudo. Sou senhora de extremos, tem isso de mocidade não. É da infância pra velhice.
-- E pra ficar tudo mais estranho, a Alemanha perde pra Sérvia no mesmo dia.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Auto-conhecimento

"Se ele sabe de tudo, por que ainda bate na mesma porta, em busca de outra resposta?", dizia Francisca à Luzenira, que lhe respondia:
"Ele quer é ver se consegue mudar a pergunta"

Frustração

Era para eu escrever a-s-s-i-m
Falar a-s-s-i-m
Com pausa e cuidado
e tempo e espera
e dúvida
e inação
pra ver se assim você gosta de mim

Era para ser um hai cai
Mas eu caí em mim mesma
De novo.

A lógica do absurdo - na falta de um título pra um texto sem lógica

Eu não sei lidar com meio termos. Não sei dizer que não sei em quem votar neste ano. Já mudei meu voto umas três vezes, pensei nos três candidatos. Sim. Nos três. E nem me cheguem com Inglaterra que não compreendo coalizão. Se bem que Brasil. Bem. Brasil.

Estranho. Primeira vez na vida que escrevo Brasil em algo pessoal. Muito estranho. A palavra Brasil é a mais estranha que escrevi em tempos. Porque nunca gostei de ser brasileira. Latino-americana sempre me pareceu mais agradável. A Copa do Mundo que me diz.

Bem, de volta ao meio termo.

Trânsito parado. Por que eu deveria manter o carro ligado e as janelas fechadas? Motor desligado, pra acompanhar de verdade o fluxo. Isso de deixar a chave girada e não sair do lugar - não me convém.
E daí se chove? Se estou na chuva, decerto me molharei. Janelas abertas que não vou ficar no frio do ar condicionado se estou no meio da rua. E daí se pode haver arrastão?

Admirei a namorada do meu amigo que saiu a pé pela rua até achar um lugar mais amistoso. Aproveitei o banho que tomei no estacionamento até chegar ao carro. Achei bonito ver pessoas nas pontas dos pés em fuga de poças d´água. Pensei um bocado na vida.

Que chova de muito. Porque negócio de garoa nem pra molhar serve. Só chateia. Prefiro tumulto. Esses que jogam a brasa de vez. Tiram da rotina.

Até porque não sei lidar com o meio termo: se chove ou se faz Sol.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Copa do Mundo

Ela bebeu o que sobrou do vinho e foi pra casa. Ligou o som do carro mais alto que o costume. Na primeira curva, baixou. Já lhe bastaria seus pensamentos, já era barulho suficiente. Se não fosse tão tarde, compraria mais uma garrafa de vinho. Caso não deixasse as ideias mais claras, traria o sono mais depressa.
O vinho sempre foi um bom anestésico. E uma boa desculpa. Parou no caminho. Outra garrafa e um maço de cigarros. Nunca soube tragar. Só que, era preciso. Álcool e cigarro. Ocuparia bastante o tempo e o vazio do apartamento.
As caixas ainda estavam pelo chão, cheias. Nada da mudança ocupava a prateleira. Roupas pelas cadeiras e cds espalhados no carro. Os livros construiam uma quase estante própria. Empilhava-os em formatos diferentes a qualquer sinal de tédio. Olhava para o celular que lhe servia de relógio. Ligou o computador para ouvir alguma música.
Escolheu o perfume favorito e resolveu borrifar o espaço todo com ele. Girou sobre seus próprios pés enquanto molhava as paredes com aquele cheiro. Seu próprio cheiro. Queria se livrar das paredes e daquilo tudo.
Estava bêbada.
Acomodou os livros num canto, tirou uns casacos da caixa, estirou umas toalhas no chão.
Dormiu.

domingo, 13 de junho de 2010

Santo Antônio, olhai por nós ou "Rome wasn´t built in a day".

De repente, teu cheiro chega. E fica. Minhas mãos, meus braços, meu cabelo. Nem parecem meus. São só teu cheiro. Hoje, talvez eu nem durma direito. É que a minha cama não se encaixa no meu corpo como meu corpo se encaixa no teu. Canto nenhum serve mais pro meu sono, pro meu descanso.
Por que quem sabe se nesse descanso no teu corpo cresce também a minha paz. E se quando você me acolhe, você também fica em paz.
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Desde que acordei, tudo que fiz foi pedir para a chuva se aquietar. Só que ela, a danada, é uma rebelde. E deve ser por isso que gosto tanto dela.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Respira fundo, fecha os olhos e vai

Se eu não pedir você em casamento, tem calma. Se eu não chegar com pulos e saltos e beijos e abraços. Tem calma. Meu coração é daqueles que não conseguem dar conta de tudo de uma vez só. E ele é muito estranho. Mais estranho do que eu mesma pude ser em qualquer dia ou minuto da minha vida. Pequena vida. Menor que meu coração. De verdade. Até porque parece que meu coração ficou gigante, esticou as pernas para abraçar o mundo e se foi.

Meu coração era um tanto inquieto. Não ficava no mesmo lugar embora não desaparecesse de dentro de mim. Há dias que batia bem na palma da minha mão. Ela, coitada, pobre vítima, fica molhada e trêmula. Nem parecia mão. Parecia até outra parte do corpo. Às vezes, meu coração fugia pra lá também. Mas não se demorava muito. Achava que ali não era bem lugar pra ele. Coração é desses seres que se acha importante, que crê fazer girar em torno dele.

Ele nunca ficara perto da boca porque ouviu dizer que é por ali que os outros corações costumam sair. E ele não pretendia deixar de me ter como morada. Pelo menos foi o que alardeou por aí. Sou bem fácil de habitar. Obediente. Atenta às regras dele.

E eu achava que estava tudo bem entre mim e ele.

Que eu poderia sentir sempre cócegas quando ele resolvesse passar pelas minhas pernas. Frio na barriga porque ele quis brincar por lá. Bastaria você falar para mim de paixão (meu coração escuta tudo melhor do que eu). Da minha por você. Da sua por mim. Meu coração faria do meu corpo uma montanha russa inteira.

Só que meu coração...meu coração. Ele pediu férias. Há algum tempo. Achei por bem deixar o danado descansar um pouco.

Um pouco. Não tanto.

Uns dizem que foi visto na Espanha. Outros, cansou da minha impaciência com Copa do Mundo e afins e se desbancou pra África do Sul. Os pessimistas acham que ele morreu. Os otimistas falam em hibernação.

Então, se você pegar na minha mão e eu ficar calada, calada, concentrada, saiba. É pedido que faço pro meu coração voltar. Logo.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Dúvida

Como não entendo a lógica das ruas do Recife muito menos a falta de placas para orientar meu percurso (não adianta pensar em GPS, seria até pior), cheguei atrasada numa reunião do trabalho. Pode parecer óbvio o caminho entre a Agamenon Magalhães e o Centro de Convenções. Mas não é. Nada de seguir em frente o tempo todo.
Foi se desorientar, perdeu o lugar. Fiquei sobre meus inchados pés, num salto nada confortável, morta de vergonha, durante um bom tempo. Ao longe, ele. Um senhor magro, alto, de cabelos finos, olhos já puxados pelo tempo. Camisa branca, sapato branco. Ar de bom aluno e postura tranquila. Um dos melhores amigos do meu pai quase do lado dele. Uma bolsa na cadeira da frente. Tudo isso do outro lado. Precisaria atravessar entre as cadeiras. Eu, meu visual nada formal e minha mochila enorme e pesada. Afinal, tudo que é enorme precisa de peso para justificar seu tamanho.
Tomei coragem.
Sentei bem na frente dele. Eu e a mochila pesada. Dentro dela, além da agenda e outras coisas, meu adorado exemplar do Livro dos Seres Imaginários, de Borges. Não era o dele. O dele, eu tentei autografar quando a filha dele trabalhou com minha mãe. Tirei o livro da bolsa. Comecei a mexer como quem procura algo e não quer achar nada. Quase virei o danado do livro para ver se ele me cutucava e entabulava conversa. Nada. Hora de risos coletivos. Olho para trás. Os olhos puxados do tempo sorriem junto com a boca. Era quase a lua crescente, o gato de Alice.
E eu lá. Falo, não falo. Peço, ou não peço.
"Oi, tudo bem? Desculpa incomodar mas queria mostrar pros meus filhos, sabe? Eles ainda não existem mas vão, um dia. Antes tarde do que nunca e agora com o avanço da ciência, né? as mulheres podem escolher melhor. Até porque divórcio é um nó incrível. Deve ser muito doloroso"
Não. Não peço. Ou peço.
"Gosto muito de Borges. Tenho um livro do senhor. Aquele. Isso. Comprei assim que foi chegou nas livrarias. Saí de Olinda, de ônibus, para ir a Boa Viagem. Dois coletivos cheios sob Sol. Mas tá em casa. O senhor poderia autografar este daqui? Ele é um clássico latino-americano, grande incentivador da leitura"
Melhor. Peço.
Acaba a reunião e Ariano Suassuna sai discretamente. Pego minha agenda e vou resolver minhas coisas, com a mochila pesada e Borges dentro, quietinho, quietinho. Sem nenhum risco. Quem sabe aproveito para dar de presente e economizar algum trocado.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Apenas o fim

Ela relutou bastante até assumir a verdade. Já viveu sim um grande amor. E, diz aos mais próximos, se não casou a culda dela somente. Como toda narrativa que se digne de assim ser chamada, o fim do grande amor de Maria Joaquina teve princípio, meio e fim. É uma história que vale ser contada. Assim, mais ou menos. Isso de amor é tudo tão repetitivo.
Ela e o namorado eram um casal apaixonado com direito a todos os clichês. Os quais não serão aqui publicados porque, apesar de achar que ninguém lê esta joça, vai que o rapaz resolve passar por aqui (e, oras, sexta-feira, chuvinha, tô aqui, tô carente, tô sozinha). Se já namorou e se já terminou, não será olho furado, né? Não posso me queimar a troco de banana. Não, ele não era um banana apesar de seres masculinos bananóides já (deixa para depois, prometi que não me queimaria na fogueira virtual).
Bem. Vamos lá.
Tudo começou quando a moça teve uma brilhante ideia para o Dia dos Namorados! Tchanram! Um mural em cores vermelha e preta com um boneco do infeliz pregado! Uma almofada de coração pendurada e várias fotos e bilhetes. Fotos recortada por ela, que até hoje não sabe se é destra ou canhota. Que lindo! Se não fosse terrível. Resultado do prólogo: choro porque o senhor sensato se recusou a pregar o mural na parede da casa nova dele (e da velha também). Primeiro trauma.
E, para quem quiser saber o fim, caso o leitor inexistente ainda resista depois de tantas enfadonhas linhas, segue abaixo o restante do relato.
Foi triste. Depois de passar dois dias inteiros a ligar para um restaurante de comida esquisita que sediaria o aniversário do amado, a mo nça descobriu pelo twitter que ele já havia feito convite para celebrar a data em outro lugar. E ela foi a última a saber. Triste, frustrada, desesperada, eles brigaram e romperam por algumas horas. Ainda apaixonada, a menina comprou a versão mais nova do FIFA e uns joysticks novos para alegrar o coraçao do garotão. Porém, ainda restava a mágoa.
Ao chegar no novo espaço da festa, ela não se rendeu aos beijos ardentes, suculentos, deliciosos do rapaz. Entregou-se à vodca. Na hora da saudade, temerosa da distância que agora surgia entre eles, Joaquina subiu ao palco. Voluntariou-se para o número "Cantando no banheiro", parte do show daquele sábado. Escovão em punho e touca na cabeça disparou "Fazer amor de madrugada, tchururu, tchu tchururu", seguidos de "Casa comigo, bebê lindo!". Constrangido pelo desafino agudo da menina, o rapaz terminou o aniversário ali.
Incompreendida, desolada, abandonada, Joaquina correu para chorar no banheiro, sem mais cantar.
- Eu botava logo um par de gaia. Foi tudo muito romântico, foi lindo! (ouviu de uma bêbada diabética que injetava insulina no recinto)
- Manda se foder. (disse, direta, uma amiga do infeliz)
Jojô chorava, tremia, sofria, amava.
E o namorado, agora ex, nem se compadecia.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Amar se aprende amando

Drummond estava certíssimo. Atiremos o limão aos peixes que eles sim sabem o que fazem.
(Ou de como uma ideia boa surge na sessão de análise, confunde-se com o tal fluxo e se perde pelo caminho).
Há esperança. Há esperança de que o ato falho retorne e salve estas linhas. Mudaria de nome, poderia ser um ato perfeito, um ato heróico, um ato jurídico completo!
A moça atirava-se à noite nas sextas-feiras para não precisar se encontrar nos sábados pela manhã. Deixava para existir só nos domingos à tarde, na hora do sono. Sentia toda a dor do mundo - essa gente que só complica os passos e insiste em choro. Era uma chata.
Chorava tanto, emocionava-se tanto, admirava tanto. E eram tantos os tantos dela que poderia acabar com a água do mundo. Poderia querer convencer seu povo a guerrear contra o Sol, que teima em iluminar dias nublados, mais adequados ao humor impossível da moça. Na guerra, todos carregariam seus pianos nas costas, poderosas armas para quem gosta de ir à luta de cabeça baixa. Afinal, não se pode sentir a dor do mundo e encarar o próprio de frente. Há de se manter algum respeito.
Juntaram-se todos os peixes do Drummond para atirar limões nesses seres estranhos. Que criam pedra só para reivindicar poesia.
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Mais, aqui.

sábado, 29 de maio de 2010

friday night, saturday morning

Queria que você, senhor, não me dissesse nada. Para que eu também não lhe falasse nada. Sinceramente, acho que minha imaginação deveria se tornar fértil de verdade. Para que eu lhe escrevesse algo que realmente prestasse.
Porque negócio de grande amor é muito complicado e faz parte dos números impossíveis. Aqueles que a gente jura que aprende no colégio. Mistura com a letra "i". De impossível. Calma, eu acredito no grande amor. Só que quando é comigo, bem, é feito bumerangue. Vem em minha direção, bate e volta. Pro infinito. E até nunca mais.
Sim. Eu tô inteira, moço. Só não sei se é de sua intenção vir aqui de novo pra testar os remendos. Acho que você diz que sim, eu digo que sim. Mas existe um grande não no meio do caminho, maior que a pedra de Drummond.
Aí fica aquele quase. Eu saio de um lugar na hora que o senhor moço chega. Você pensa em ir aonde eu estava. E nunca dá um passo. E a gente se perde, se perde.
Não é nem questão de amor. Porque amor, amor....caramba.
Semana passada, notei minha primeira marca de expressão. Uma quase ruga.
Das tantas linhas que acabei de escrever e ao tempo que escrevia, deletava. Não é nem segredo. É porque é melhor dizer nada. Só sei disso. Grande amor, grande amor, você é impossível.
Até quando sonho, sei disso.
--
'
Posso dizer que existem dois impossíveis? Que nem os números "-1" e "+1"?
Tá. Eu sei que todas minhas definições matemáticas acima estão equivocadas.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

E agora?

Apesar ser um ser de paladar ortodoxo, que não compreende comida japonesa muito menos misturas estranhas como queijo coalho com goiabada e demasi doces e salgados, eu gosto de comer. Um bom ravióli de ricota com um vinho tinto frutado, naquele molho de tomate do Don Francesco, por exemplo. Um surubim na brasa com arroz de brocólis. O jantar de Humberto do fim do ano. O wafflle completo do Central dividido quase à tapa com as amigas queridas. Sorvete de fruta com risada. Comida é felicidade. Com amigos, mais ainda.
Só que vim aqui pra escrever sobre uma das minhas palavras favoritas. Ternura. Quando acho algo suave, delicado, doce, considero terno. Um dos meus poemas prediletos, um dos únicos que sei pelo menos algum verso decorado (Pela indescritível graças dos teus passos eternamento fugindo), se chama Ternura.
É que não entendia que significava ternura antes.
Não, não mesmo. Se me explicar, passo pro próximo. Dificuldade. É porque ternura tem som bom. Ternura, doçura, travessura, gostosura...
E, o mais importante, o motivo deste texto! Terno é o que se usa nas propagandas de peru!
E eu adoro peru. A carne é terna, macia.
Opa! Terna não!
É tenra.
Aiai...agora já foi.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

hot, hot, hot

Queria ter a virilidade de um homem. Então, escreveria melhor sobre o que sinto agora.
As desire passes through
Os homens sabem descrever uma mulher. Queria ter metade desse talento para tentar explicar o que ele provoca em mim. Não é paixão. É algo mais instintivo. Tudo bem que precisou bater na minha porta mais de uma vez para que eu pudesse perceber. Depois que entrou, ferrou. Gostaria muito de saber a metáfora, a comparação certa. A malícia para dizer tudo, tudo, tudinho que passava da ponta dos pés ao último fio de cabelo. Mas, haveria malícia, tesão?
The one you felt for makes it seems juvenile
É. Se Alex Turner resolver cantar no meu ouvido, não respondo por mim.

sábado, 15 de maio de 2010

Só para ocupar espaço

O horóscopo disse para prestar atenção nos sinais. Que sinais poderia surgir pra quem ficou o dia todo em casa? Nenhum. Existem dias que valem por uma semana inteira e outros que poderiam sumir, ninguém perceberia a falta deles. A vida é inacreditável.
Existe um oceano dentro de cada um. A claridade varia não de acordo com a profundidade, talvez de acordo com qualquer coisa que escapa. Tudo nos escapa. Ainda bem. Beltrana não procurava certeza em Fulano. Ela não tinha certeza nem pra ela. Não queria a dele pra si. O que ofereceria em troca?
Beltrana até que gostaria de ser daquelas meninas que sabem quando é certo. Que definem. Ela era uma folha ao vento. Às vezes, chegava mais perto do chão e algum grão de areia a prendia à terra. Noutras, ziguezagueava sem rumo. Secava ao Sol aos poucos.
Queria ter sido rosa que moça enamorada ganha de presente. Pra ficar segura na janela, desidratar num mesmo canto, dia a dia. Até morar dentro de um livro.
Era Beltrana sem definição. Por isso, até mesmo por isso, seu nome, nome de qualquer uma.
Não tinha história. Era uma folha, aquela menina.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Intro - o dia mais quente do ano

As gotas de chuva caem aos poucos. Não, não. Caem aos montes. Fica melhor assim? Aos montes é sempre melhor. A chuva era daquelas de muito, de dar frio e ventar. Sabe chuva super forte? Essas são das boas. Dão tanto trabalho que ocupam só pra ela os segundos todos em que elas pingam na gente. Isso se a gente dar sorte de estar na rua. Porque debaixo de telhado é sem graça. Mas e a chuva. A chuva.
Se a gente está com uma chuva pra levar a gente, carregar, soprar areia, lavar a alma, escorrer no corpo, grudar a roupa no corpo, impossível se preocupar com algo mais.
Chuva é um ser tão invasivo, é de uma natureza tão folgada que nem me deixou espaço para falar do que deveria falar: o dia mais quente do ano.

domingo, 9 de maio de 2010

Noite de sexta

Ela queria o silêncio. Queria paz. A sensação de estar na chuva, ensopada. Era um ato de rebeldia. Estar ali, na chuva, a arriscar a saúde. Precisava de pequenos atos de transgressão. Precisava dizer a si mesma que seguia o coração. O que era o coração? Uma vontade. Vontade de ir embora quando lhe desse na cabeça. Vontade de desaparecer quando pudesse.
Entrou no carro, deu partida. Poderia se despedir de tudo, só para ter a sensação de melancolia dos que vão embora. Não, não é melancolia. Os que partem transgridem. São eles que carregam em si o mistério de não se adequarem àquele lugar, àquela gente. Queria sair sem rumo. O problema é que não sabia caminho nenhum. Ou seria solução? Era madrugada. A beira do mar fazia parte do roteiro para ir pra casa. Poderia parar um pouco, caminhar, respirar. Ficar em silêncio.
Precisava de silêncio.
Escreveu pra ele. Sabia da resposta mas o fez mesmo assim. Não haveria resposta. Isso seria tudo.
"É impossível".
Pensou, riscou, reescreveu. Temou pelas consequencias. Quis que ficasse em aberto. Impossível. De tudo que poderia lhe acontecer, haveria o que nunca faria parte do cotidiano. Ela não era daquelas pessoas que confiam no acaso e se soltam no mundo das possiblidades. A menina precisava da concretude para se segurar. Era frágil. Do tipo que adoecia por dentro. Frágil, que se escondia dos outros. Bancava outra coisa, outra versão. Mas era isso.
O possível seria a transgressão. A rebeldia. O contra. O inesperado. O impossível. oras. O contrário estava tão ali, tão perto. E nem continha o charme fútil dos que comparam ódio a amor. Apaixonados são sempre pequenos. Afinal, não se precisa de muito quando se vive sob paixão. Quanto menor, mais aconchego. Aí ficam eles, só neles. Sós.
Não se pode ser jovem por toda a vida. Ele não lhe diria nunca. Ele não lhe diria: nunca. Tatibitate. Tantas vezes, o óbvio é o que assusta. Por isso, damos a interpretar para ver se há algo mais no que nos parece tão pouco ou um nada tão seco. Que escrevesse ela para si mesma. Que repetisse e decorasse. E não se desdissesse desta vez.
Parou o carro. Jogou o papel fora. Queria um sorvete mas era madrugada, era madrugada. Não desceu. Não foi até a rua. Chorou um pouco. Deveria sempre chover nessas horas.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Aula de fotografia

Segundo período da faculdade. Roland Barthes. O punctum. Ou algo parecido. Todos juntos, olhos fechados, leitura de textos. Falação sobre o que surgia à mente. Minha mente é inquieta. Acelerada. Tanto que, mesmo lesa de tanto analgésico tomado para combater mais uma crise violenta de enxaqueca, ainda há quem me chame de elétrica. Isso quando me acho em marcha lenta. Bem. À aula.
O punctum me rendeu refazer o trabalho. Pela segunda vez, refiz trabalho na faculdade. Eu sempre entedia outra coisa. Bem outra.
Bolas pretas, linhas, mudanças de cenário. Quase um videoclipe. Na minha vez de ler: Água Viva, de Clarice. Último livro que li dela. Foi na época de...de. Segundo período. Roland Barthes. Primeira aula de campo. Minhas melhores fotos. Todas montadas. Fui de mochila nas costas. Livro de Clarice (de novo!), lenço fino da minha mãe, um vestido antigo - da minha mãe. Da época que ela conheceu meu pai. Ladeiras de Olinda. Flores caídas, escada e o livro. Grade amarrada com o lenço e moto passante na rua. Fotos. Léo deitado de braços abertos, de bruços, no chão da Igreja. Lívia envolta numa toalha de renda, pra parecer uma santa no meio do comércio da Sé. Fotos. Visão meticulosa, Mariana.
Nada. Imaginação. No zoológico não prestou nada. A foto estava ali, na minha cabeça. Mas os animais não queriam cooperar.
Existem dois mundos. Um de dentro e um de fora. No de dentro, há um riso gostoso, confortável, à vontade. Saído do nada por causa da minha timidez. Né que sou tímida? (Mas não vou me censurar. Afinal, vai tudo sempre sem edição. Nunca revisei nem redação de Vestibular). No de fora. Nada. Nada.
Às vezes, consigo bons modelos, que topam embarcar na minha criação fantástica. Fugir de aula para tomar banho de chuva. Parar ônibus com sombrinhas. Correr por edifícios alheios e viver histórias que não poderão ser contadas -ninguém vai acreditar.
Nas outras - eu deveria usar papel e caneta para escrever, a tecla del. Parar e pensar. Mas imaginação é coisa tola. Qualquer coisa, foge.

domingo, 2 de maio de 2010

Um café turco, por favor

Daqui a pouco faz uma semana que estou com o título acima na cabeça. Café turco, aquele que as pessoas leem a borra pra fazer advinhações sobre futuro. Sempre fui muito inquieta, muito. E totalmente incoerente quando se diz respeito a destino. Vivo entregando ao universo ou coisa que o valha minhas decisões. Uso o universo de desculpa pro que eu quero fazer mas tenho medo. A música que toca na rádio, a recorrência de encontros com uma palavra, por exemplo. Tudo isso tem poder para mudar o caminho da minha vida.
Há alguns dias, basta falar de alguém ou alguém relacionado a este alguém e ele surge na minha frente. Pode ser uma pessoa que eu não vejo há anos. E eu juro que gostaria muito de entender isso.
Tem gente quem diga que eu tenho intuição. Outros que, pelo tanto que me arrisco, sou bem protegida pelo meu anjo da guarda. Semana passada, pratiquei a máxima de que faixa de pedestre deve ser respeitada e fui atravessar sem me preocupar muito com os carros. Uma senhora educada parou. A de trás precisou fazer uma manobra inesperada do tipo que canta pneus e etc.
Quando eu era assessora de Imprensa do HR, o local mais evitado por mim era a UTI pediátrica. Crianças que estão ali há anos e não sabem se retornam para casa. Bebês num esforço extremo de luta pela vida. E tão novos.
Um dia, fui lá e vi uma menina de pouco mais de dois meses. Algo nela mexeu comigo, além da conta. Parei um pouco, fechei os olhos. Ofereci uns dois anos da minha existência para que ela saísse de lá , afinal já estava com 24 anos e isso é um bocado perto de dois meses. Tentei mentalizar da mesma forma que pedia, aos cinco anos, para as sereias me levarem de volta pro fundo do mar porque eu não pertencia, não me encaixava à vida na areia. Dias depois, perguntei da menina. Recebera alta. Tá. Tentei fazer isso de novo, pra ajudar pessoas próximas mas não consegui. Até porque coincidência desse tipo só deve existir uma vez. Gastei a minha.´
Em janeiro, procurei um conhecido para jogar tarot pra mim. Ele me falou quinhentas mil coisas ótimas. A meu ver, existem umas duas que não eram tão ótimas assim. Mas.
É. Eu queria mesmo um café turco.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Até o dia em que o cão morreu

Em homenagem a B. de B. L.
Eu nunca vou esquecer que você chorou feito menino pequeno mimado quando lhe avisei que morreria antes de você. E que deveria ter a obrigação de ficar contente quando fosse embora e não esquecesse de me mandar pro crematório, fazer tudo rapidinho e depois me jogar no mar. Desde A Viagem que quero ser jogada no mar. Não precisa ser de helicóptero. Pode ser durante uma caminhada. Você dizia que eu tinha obrigação era de viver pra sempre, dizia com os olhos cheios de lágrimas e cara de raiva.
Perto de você, eu nem precisava falar muito. Perto de você, eu tinha era super poderes. Conseguia derrubar a energia de um sítio só para não deixar você aumentar a briga. Você sabia que, naquela madrugada, eu sonhei com uma prévia de tudo? Não naquela da briga. Aquela, aquela.
Tudo tinha ficado difícil. Minha doçura ficou desespero e sua firmeza, crueldade. A gente morreu junto. Nós dois. Sem enterro, sem festa. Sem cinza no mar.
Só, agora, daqui, do mundo imaginário das almas penadas, consigo escrever para você.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Último Romance

De acordo com as estatísticas, faltam quatro (ou dois, depende do ponto de vista) relacionamentos para que eu ache O cara. Mas, pode ser que falte nenhum e que eu já tenha perdido o timing. Afinal, já estou perto dos 30. Por que, afinal de contas, como se pode definir um relacionamento? Tentei resumir em namoros aqueles em que o moço em questão conhece meus pais. Porém, e aquele lá que com pouca coisa se fixou na minha cabeça de jerico? Não entra para a conta de afetos importantes? Podem me chamar de estúpida, mas prefiro ser estúpida que colocar amor nas estatísticas.
Porque eu sou menina besta que só se apaixonou uma ou duas vezes na vida, no máximo. E só agora, do alto dos meus 26 anos, com cartão de crédito finalmente liberado, paro para ouvir Los Hermanos e choro toda vez que escuto Jeff Buckley. Porque existem características que assumimos ou deixamos chegar o tempo delas tomarem mesmo conta da gente.

sábado, 17 de abril de 2010

Hans Cristian Andersen e A Pequena Sereia

Celina, Cecília e Lívia, que me conhecem há mais de vinte anos afirmam isso há mais de vinte anos. Nathália, que é minha dupla dinâmica há um ano e meio, deu pra dizer a mesma coisa. Eu acho isso um atrapalho na minha vida. E tento mudar, viu! Sempre. Todos os dias. A cada ideia mínima que tenho, a cada conselho que dou para mocinhas preocupadas e moços pragmáticos.
Por isso, leio e releio e busco novas versões para uma das razões do mal. Sim, sim. Do grande mal. Que eu nego, evito, escondo. Que por causa dele repito interiormente "A vida não é um filme, você não entendeu / Ninguém foi ao seu quarto quando escureceu/.../ Que final romântico, morrer de amor".
Então, é sempre importante lembrar que a Pequena Sereia virou espuma do mar. E o grande mal não é aqui que vou revelar.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O apelo masculino

Às vezes, ela ficava só para ouvir o que ele poderia dizer. Ficou surpresa, daquela última vez. Os elogios ao tom desafiador que tanto os afastara. A deferência à pequena rebeldia, mola propulsora de tantas brigas. Mas, o mais estranho: "E você está certa".
Não foram as palavras entrecortadas por silêncios e fungados que poderiam sinalizar choro, mas eram justificados por resfriado. Não foi a afirmação arrogante "Eu conheço você". Ela ainda tentou argumentar que muito havia mudado. Na verdade, muito havia retornado ao ponto de origem. À calmaria. Não foi a saudade. Foi isso, só isso:"Você está certa".
Toda mulher sofre horrores por nunca estar certa. Nunca ter razão. Razão é domínio masculino, razão, humor, lealdade (não vamos confundir com fidelidade). Itens masculinos. Parceiros recorrem mais ao "eu amo você", "você é linda e única" e etc para amenizar conflitos. Parceiros buscam sexo para amenizar conflitos. O "você está certa" é só sinal de cansaço, uma deixa para comemorar a vitória de Pirro da moça em questão. Um "você está certa" espontâneo, fora de hora, de contexto. Como assim?
Nós, mulheres filhas daquelas lá de Atenas, sempre feito as de C. Buarque, sabemos do que somos capazes pela vaidade. Pelo desespero que a vaidade traz consigo. O medo do esquecimento. Ah, somos ardilosas. Choramos, esperneamos, agimos contra nossos princípios mais elevados.
Porém, vamos lá: "Você está certa" foi demais.

sábado, 10 de abril de 2010

Ficção

E se você descobrisse que por trás deste fino humor que ela apresenta nos salões há uma boa dose de amargura e cinismo. E se você descobrisse que ela está gelada, gelada. Que se deu mais que deveria e, agora, senhora de si novamente, não pensa em correr riscos. Que não há doçura, só a tolerância comum àqueles que já se deram mal, já agiram mal e já se fizeram muito mal.

Se você soubesse que ela pensou ter amado uma vez e achou tão ruim, tão ruim, que não quer nunca mais chegar perto daquilo novamente. Quando ela escuta Hallelujah, principalmente na voz de Jeff Buckley, algumas lágrimas se movimentam. E ela respira fundo para que nada fique fora do lugar. Muda rapidamente para Moon River, na versão de Sinatra, e se acha tão sozinha quanto Holly Bonequinha de Luxo e seu violão na sacada. Sente uns arrepios e segue em frente.

Você vai descobrir que depois que partiram o coração dela, sim, isso aconteceu, ela sem querer retribuiu em gente inocente. Não foi maldade. Nunca é, não é verdade?

Ah, ela não vai se arriscar. Ela não vai se atirar. Não tome ousadia por coragem, tome por fuga. Fuga compartilhada por todos que já se deram mal, já agiram mal e já se fizeram muito mal.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

It ain´t me, babe

Surpresa com flores, música bonitinha, recadinhos carinhosos que se esforçam bastante para se tornar publicizados. O mundo jamais viu amor assim. Beijos apaixonados no meio da rua, em pleno show. Escapadas súbitas, que nunca poderiam ser saídas à francesa, para concretizar urgências de amar. Aquela cegueira típica daquele sentimentozinho baixo. Porque é embaixo mesmo que atinge. Vê se o cérebro, nobre órgão, cairia num papo desses? Jamais!
Querida, ele não vai prolongar na sua vida aquela sensação de centro do universo saudosa em você desde o baile de 15 anos. Até porque já faz tempo, né? Você pode até achar que ele vai te trazer isso no dia do casamento. Ah, aquele vestido branco e todos aqueles a sua espera, ansiosos para ver seu sorriso triunfal. "Oh, eu SOU A MULHER DA VIDA DELE". Minha amiga, pense bem. É só questão de arranjos formais, contratuais, algumas coincidências e oportunidades bem utilizadas de tolerância. Você nem sabe mas ele chorou dia desses porque era Dia dos Namorados e a ex dele estava com outro. Ele não era mais O HOMEM DA VIDA DELA. Fazer o quê, né mesmo? C´est la vie.
E você, gostosão! Jura que ela nunca tinha se arriscado tanto, ousado tanto, gostado tanto antes. Não sabe você que ela faz isso desde antes dos vinte. Com a maior facilidade. Ela achava que amor era um conceito e outras coisas eram outras coisas. Ah, não se fazem mais mulheres tal qual antigamente. Aproveite, oras! Nada como rir da intimidade alheia. Embora seja de sua senhora com outro distinto cavalheiro em tempos não tão longíquos.
Se escrevo com tantos nãos é que sou fã de limites. De imposições, distanciamentos. Liberdade precisa de espaço. E Raul já dizia que amor não existe sem ser libre. Mas, vamos lá, sem descambar para bagunça porque complicaria tudo demais. Então, me dê amor nas entrelinhas, nos silêncios, em boas gargalhadas. Palavras e barulhos estragam tudo. Se eu disser amo você, acredita não. Diz "que pena, era tão melhor antes". Vou ficar caidinha. Toda encantada.
Por isso, amor da minha vida, homem da minha vida, saiba: há de haver romantismo. Mas há, sim, e como, há de haver realidade.

domingo, 4 de abril de 2010

Ah, a maternidade

Eu sou ariana com vênus em áries. Braba, impulsiva, pra ontem. O que poucos sabem é da força do meu ascendente em câncer. Ou seja, quero ser mãe. Mais que muita coisa nessa vida. E com a proximidade dos trinta, sem menor previsão e disposição para casamento, apressei de alguma forma a mãe natureza. Nada que o capitalismo não possa fazer por qualquer outra pessoa com algum desapego material. Comprei meu filho. Meu Benjamim.
Só que minha irmã e meu adorado cunhado estão com muita vontade de casar e procriar. No impedimento, arranjam um cachorro também. Ser mãe e tia ao mesmo tempo não é fácil.
Benjamim é um gentleman. Altivo, de porte. Só ainda não completou o ciclo de aulas de educação sanitária. E Chico é um louco, um poodle hiperativo. Juro que não é pleonasmo. Era até pra terminar este texto daqui a umas dez linhas mas Chico está enfocando Benjamim, que acabou de fazer várias necessidades pela casa. A família me chama.

terça-feira, 16 de março de 2010

Oito de março - 1

Um dia de diferença de nascimento. Um dia.

Eu, menina classe média, estudante de pós-graduação, sem filhos, solteira. Uma dezena de namorados, praticamente. Primeiro deles - por volta dos 14.

Ela, moradora de periferia, estudante de curso do governo, dois filhos, casada. Um único namorado. Virou marido. Por volta dos 14.

Aí me disse, com naturalidade, de quem sabe achar paz na vida, a qualquer custo. Sou soropositiva, sabe? Primeira vez que ouvi tão perto. E ela queria contar pro mundo.
Os filhos não tem. E ela estava feliz.
Dei um abraço forte. Pra ver se a serenidade dela passava pra mim.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Fita amarela

Achava a moça que o coração dela havia morrido antes dela mesma partir. Só haveria restado o corpo, e corpo sem coração precisa ser usado bastante para dar continuidade ao andamento do sangue. Pernas, coxas, braços, tudo isso precisava manter-se irrigado.
E foi tanto esforço, tanto cansaço, tanto resfolego, que, de hora pra outra - coração dá sinal de que pode bater de novo. Curioso, né?

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres

- Alô, senhora Mariana Maciel?
- Alô.
- Ligamos porque recebemos sua opinião sobre nossos produtos. A senhora poderia explicar melhor?
- Posso sim. É que deveria ter mais variedade de bombons e chocolates, semana passada faltou sete belo e chocolate surpresa e biscoito são luiz de chocolate também.
- Muito obrigada pela sua opinião, senhora Mariana. Estamos à disposição.

Isso aconteceu há quase vinte anos, mas poderia ter sido ontem. Ou não. Afinal, já tenho anos nas costas de terapia cognitiva e uns seis meses de análise freudiana. Porém, uma vez chata, sempre, eternamente, prazeirosamente, chata.
Ser chato é uma arte. Quantos bilhetes escrevi naquele supermercado até ligarem para minha casa? Vários! Por semanas. Ser chato é ser um persistente. Um guerreiro. É quase um ato de heroísmo, ainda mais em tempos de gente cheia de fru frus e não sei quês, em que toda menina tem cara de boneca e a maior moda é ser legal - a história de ter atitude ficou pra trás, viu! Aviso logo!
Para chegar no meu nível de chatice, foi preciso muito esforço. Quantas vezes meus foras soaram incompreensíveis e caí no ridículo? Quantas vezes reclamei na fila e estava enganada? Aí, bem, era um gasto de energia. Ombos travados. Ser implicante dá um trabalho. Enorme, imenso, incomensurável (tem palavra mais chata que incomensurável? só nexo, creio).
Comecei a deixar pra lá. Ri da gracinha do garçom que falou que a lagarta estava no meu prato porque era vegetariana e gostava de alface tanto quanto eu. Deixei pra lá quando deram em cima de namorado meu na minha frente, só me retirei para não passar constrangimento. Comecei a tirar por menos, por menos, por menos.
Mas peraí - aturar surfista que ama natureza montar barraca em local de desova de tartaruga marinha?
Foi demais pra mim. Liberei a chata novamente.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Alesamento

A equipe de House aplica eletrochoque para curar um paciente que infartava por causa de um coração partido. Lembrança esquecida, rapaz salvo. Um filme aí mostrava o difícil desapego da menina em abandonar o namorado imaginário para ficar com um de verdade.
E lembrei que já há um tempo, me apaixono toda semana. Não necessariamente por alguém. Me apaixono por uma música, um vocalista de uma banda, uma cor, um vestido, uma comida. Um filme. Algumas paixões duram um bocado. Minha Vida Sem Mim e A Vida Secreta das Palavras. (Por quais palavras sou apaixonada?).
Hoje, eu estava triste. TPM e ressaca pós carnaval com virose pesada. Precisava daquela vivicidade que só a paixão traz. Paixão, de vez em quando, pode ser um ato de rebeldia. Uma revolução. Uma virada. Precisava me sentir apaixonada, inconsequente. Precisava sentir que quebrava regras por algo, por um sentimento.
Apesar de todo mal estar, do arrepio de frio, dor de cabeça, vômito e diarréia dos dois últimos dias. Estou viva! Muito viva! Queria gritar.
- Moço, um sorvete de duas bolas. Não, três. Duas de chocolate e uma de cajá.
Entrei no carro e tomei tudo até o fim, de frente pro mar, com o CD de Norah Jones bem alto. Acho que nem era paixão. Para deixar calminha assim, tinha que ser amor.

Romantismo

Sempre vi apenas benefícios em morar sozinha. Meu maior desejo desde criança. Botava placa no quarto exigindo privacidade. Escrevia manifestos de independência. Odiei a Disney porque queria o dinheiro para comprar meu apartamento. Para quê carro se o melhor era ter um espaço só meu. Para ficar sozinha, com o silêncio de companheiro fiel.
Até passar mal de madrugada, ter que limpar vômito, para depois vomitar de novo, limpar de novo. Mudar de quarto porque não queria repetir o processo pela quarta ou quinta vez.
Deve ser mais fácil morar junto com alguém. Acho que é por isso que as pessoas arrumam namorado e vão dividir uma casa.

Felicidade

O jogo do contente é umas das principais, caso não a principal, lição do clássico para meninas Pollyanna. Frente às adversidades, a heroína que dá nome ao livro busca sempre um lado enriquecedor, belo, positivo. Os livros de auto-ajuda atualizam de alguma forma esse modo de pensar. Alguns colocam no próprio ato de pensar as ferramentas essenciais para nos aproximarmos da felicidade e do sucesso: amoroso, pessoal, profissional. Agora, depois da introdução, vamos refletir sobre uma das maiores preocupações femininas durante esta época do ano. Ela, a famigerada, detestada, aterrorizante celulite.

Não é intenção explicar causas, consequências, dicas de tratamento e exercícios milagrosos para lidar com a maldita que ocupa nossas mentes no verão bem mais que a tendência neon, as colorações verde e cinza de esmalte, a vacina para a gripe A e o novo hit da Lady Gaga. A responsável pela aparência de casca de laranja dos derriéres femininos precisa ser encarada como muito mais que isso. Não, queridas, não vale pensar “Ah, a Juliana Paes também tem. Beyoncé também tem”. Mais que famosas, elas possuem medidas que desculpam qualquer falha na pele. Pobres mortais como eu e você, leitora, não dispomos de mais de 100 cm de quadril arrematados por menos de 70 cm de cintura. Padrão internacional de gostosura e não de fofura.
Então, qual o grande segredo e, o mais importante, o que Pollyanna e auto-ajuda têm a ver com celulite? Simples! Se cada ruga envergada em nossa pele é uma demonstração de que foram tantas emoções que vivemos, cada celulite é sinal de uma grande felicidade experimentada. E mais. Experimentada através de duas das maiores fontes de prazer acessíveis aos seres vivos: o ócio e o paladar.

Funciona assim: um grupo de amigas se encontra no bar para fofocar e, se derem sorte, paquerar. Estão cansadas do trabalho, angustiadas pelas tarefas que não conseguem concluir nunca, com a falta de tempo para si mesmas e a distância temporal entre o dia atual e as sonhadas férias. Qual a melhor saída? Perder tempo falando mal do mundo e como a vida é cruel e o trânsito estafante? Destroçar a moral masculina, afinal os homens são egoístas, imaturos e cruéis? Discorrer sobre se a família deveria ou não lançar o livro póstumo do Nabokov, o autor de Lolita, e cansar mais ainda os neurônios? Nadinha. O mais adequado é iniciar uma meditação cujo mantra será: humm, hummm. A-há! Acertou em cheio quem chutou que o salvador da noite seria um doce. Sugestão: Um waffle com sorvete de creme e calda de chocolate. No capricho e com a massa crocante, por favor.

Senhoritas, não pensem que é consolo de mulher feia. É, simplesmente, a comemoração de nosso descompromisso com a estética photoshop atual. É, digamos, um enfrentamento, um ensaio de revolução. Agora, não serve se a estratégia for utilizada como desculpa de menina amarela. É algo que precisa ser verdadeiro, honesto. Profundíssimo, que não sai nem com superdrenagem linfática.

Então, garotas, cada celulite é a prova material de horas a mais de descanso e silêncio distante da rotina espartana das academias. É a marca indelével de tortas e fricotes deliciosos com as comadres. Vamos sentir o Sol, sem canga, sem medo, sem vergonha. Quando um traseiro esculpido a traço de cartunista passar na nossa frente, vamos fazer uma oração pela infeliz moçoila. Ela não sabe como é bom se parecer um pouco com uma casca de laranja.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Hiperatividade momesca

Quinhentos mil planos românticos para um 14 de fevereiro - Valentine´s Day - que cai num domingo de Carnaval. Quase comprei uma fantasia bem bonita de Colombina. Fiquei com a de Espanhola porque usar branco com muito filó pra descer e subir ladeira, logo eu, a menina do impossível, não daria certo.

Não pude ir além. Depois de notar um amassado misterioso (ô estacionamento de shopping!), arremessar uma escada na casa do vizinho, destelhar um pouco (viu, mãe) a lavanderia no arremesso da escada, ter sintomas de insolação, ser rejeitada pela minha gata, não haveria como pensar em Valentine´s Day.

Agora, que já terminou o tal 14 de fevereiro, distante da minha gata, com o gato filhote silenciado na casa do vizinho, fico a imaginar o homem da minha vida. Penso, penso, penso, penso.

E só dá vontade de:
- fazer paródia da música da gente alheia
- planejar minha festa de aniversário
- tirar do papel a banda com as meninas
-aprender a tocar qualquer coisa pra poder montar a banda
- projeto do mestrado
-email para não sei quem
- que filme posso ver na terça
- Semana Santa
- fazer um blog de verdade, com textos baseados nos assuntos seríissimos de mesa de bar à base de H2Oh e waffles.

É melhor dormir.

Putz! Esqueci o começo da paródia da hora do Acho é Pouco! Lembrei!!!!!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Segredo maior do universo!

Implicante que sou, ariana que sou, adoro extremos. Opostos, radicalismos. Não gosto de meio termos, encimas do muro. Ou Legião ou Barão Vermelho. Ou Michael Jackson ou Madonna. Meu coração é pequeno o suficiente para ter que escolher. Cabe todo mundo não, ora essa. Né casa de Mãe Joana.
Já dizia a minha avó: "Coração é terra sem lei". E quando menos se espera, aparece um sem terra para reivindicar terra fértil sem cultivo. Finca bandeira, levanta acampamento. Com pouco alarde. Só uns timbres soltos. Não de quem entoa grito de guerra. Um assovio destraído de quem não se dá conta do risco que é pro dono da terra tomada.
E se demorar séculos para dar frutos, o assentamento vai embora? Como fica a grama sem o assovio? Sabe aquela lenda da menina do pé de figo? Tinha algo a ver com a voz da heroína?
Até que BV não é tão tenebroso assim.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Porque eu não gosto de parque temático

Eu não sei ser estrangeira. Ser de outro lugar no lugar do outro. Não sei ter cabelos pintados e curtos em lugar de gente que não sente nem frio. Não sei falar no diminutivo quando todos marcam os erres da língua. E falam arran para lembrar que disseram sim. Não é o sim que me incomoda. É a lembrança recorrente de que sou de fora. Me pulverizem entre si, me esmiucem e joguem feito pó sobre vocês. Mas, não, não me façam sentir que sou de fora. Sou feito peixe. Preciso ficar dentro da água. A areia é branca mas é seca e não me deixa respirar. Quero ser gente. Quero ser igual. Feito pó que sempre é do mesmo jeito. Dá um trabalho tão grande separar um pó do outro que só quem tem somente isso da vida pra fazer faz. Me abraça no escuro e me deixa calada. Pra eu voltar pra um lugar que possa ser meu e que possa me ter. Preciso que me tenham. Ser de algo, de alguém, de algum lugar. Pra ganhar chão. Eu não sei ser estrangeira. ´

Só sei ficar misturada, não identificável, sem ser percebida, sem ser notada. Escondida. Intocada. Reclusa. Eremita. Mas, me abraça no escuro. Pra eu ser tua só um pouco.

domingo, 24 de janeiro de 2010

pra nao perder a ideia

Estava com oitenta anos e resolveu que precisava espairecer da vida. Fugir do mundo. De ser adolescente uma vez. Poderia ser a ùltima ou a ùnica. Era preciso. Acertado. Necessàrio. Pontual. No horàrio certo. Afinal.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Sonhos muito intranquilos

Havia uma geladeira dessas de loja, branca. Na metade do meu lado, colorido - feito chicletes que vendem em vidros de moeda - dos filmes de Pluto e Mickey e de locadoras de fita (ou DVDs, como queiram). Do dela, preto e branco, quase em tons de cinza, na verdade. Ela usava pérolas escuras no pescoço. Uma amiga em comum totalmente não identificável nos apresentou.
Tanto eu quanto ela estávamos em busca de algum doce maravilhoso de chocolate. Alguma felicidade momentânea, intensa, verdadeira e que não daria chance para não se realizar.
- Você gosta muito da palavra fada, não é?
- É, é verdade. Gosto porque me lembra isso, isso e aquilo.
- A mim também. Vamos marcar um café pra conversar?
- Claro! Mas tem que ser até sexta, porque vou viajar e ficar fora do mundo por uns dias.
- Vamos nos falar até lá.
Era ela. A Lispector. Pra tomar café comigo. Não, eu não iria. Que poderia lhe dizer?

Certa noite acordei de sonhos esquisitos

Ela estava com olhos já vermelhos de praia, vinho e sono. Parecia afoita e parecia responsável. Um misto típico das meninas um tanto quanto certinhas que beberam um pouco além da conta. Uns dez anos mais nova. De férias. De brincadeira.
Sabia o caminho. Passou na frente de onde ela estava. Onde se hospedou quando chegou ali pela primeira vez. Sabia o caminho. Onde terminava. Como começava. Ela caminhava à noite em busca de mais. Nem que fosse mais uma caminhada para relaxar e dormir.
Ele sabia o caminho. Onde começava. Como terminava. Que ficasse por ali.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Dei uma de enxerida

http://blogs.diariodepernambuco.com.br/alvorocadas/?p=217#comments

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Infatuation

Não sei se são os cabelos assanhados. Os olhos que não dizem muito. Quase caídos. Um tanto esnobes. Um ar blasé que poucos homens possuem. A fala pausada, mastigada. O ar gentil e indiferente. Como pode haver gentileza na indiferença? Questão de prática, deve ser. O ar de menino que lê livros. Ou será que é por causa dos óculos escuros. Da voz?
Paixão não se explica.
Será a voz pausada ou os óculos escuros ou o ar blasé? A muralha que não me deixa ver se você sente o que diz ou o que faz?
(Paixonite por Alex Turner, quando ele está no The Last Shadow Puppets)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A menina nasceu bem menina. Do tipo que dá chiliquinhos, gosta de enfeitos e chora se não for tudo rosa ou lilás. Passou a gostar de vermelho aos 16 anos. Depois da fase negra dos 15. Era mulherzinha. Mesmo depois da ausência dos salões de cabelo, do ano que passou a usar ela mesma as tesouras. A cortas calças e ser contra capitalismo. Até que descobriu que com o capitalismo se sentia melhor. A culpa foi embora com o tempo. E bem, já estava na hora de se assumir. M-E-N-I-N-A. Com seus romantismos e fricotes. Laçarotes e borbados. Seguia pela rua, sacolas à mão, poucas ideias na cabeça.
Ah, que seria da vida sem sarcasmo? Mulher bem cuidada e inteligente fica chata de tão perfeita. Deixa nossa menina ser um pouco burra. Deixa ela brincar de ser oca.
Vai que lhe oferecem um recheio melhor? Às vezes, o superficial é tão mais honesto e sincero que os queixumes do mundo. A lista de feira, o sofrimento da mulher que tinge a sobrancelha ao lado com seus filhos irrequietos.
Mais vestidos para nossa menina. Que ela seja um pouco menos ela nesses dias.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Ai, moçoilas

Há de se viver e de se morrer sempre. Tão clichê. É que, às vezes, a gente esquece o óbvio. Feito a moça que esqueceu o amor porque se feriu. Achava, a pobre, que estava num conto de fadas e que, no máximo, tiraria uma cochilada feito aquela outra lá que furou o dedo na roca. Se bem que, sabe-se lá que roca foi. Bem, ela se feriu. Virou triste.

Aí descobriu que tristeza não serve para nada. É de uma chatice sem fim. Nem dá dó. Só irritação. Era mais conveniente ser alegre. Mais educado, pois então.

Saiu a contar arco-íris e a inventar felicidades. Mas, amor, amor. Esquecia como era. O mais famoso e curioso - desses de paixão, de choro, de grito, de pulo, de bilhetes. Arranjou mais o que fazer entre jardins, gatos, muita gente (e não uma só). Amor? Vinho, creme de cassis, livros e música - um pouco de jazz.

Será que ela esquecia porque estava ali dentro dela? A gente esquece do óbvio. Muitas vezes.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Doçura

(Foi nem o filme, já visto)

Moço, tem como não. História de gente que completa gente. E pessoa lá é quebra-cabeça? E se fosse assim, seria melhor misturado. Bagunçado. Para sempre ficar com pedra que falta, peça que não encaixa.
Não, meu senhor, para que você quer se encaixar? Vai se cansar. E vai precisar se gastar mais ainda para se perder e depois se meter a se achar de novo. Moço, o senhor já está encaixado. É, nisso tudo. Para que mais? Dá preguiça. Sim, preguiça é bom. Mas, demais, dá enfado.
Esta conversa me dá tédio. Vai lá e diz pra ela, logo. Despeja tudo feito rio em maré. Ou ela se afoga, ou lhe engole feito esfinge.
E quando houver um sentido, uma direção, um caminho, vocês atravessam de mãos dadas. A vida acontece e vocês se perguntam ou ela se pergunta ou você se pergunta.
É agora ou não?
De para sempre, meu caro, só o instável. Só o instável é o contínuo. O eterno. Se não fosse, assim, no caos, era só morte.
Mas é vida. A vida. Sempre. Bruxa. Mulher sem razão. Homem sem freios. Criança sem crueldade. É a vida, meu senhor. Aceite, vá, entenda, não.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Indecência

Ela andava por aí, com tudo de fora. Tudo que pensava, dizia. Tudo que pensava, fazia. Moça sem filtro. C0m os medos ali, na palma da mão, pra todo mundo ver. Colocava muita maquiagem pra ver se disfarçava. Estava tudo ali. O vazio também.

Se tudo estava do lado de fora, que fazer com o que precisava se guardar por dentro? Não havia mais nada do lado de dentro. Um oco, só. Não era feito o que Blimunda poderia ver, lá nas coisas de Saramago. Ela falava demais, contava demais, se apaixonava demais. Tanto e tanto, que muitas vezes era só silêncio e sentimento de nada.

De nada.

Não somos assim todos nós. Não somos assim todos nós?

Desejos

- Ei, menina! O que você quer em 2010?
- Ser entrevista.
- Por quê? Pra quê?
- Pra dar respostas, né?
- E precisa de entrevista pra isso?
- É nada. É pra mentir!
- Pra quê, menina?
- Pra ser outra, outra menina, outra vida. Inventar qualquer coisa e dar resposta sem cabimento.
- Pra quê?
- Pra dar susto.
- De quê?
- De gente. Querer ser gente.
- Pra que tudo isso, menina?
- Porque é preciso se explicar, é preciso se dizer, é preciso se explicar.
- Explicar o quê?
- Que a gente existe. Pra poder dar razão pro que a gente existe.