quinta-feira, 22 de abril de 2010

Até o dia em que o cão morreu

Em homenagem a B. de B. L.
Eu nunca vou esquecer que você chorou feito menino pequeno mimado quando lhe avisei que morreria antes de você. E que deveria ter a obrigação de ficar contente quando fosse embora e não esquecesse de me mandar pro crematório, fazer tudo rapidinho e depois me jogar no mar. Desde A Viagem que quero ser jogada no mar. Não precisa ser de helicóptero. Pode ser durante uma caminhada. Você dizia que eu tinha obrigação era de viver pra sempre, dizia com os olhos cheios de lágrimas e cara de raiva.
Perto de você, eu nem precisava falar muito. Perto de você, eu tinha era super poderes. Conseguia derrubar a energia de um sítio só para não deixar você aumentar a briga. Você sabia que, naquela madrugada, eu sonhei com uma prévia de tudo? Não naquela da briga. Aquela, aquela.
Tudo tinha ficado difícil. Minha doçura ficou desespero e sua firmeza, crueldade. A gente morreu junto. Nós dois. Sem enterro, sem festa. Sem cinza no mar.
Só, agora, daqui, do mundo imaginário das almas penadas, consigo escrever para você.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Último Romance

De acordo com as estatísticas, faltam quatro (ou dois, depende do ponto de vista) relacionamentos para que eu ache O cara. Mas, pode ser que falte nenhum e que eu já tenha perdido o timing. Afinal, já estou perto dos 30. Por que, afinal de contas, como se pode definir um relacionamento? Tentei resumir em namoros aqueles em que o moço em questão conhece meus pais. Porém, e aquele lá que com pouca coisa se fixou na minha cabeça de jerico? Não entra para a conta de afetos importantes? Podem me chamar de estúpida, mas prefiro ser estúpida que colocar amor nas estatísticas.
Porque eu sou menina besta que só se apaixonou uma ou duas vezes na vida, no máximo. E só agora, do alto dos meus 26 anos, com cartão de crédito finalmente liberado, paro para ouvir Los Hermanos e choro toda vez que escuto Jeff Buckley. Porque existem características que assumimos ou deixamos chegar o tempo delas tomarem mesmo conta da gente.

sábado, 17 de abril de 2010

Hans Cristian Andersen e A Pequena Sereia

Celina, Cecília e Lívia, que me conhecem há mais de vinte anos afirmam isso há mais de vinte anos. Nathália, que é minha dupla dinâmica há um ano e meio, deu pra dizer a mesma coisa. Eu acho isso um atrapalho na minha vida. E tento mudar, viu! Sempre. Todos os dias. A cada ideia mínima que tenho, a cada conselho que dou para mocinhas preocupadas e moços pragmáticos.
Por isso, leio e releio e busco novas versões para uma das razões do mal. Sim, sim. Do grande mal. Que eu nego, evito, escondo. Que por causa dele repito interiormente "A vida não é um filme, você não entendeu / Ninguém foi ao seu quarto quando escureceu/.../ Que final romântico, morrer de amor".
Então, é sempre importante lembrar que a Pequena Sereia virou espuma do mar. E o grande mal não é aqui que vou revelar.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O apelo masculino

Às vezes, ela ficava só para ouvir o que ele poderia dizer. Ficou surpresa, daquela última vez. Os elogios ao tom desafiador que tanto os afastara. A deferência à pequena rebeldia, mola propulsora de tantas brigas. Mas, o mais estranho: "E você está certa".
Não foram as palavras entrecortadas por silêncios e fungados que poderiam sinalizar choro, mas eram justificados por resfriado. Não foi a afirmação arrogante "Eu conheço você". Ela ainda tentou argumentar que muito havia mudado. Na verdade, muito havia retornado ao ponto de origem. À calmaria. Não foi a saudade. Foi isso, só isso:"Você está certa".
Toda mulher sofre horrores por nunca estar certa. Nunca ter razão. Razão é domínio masculino, razão, humor, lealdade (não vamos confundir com fidelidade). Itens masculinos. Parceiros recorrem mais ao "eu amo você", "você é linda e única" e etc para amenizar conflitos. Parceiros buscam sexo para amenizar conflitos. O "você está certa" é só sinal de cansaço, uma deixa para comemorar a vitória de Pirro da moça em questão. Um "você está certa" espontâneo, fora de hora, de contexto. Como assim?
Nós, mulheres filhas daquelas lá de Atenas, sempre feito as de C. Buarque, sabemos do que somos capazes pela vaidade. Pelo desespero que a vaidade traz consigo. O medo do esquecimento. Ah, somos ardilosas. Choramos, esperneamos, agimos contra nossos princípios mais elevados.
Porém, vamos lá: "Você está certa" foi demais.

sábado, 10 de abril de 2010

Ficção

E se você descobrisse que por trás deste fino humor que ela apresenta nos salões há uma boa dose de amargura e cinismo. E se você descobrisse que ela está gelada, gelada. Que se deu mais que deveria e, agora, senhora de si novamente, não pensa em correr riscos. Que não há doçura, só a tolerância comum àqueles que já se deram mal, já agiram mal e já se fizeram muito mal.

Se você soubesse que ela pensou ter amado uma vez e achou tão ruim, tão ruim, que não quer nunca mais chegar perto daquilo novamente. Quando ela escuta Hallelujah, principalmente na voz de Jeff Buckley, algumas lágrimas se movimentam. E ela respira fundo para que nada fique fora do lugar. Muda rapidamente para Moon River, na versão de Sinatra, e se acha tão sozinha quanto Holly Bonequinha de Luxo e seu violão na sacada. Sente uns arrepios e segue em frente.

Você vai descobrir que depois que partiram o coração dela, sim, isso aconteceu, ela sem querer retribuiu em gente inocente. Não foi maldade. Nunca é, não é verdade?

Ah, ela não vai se arriscar. Ela não vai se atirar. Não tome ousadia por coragem, tome por fuga. Fuga compartilhada por todos que já se deram mal, já agiram mal e já se fizeram muito mal.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

It ain´t me, babe

Surpresa com flores, música bonitinha, recadinhos carinhosos que se esforçam bastante para se tornar publicizados. O mundo jamais viu amor assim. Beijos apaixonados no meio da rua, em pleno show. Escapadas súbitas, que nunca poderiam ser saídas à francesa, para concretizar urgências de amar. Aquela cegueira típica daquele sentimentozinho baixo. Porque é embaixo mesmo que atinge. Vê se o cérebro, nobre órgão, cairia num papo desses? Jamais!
Querida, ele não vai prolongar na sua vida aquela sensação de centro do universo saudosa em você desde o baile de 15 anos. Até porque já faz tempo, né? Você pode até achar que ele vai te trazer isso no dia do casamento. Ah, aquele vestido branco e todos aqueles a sua espera, ansiosos para ver seu sorriso triunfal. "Oh, eu SOU A MULHER DA VIDA DELE". Minha amiga, pense bem. É só questão de arranjos formais, contratuais, algumas coincidências e oportunidades bem utilizadas de tolerância. Você nem sabe mas ele chorou dia desses porque era Dia dos Namorados e a ex dele estava com outro. Ele não era mais O HOMEM DA VIDA DELA. Fazer o quê, né mesmo? C´est la vie.
E você, gostosão! Jura que ela nunca tinha se arriscado tanto, ousado tanto, gostado tanto antes. Não sabe você que ela faz isso desde antes dos vinte. Com a maior facilidade. Ela achava que amor era um conceito e outras coisas eram outras coisas. Ah, não se fazem mais mulheres tal qual antigamente. Aproveite, oras! Nada como rir da intimidade alheia. Embora seja de sua senhora com outro distinto cavalheiro em tempos não tão longíquos.
Se escrevo com tantos nãos é que sou fã de limites. De imposições, distanciamentos. Liberdade precisa de espaço. E Raul já dizia que amor não existe sem ser libre. Mas, vamos lá, sem descambar para bagunça porque complicaria tudo demais. Então, me dê amor nas entrelinhas, nos silêncios, em boas gargalhadas. Palavras e barulhos estragam tudo. Se eu disser amo você, acredita não. Diz "que pena, era tão melhor antes". Vou ficar caidinha. Toda encantada.
Por isso, amor da minha vida, homem da minha vida, saiba: há de haver romantismo. Mas há, sim, e como, há de haver realidade.

domingo, 4 de abril de 2010

Ah, a maternidade

Eu sou ariana com vênus em áries. Braba, impulsiva, pra ontem. O que poucos sabem é da força do meu ascendente em câncer. Ou seja, quero ser mãe. Mais que muita coisa nessa vida. E com a proximidade dos trinta, sem menor previsão e disposição para casamento, apressei de alguma forma a mãe natureza. Nada que o capitalismo não possa fazer por qualquer outra pessoa com algum desapego material. Comprei meu filho. Meu Benjamim.
Só que minha irmã e meu adorado cunhado estão com muita vontade de casar e procriar. No impedimento, arranjam um cachorro também. Ser mãe e tia ao mesmo tempo não é fácil.
Benjamim é um gentleman. Altivo, de porte. Só ainda não completou o ciclo de aulas de educação sanitária. E Chico é um louco, um poodle hiperativo. Juro que não é pleonasmo. Era até pra terminar este texto daqui a umas dez linhas mas Chico está enfocando Benjamim, que acabou de fazer várias necessidades pela casa. A família me chama.