sábado, 19 de junho de 2010

Estranheza sem nexo - nexo pra quê? rima rima rima

Dormi bastante durante a semana mas estou esgotada hoje. Talvez o trânsito do Recife, talvez a vontade presa de tomar banho de chuva, talvez minhas finanças, talvez a morte de Saramago ... e os livros dele que deixei pela metade.
Talvez a falta de coragem de assumir que não me dou lá muito bem com esse mundo. Que queria ser uma velha de oitenta anos, sem certezas mais longas que a proximidade da morte. Queria ir pra um rochedo, morar numa casa pequena e simples na frente do mar. Ficar na pedra até me confundir com ela. Queria virar água. Na hora de morrer, quero virar água.
Aí, os parentes que a mim sucedessem ficariam intrigados. Virou choro aquela velha? Virou mar? Virou nuvem?
O que eu mais invejo da água é a habilidade dela de escorrer. Não fica presa na mão de ninguém. Não se segura em canto nenhum. E quando resolve parar em algum lugar, vai além dela - vira um tanto de coisa. Ou vira rio cheio de peixe, ou mar cheio de sal e de peixe mais gostoso que de rio.
Água é um negócio inquieto.
Se me perguntassem no vestibular de que é feito o coração, eu dizia que era de água. É tudo da mesma natureza. Se perguntassem onde fica - respondia que depende da hora.
É tudo muito estranho. Como é morre o homem que inventou Blimunda? Ele nem existe. Como pode morrer?
Eu sei que vou morrer porque cada vez mais eu sei que existo. As contas não me deixam esquecer. O frio na barriga não me deixa esquecer.
Menino, um dia a água do meu coração congela e você não consegue mais se banhar nela. Acha que sou feita de oceano e posso me derramar o resto da vida assim, à toa?
Já tenho 60 anos. Tenho só mais vinte pra ficar de brincadeira. Depois, vou saber de tudo. Sou senhora de extremos, tem isso de mocidade não. É da infância pra velhice.
-- E pra ficar tudo mais estranho, a Alemanha perde pra Sérvia no mesmo dia.

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