terça-feira, 5 de maio de 2009

O peso

Às vezes, em raríssimas vezes, um dia vale mais que um mês, que um ano. Existem dias que parecem o juízo final, quando tudo vem à tona numa única hora. E é impressionante como cabe tudo no mesmo tempo. Tem vezes que não são nem dias. São uns tempos estranhos. Quando qualquer coisa que se faça parece vir acompanhada pela sombra do “Se”. E o “Se”, na verdade, é um fantasma cheio de dentes de tubarão, com asas pequenas como as de morcego e um único olho gigante no meio do peito. Ele não enxerga com coração, ele tem olho no lugar do coração. O “Se” é o nome de um monstro horrendo. Que assombra nos sonhos e deixa o medo a nos perseguir quando estamos acordados.

Enquanto aguardava as ordens que precisava cumprir, Lili ficou entediada e caiu no sono. Num sono profundo com um sonho bem real. Ela viu uma fada de cabelos morenos, elegante, alta e acolhedora. A fada disse para que ela procurasse não sei quem. Mal-humorada por causa da situação em que se encontrava, Lili acordou e jogou para o alto um pequeno pedaço de papel com o recado do sonho escrito. Porém, Lili agiu sem muito pensar. Afinal, por que ela não escreveu uma pergunta no lugar de uma afirmação? De que adianta dizer: sonhei que uma fada bonita me dava um recado para fazer não sei quê. Ela deveria ter redigido: por que será que a fada bonita me mandou fazer não sei quê. Por que deveria ter procurado fulano?

Ficou sem resposta. E parada no mesmo lugar.

“Ah, narrador, peraí. Toda vez é isso. Sonho um monte de coisa e demoro três séculos para entender. E, na maioria das vezes, vejo que fiz tudo errado. O monstro do Se sempre ganha”, disse Lili, olhando para cima com um misto de desdém e petulância
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Um comentário:

  1. Leveza e sonho! Deixa o resto para depois.

    Beijo

    Dado
    www.horoscopo.blogspot.com

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