quarta-feira, 20 de maio de 2009

Futuro do Pretérito

Lili não sabia patavinas do que faria com aquele desafio ridículo. Resolveu escrever a um velho amigo com quem havia tido briga monumental, uns tempos antes. Ele era perito em charadas, enigmas e quetais. Mas, como poderia convencê-lo de que ela realmente estava arrependida das grosserias que cometera? Por ser um velho amigo, guardava modos estranhos, ranzinzas e carrancudos. Era um ser de chamar atenção. Possuía um buraco, uma depressão, no espaço que ficava entre o peito e o estômago. Será que ele era meio-irmão do homem de lata do Mágico de Oz? E aquele espaço era na verdade alguma porta de entrada para algum mecanismo auspiciosamente elaborado? Ela começou a pensar na carta que escreveria para argumentar a favor da ajuda do tal amigo na árdua missão.


“Se um dia a gente fosse se encontrar pra falar besteira, para desviar a atenção do que é sério e, por isso, bem menos importante, seria assim. Eu iria a sua direção. Você me abraçaria, eu grudaria meu rosto no seu colo. Você passaria uma mão na altura dos meus ombros e com a outra alisaria meu cabelo e beijaria minha cabeça. A essa altura, eu já estaria chorando. Aí você diria que não tem mais o porquê de tanto choro, as tarefas difíceis vão se resolver logo depois que eu descansar. Feito passe de mágica. Aí, de acordo com minha imaginação, é nesta hora em que me afasto. Digo que sou manteiga derretida e pronto. Que choro por tudo. Para tentar disfarçar a importância do encontro. Mas, se você acha tudo diferente e desprovido de lógica, invente outro encontro mais interessante, com direito a lista de passatempos e de brincadeiras...”

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