quinta-feira, 28 de maio de 2009

Detalhes tão pequenos de nós duas ou Penélope e seu primeiro drinque pink


Hoje, pela primeira vez, passados quase dois meses que peguei minha permissão para dirigir, meu pai me mandou ser cordial com alguém no trânsito. Deixei uma moça entrar numa rua e ela buzinou agradecendo.

- Aí você faz assim (som de buzinada leve), porque ela agradeceu. Então, você responde.

- Ah, pai, agora já posso cumprimentar os outros, não é?

Depois que começou a pegar carona comigo todas as manhãs, meu pai só reclamou comigo uma vez. Ops, três vezes. Uma porque passei num buraco. Duas porque freei em cima do carro da frente. Ele pediu pra avisar antes pra que ele não morresse do coração de manhã cedo. Informação importante: O expediente no trabalho é às 8h. Saio de casa no mais tardar às 6h30 (antes era às 6h10). Motivos claros.

A grande piada do dia em que peguei a habilitação é que me curvei (e esqueci do volante) para agradecer a um motorista. Destra por educação (fotos provam que nasci canhota), não poderia dar um sinal de “valeu” com a mão esquerda. Se eu estivesse na Inglaterra, teria sido poupada dos resmungos do meu pai, semelhantes ao do Capitão Nascimento (“Alguém lhe agradeceu? Alguém lhe agradeceu? Então, você não agradece a ninguém, ouviu!”).

Ontem, super segura depois dos elogios dele de que eu estava dirigindo como uma adulta, resolvo não voltar do trabalho para casa e vou com uma amiga espairecer no shopping. Parei no caminho, estacionei muitíssimo bem (tirando o fato de que não alinhei os pneus), vou por um novo percurso e chego lá, toda toda. E vem o momento de estacionar. Quinze minutos depois de muitos pra frente e pra trás, reclamo a falta de pessoas de boa vontade para ajudar. Os céus ouvem minhas preces e surgem senhora e filha super simpáticas para dar aquele help na manobra. Desço do carro, entrego as chaves e ainda peço para colocar de ré na outra vaga. “Porque tirei a carteira agora e não iria saber sair”. A boa ação foi feita pelas duas mulheres, porque se fossem homens iriam dizer gracinhas e não seria boa ação, seria divertimento alheio.

Animadíssima com minha aquisição da Antologia Poética de Cecília Meireles e de uma coletânea de entrevistas da Rolling Stones (apropriada pelo meu pai, fazer o quê se ele tem bom gosto?), sigo para casa de farol aceso, quinta marcha engatada, a 80 Km/h, contente e saltitante (afinal, reduzir marchas ainda é um problema). E, responsavelmente, vou completar o tanque. Penélope não fica de copo pela metade, criando peixe. Muito chique, também só bebe destilado amarelinho.

- Moça, quer checar o radiador e o óleo?
- Só o radiador. Onde abre o capô, moço? (Tenho trauma porque vi um dia um celta - ou seria um fiesta, não lembro mais-, a fumaçar e a queimar mão de gente porque o deixaram sem água. E olhe que ali havia uma setinha que não existe no meu mostrador!!! Pelo menos que eu tenha percebido). Detalhe: aí, o frentista percebeu meu analfabetismo funcional*.

- Tem que colocar um líquido rosa, porque já baixou.
- Ta certo.
- É R$18,50.

E lá vou eu. Feliz, comemorando com Penélope sua evolução de destilados amarelos para drinques coloridos. Toda orgulhosa, conto a meu pai dos acontecidos.

Bem, o resto. Ele abandonou a versão Capitão Nascimento e foi meio House. Terminei a noite lendo o manual do carro*.

* Linguagem automobilística é muito complicada, com desenhos estranhos e palavras esquisitas. O que danado é um relé??? Só conheço ralé. Todo analfabeto funcional tem vergonha de se acusar. Eu já tinha derrubado a máscara na hora em que falei que não sabia abrir o capô. Não iria ligar pro meu pra perguntar nada. Veja só, Cosma era uma mulher forte, mulata robusta, que votava na seção em que fui mesária por quatro anos. No início, ela aceitava melar o dedão e carimbar no lugar da assinatura. Na última vez dos meus préstimos lá, Cosma já copiava o nome dela. No lugar do dedão, desenhava letra por letra as palavras que estavam abaixo. Bem, Cosma é minha desculpa. Mal ajambrada, mas, enfim.

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