sábado, 7 de março de 2009

Pedaços

Preciso voltar a ler Grande Sertão: Veredas. João Guimarães Rosa sabe falar mais bonito de amor que Vinícius. O que mais admirei em Vinícius foi quando descobri que ele casou sete vezes. Aí, no auge dos meus 14 anos e no fim do primeiro relacionamento, captei que a grande paixão da vida do poetinha foi a mulher que teria sido a inspiração de Para Viver um Grande Amor. Engraçado como uma coisa pode não ter nada a ver com a outra.
Acho que foi numa conversa com minha irmã que veio a idéia de só poder dizer quem foi o grande amor da vida lá pelos oitenta anos. Nessa altura, a pessoa deve achar que esse negócio desesperado de impor conceitos e nomear eras é erro experimental. E alicerce do medo. Alicerce do medo - quanta afetação!
Sábio quem disse que a vida é fácil, nós que complicamos. E bondosa a pessoa que me explicou pulsão de morte e pulsão de vida.
No exato momento, uso uma calça com diferentes tons de rosa. E que continuam sendo rosa. A minha blusa também é rosa. De matiz distinta das da calça. Na quarta série, professora Helena Menezes, conhecida por sua rigidez, instituiu a quarta-feira como dia em que faríamos redações. Nos primeiros exercícios, a tarefa era trabalhar a descrição. Não tinha a menor paciência para encher linhas com detalhes minuciosos de objetos. Aí, depois de muito sofrer por não tirar dez, o que muito me afligia nessa época, comecei a escrever sobre sentimento. A imaginar um pouco, exagerar outro tanto. Minha redação foi lida em outras turmas. Se já não havia paciência para descrever e nomear aos dez anos de idade, perto dos 25 é que prefiro deixar tudo misturado e chamar do mesmo nome mesmo. Afinal, conceitos sempre me foram apresentados como arbitrariedades.
O silêncio foi substituído por barulho. Uma idéia sempre traz outra à reboque.

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