sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Porque eu não gosto de parque temático

Eu não sei ser estrangeira. Ser de outro lugar no lugar do outro. Não sei ter cabelos pintados e curtos em lugar de gente que não sente nem frio. Não sei falar no diminutivo quando todos marcam os erres da língua. E falam arran para lembrar que disseram sim. Não é o sim que me incomoda. É a lembrança recorrente de que sou de fora. Me pulverizem entre si, me esmiucem e joguem feito pó sobre vocês. Mas, não, não me façam sentir que sou de fora. Sou feito peixe. Preciso ficar dentro da água. A areia é branca mas é seca e não me deixa respirar. Quero ser gente. Quero ser igual. Feito pó que sempre é do mesmo jeito. Dá um trabalho tão grande separar um pó do outro que só quem tem somente isso da vida pra fazer faz. Me abraça no escuro e me deixa calada. Pra eu voltar pra um lugar que possa ser meu e que possa me ter. Preciso que me tenham. Ser de algo, de alguém, de algum lugar. Pra ganhar chão. Eu não sei ser estrangeira. ´

Só sei ficar misturada, não identificável, sem ser percebida, sem ser notada. Escondida. Intocada. Reclusa. Eremita. Mas, me abraça no escuro. Pra eu ser tua só um pouco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário