quarta-feira, 14 de abril de 2010

O apelo masculino

Às vezes, ela ficava só para ouvir o que ele poderia dizer. Ficou surpresa, daquela última vez. Os elogios ao tom desafiador que tanto os afastara. A deferência à pequena rebeldia, mola propulsora de tantas brigas. Mas, o mais estranho: "E você está certa".
Não foram as palavras entrecortadas por silêncios e fungados que poderiam sinalizar choro, mas eram justificados por resfriado. Não foi a afirmação arrogante "Eu conheço você". Ela ainda tentou argumentar que muito havia mudado. Na verdade, muito havia retornado ao ponto de origem. À calmaria. Não foi a saudade. Foi isso, só isso:"Você está certa".
Toda mulher sofre horrores por nunca estar certa. Nunca ter razão. Razão é domínio masculino, razão, humor, lealdade (não vamos confundir com fidelidade). Itens masculinos. Parceiros recorrem mais ao "eu amo você", "você é linda e única" e etc para amenizar conflitos. Parceiros buscam sexo para amenizar conflitos. O "você está certa" é só sinal de cansaço, uma deixa para comemorar a vitória de Pirro da moça em questão. Um "você está certa" espontâneo, fora de hora, de contexto. Como assim?
Nós, mulheres filhas daquelas lá de Atenas, sempre feito as de C. Buarque, sabemos do que somos capazes pela vaidade. Pelo desespero que a vaidade traz consigo. O medo do esquecimento. Ah, somos ardilosas. Choramos, esperneamos, agimos contra nossos princípios mais elevados.
Porém, vamos lá: "Você está certa" foi demais.

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