quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Cinzas

O que me aquieta é que ela foi ao Galo da Madrugada no sábado. E tudo aconteceu em plena terça de carnaval. Vi por acaso o chapéu que Adélia havia decorado para a folia. Nem tive coragem de procurar o cartão de Natal que não entreguei. Nem tive coragem de olha-la uma última vez. Preferi guardar o som da voz dela dizendo: “Maaarí!”. As mãos finas, os dedos de articulações grossas, o batom escuro. O rosto anguloso, de sorriso largo. A corrente africana para espantar energia negativa. A vontade de que eu fosse mais feliz que ela. Os conselhos para viver a vida mais que ela.

Ela me ensinou muita coisa. Solidariedade, sensibilidade. A diminuir os preconceitos de primeira impressão.

Este é o segundo post que escrevo sobre ela. O primeiro mostrava coisa demais e achei por bem esconder. Adélia era discreta. Era o tipo de pessoa que a gente descobre aos poucos. Aos poucos descobri que ela também sentia frio naquela sala, aos poucos passei a devorar os bombons que ela trazia de casa para adoçar a vida dos acompanhantes que pediam socorro a ela.

Devagar descobri o colo de mãe de Adélia. Presente quando o da minha mãe não podia estar. Silencioso. Minha amiga, saudade, viu. Vou tomar conta de Ceça por você. E vou viajar pra longe por você. Prometo.

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