quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Felicidade

O jogo do contente é umas das principais, caso não a principal, lição do clássico para meninas Pollyanna. Frente às adversidades, a heroína que dá nome ao livro busca sempre um lado enriquecedor, belo, positivo. Os livros de auto-ajuda atualizam de alguma forma esse modo de pensar. Alguns colocam no próprio ato de pensar as ferramentas essenciais para nos aproximarmos da felicidade e do sucesso: amoroso, pessoal, profissional. Agora, depois da introdução, vamos refletir sobre uma das maiores preocupações femininas durante esta época do ano. Ela, a famigerada, detestada, aterrorizante celulite.

Não é intenção explicar causas, consequências, dicas de tratamento e exercícios milagrosos para lidar com a maldita que ocupa nossas mentes no verão bem mais que a tendência neon, as colorações verde e cinza de esmalte, a vacina para a gripe A e o novo hit da Lady Gaga. A responsável pela aparência de casca de laranja dos derriéres femininos precisa ser encarada como muito mais que isso. Não, queridas, não vale pensar “Ah, a Juliana Paes também tem. Beyoncé também tem”. Mais que famosas, elas possuem medidas que desculpam qualquer falha na pele. Pobres mortais como eu e você, leitora, não dispomos de mais de 100 cm de quadril arrematados por menos de 70 cm de cintura. Padrão internacional de gostosura e não de fofura.
Então, qual o grande segredo e, o mais importante, o que Pollyanna e auto-ajuda têm a ver com celulite? Simples! Se cada ruga envergada em nossa pele é uma demonstração de que foram tantas emoções que vivemos, cada celulite é sinal de uma grande felicidade experimentada. E mais. Experimentada através de duas das maiores fontes de prazer acessíveis aos seres vivos: o ócio e o paladar.

Funciona assim: um grupo de amigas se encontra no bar para fofocar e, se derem sorte, paquerar. Estão cansadas do trabalho, angustiadas pelas tarefas que não conseguem concluir nunca, com a falta de tempo para si mesmas e a distância temporal entre o dia atual e as sonhadas férias. Qual a melhor saída? Perder tempo falando mal do mundo e como a vida é cruel e o trânsito estafante? Destroçar a moral masculina, afinal os homens são egoístas, imaturos e cruéis? Discorrer sobre se a família deveria ou não lançar o livro póstumo do Nabokov, o autor de Lolita, e cansar mais ainda os neurônios? Nadinha. O mais adequado é iniciar uma meditação cujo mantra será: humm, hummm. A-há! Acertou em cheio quem chutou que o salvador da noite seria um doce. Sugestão: Um waffle com sorvete de creme e calda de chocolate. No capricho e com a massa crocante, por favor.

Senhoritas, não pensem que é consolo de mulher feia. É, simplesmente, a comemoração de nosso descompromisso com a estética photoshop atual. É, digamos, um enfrentamento, um ensaio de revolução. Agora, não serve se a estratégia for utilizada como desculpa de menina amarela. É algo que precisa ser verdadeiro, honesto. Profundíssimo, que não sai nem com superdrenagem linfática.

Então, garotas, cada celulite é a prova material de horas a mais de descanso e silêncio distante da rotina espartana das academias. É a marca indelével de tortas e fricotes deliciosos com as comadres. Vamos sentir o Sol, sem canga, sem medo, sem vergonha. Quando um traseiro esculpido a traço de cartunista passar na nossa frente, vamos fazer uma oração pela infeliz moçoila. Ela não sabe como é bom se parecer um pouco com uma casca de laranja.

Um comentário:

  1. Homens com agá maiúsculo não estão nem um pouco preocupados com celulites. Tem coisas mais importantes pra reparar nas mulheres!

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