quinta-feira, 11 de junho de 2009

Toda Bêbada Canta ou Bom Senso Racional


Existe felicidade na solidão, a dois, a três e aos montes. Fora os mil e um outros tipos. Lembro que era uma segunda-feira de Carnaval, embaixo de muita chuva. Sandálias foras do pés. Nem nos importamos se aquela era uma rua no centro da cidade, se podia estar suja e nos fazer pegar algum tipo inconveniente de doença. A chuva purificava tudo. E valia qualquer dança, braços para o chão e pernas para o ar. Índios franceses, com penachos provavelmente made in China, recifenses, olindenses, paraibanos e paulistas juntos. Ali, nada importava. Só se deixar molhar por todas as milhares de gotas de água que caiam sem parar. Podia improvisar uma ciranda, podia andar míope sem conseguir decifrar direito o que se via. Valia rock misturado com samba e uns blues inventados. Até, quem sabe, tentar fazer uns passos de polca. Ou não é polca aquela dança russa complicada? Era segunda-feira de Carnaval e estávamos todas juntas – todas as Marias. Amizade de Carnaval dura a vida inteira.

Vai ver que pra amizade ser selada é preciso ritual. Casamento tem que ser na frente de juiz, nascimento na maternidade de no cartório. Amizade, menos formal, mas mais importante precisa de festa, de alegria, de história pra contar depois. E amizade vem sem jogo, sem mistério, sem tática de conquista. É algo que pertence ao reino do já foi. Quando menos se espera, estamos lá, de novo, dividindo tudo. Não precisa de frio na barriga antes de telefonar nem imagina se foi hora certa ou errada de chegar. É o arrebatamento mais doce do mundo. Mais querido. Pra nossos amigos que a gente olha e diz que é maravilhoso viver. E amar.

*Registro: originalmente, a letra de Toda Bêbada Canta, de Silvia Machete acompanhava o post. Depois, fiquei em dúvida entre essa e Bom Senso Racional, de Tim Maia. Ambas fizeram parte da trilha sonora da segunda acima descrita. Aí, bem, quem pensa que tem dois pássaros na mão, termina com os dois voando.

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