domingo, 4 de julho de 2010

She´s not there

Um coração partido, novamente partido, obriga qualquer uma a deixar o relógio em casa. A tomar um bom vinho, ou um não tão ruim assim. Um coração novamente partido, recentemente remendado e prontamente partido de novo, faz a noite se mostrar. Mesmo que não chegue com lua cheia e as estrelas que fazem um pontilhado sem muito sentido naquele azul celeste tão acolhedor quanto o azul próximo da areia da praia.
Um coração partido torna tudo mais engraçado. E divertido. Por que, afinal de contas, para que serve o desamor se não para nos dar lágrimas de imeditado e risos no porvir? Um coração partido, quanto mais tempo partido, e mais ridículo pelo tempo raro gasto, é uma grande piada.
A menina retornou ao telhado na sexta-feira. Sumiu lá por cima. Não, não se jogou porque desamor exige discrição. Sinal de respeito a si mesma e aos outros presentes. Oras, todo mundo sabe onde dói, não precisa relembrar. Jogar na cara alheia o sofrimento próprio e pedir compaixão é um ato extremo de egoísmo. Desamor é feito amor, apesar de ser sua ausência. Não precisa dizer. Sabe-se.
Primeira frase daquela sexta, à noite: "Não, hoje você não vai para lá. Sem invenção". A porta estava fechada.
Ela abriu. E subiu de novo. No telhado, não ouvia nada, não sentia, não parecia existir. Ali, não havia buscas por respostas. Ela já sabia que seria não. E os "não" não chegam como os "sim". Os sim aparecem de uma vez, não demoram dois anos. Não demoram duas semanas. Não surgem em ligações muito menos em "eu te amo". Os não, que para muitos nem deveriam existir. Sim, eles chegam em epifanias, em revelações, em arroubos desmedidos, em agonias pequenas no estômago, quase como aquelas famosas borboletas do amor. Assim são os não. O não definitivo que a levava ao telhado.
Acharam que ela estava com um, havia ido ao apartamento de outro. Voltara pros braços dele.
A verdade é que ela estava no telhado. Ela, o vinho e o desamor. O tempo todo lá. Sem hora para voltar, sem satisfações do destino. Só, com o céu inteiro por cima dela.

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