sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Aos meus queridos – parte 01

Não gelo com beijos nem abraços. Aprendi a gelar com mãos dadas e posterior troca de olhares. Foi assim.

Segundo semestre de 1992. Desde cedo, fui chegada num rebelde. Ele tinha dez anos. Eu, oito. Ele, cabelos grandes, repetente. Eu, cabelos curtos e CDF que sentava na banca de trás por causa dele. O primeiro menino que pegou na minha mão. Porque não conta as dancinhas de São João. Magro, alto. Rosto meio comprido, meio misterioso. Até hoje sei o nome completo dele, decorado. Estava com data para ir embora e eu sofria todos os dias com sua partida. E com minha covardia em me declarar. Meu primeiro amor.

Estava na banca ao lado da minha. Eu segurava o apontador lilás que meu tio trouxera de alguma viagem. O apontador e meu lápis da Pequena Sereia. Ariel questionava o pai, oras. Não falei que gostava de rebeldia desde cedo? Ele queria o apontador.Tentou tomar da minha mão fechada. Os dedos dele sobre meu punho cerrado. Mão sobre mão balançando no ar. “Aêêê”. Por que os outros flagram esses momentos só para apressar o fim?

1993 chegou só saudade.

Só que a vida é uma desenrolar de nós. 2001. Ele foi para mesma escola que eu de novo.

- Ei, Mariana. Ele disse que te conhece de algum lugar.

- Eu mesma não.

- Conheço sim.

- Ele disse que ficou contigo em Itamaracá.

- Foi, foi sim.

- Sem onda, tá (Queria eu, queria eu)

O menino mais bonito do colégio inteiro. Alto, magro, cabelo curto e olhos claros. O jeito rebelde estava lá, porém mais doce. Os anos na Europa, provavelmente.

Dia de prova. Fui procurar meu nome na lista das salas. O nome dele lá. Será? Tomei coragem! Virei correspondente secreta, com fiéis aliados. Até descobrirem meu M. Golpe fatal. Passamos um recreio juntos, conversando. Só que não houve apontador de desculpa para mãos dadas. O frio na barriga estava destinado a outro menino magro, alto, de olhos claros. Eu não sabia. Nem ele, que mais tarde apareceu encantado por uma loirinha simpática, de olhos verdes.

Nunca mais vi de novo. Mas é graças a ele que mãos dadas sempre vão importar mais que um beijo.

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