segunda-feira, 21 de junho de 2010

Espera de feriado

Coisa de mulher grávida. Estranho, muito estranho. Como todo o resto e o que há por vir da vida. A questão é: estou com gosto de queijo manteiga na boca. É um mistério.
Desde os 13 anos, sou classificada como pessoa com enxaqueca crônica. Isso diminuiu minha ingestão de chocolate, não me deixa ter bons presságios depois de tomar coca cola e afasta qualquer possibilidade de juras de amor a café. Além, claro, de me deixar a dois palmos de distância de gorduras. Claro que isso não impede meus doces. Afinal, estou três quilos acima do meu peso normal. Talvez, quatro.
Meu pecado é queijo prato light. Que como feito rata. Polenguinho, requeijão. Gouda. Umas das noites mais divertidas no Rio de Janeiro foram com queijo gouda, wii e espumante. Gruyére. É, eu agradeço muitíssimo às vacas. Até porque a maior parte da minha alimentação até agora é à base de laticínios. Se não fossem as vacas, eu já teria partido desta para melhor, morta por pneumonia, como tantas e tantas vezes profetizou minha avó diante da minha negativa em comer feijão (algo que é feio até no nome). Mas, olha lá - não citei gorgonzola, provolone, do reino muito menos manteiga! Tá, coalho - se eu não comesse com regularidade não poderia me considerar moradora de Pernambuco.
Só que ontem eu comi quase queijo nenhum. Hoje, também.
E esse gosto de queijo manteiga na boca!

domingo, 20 de junho de 2010

Dois dias só

JustificarEu sinto falta de romances. Com personagens cheios de camadas, de gente. Com atitudes e enredos que não são possíveis. Eu gosto dos romances porque eles são impossíveis. Por isso que eu gosto tanto do velhinho tartaruga.

sábado, 19 de junho de 2010

Estranheza sem nexo - nexo pra quê? rima rima rima

Dormi bastante durante a semana mas estou esgotada hoje. Talvez o trânsito do Recife, talvez a vontade presa de tomar banho de chuva, talvez minhas finanças, talvez a morte de Saramago ... e os livros dele que deixei pela metade.
Talvez a falta de coragem de assumir que não me dou lá muito bem com esse mundo. Que queria ser uma velha de oitenta anos, sem certezas mais longas que a proximidade da morte. Queria ir pra um rochedo, morar numa casa pequena e simples na frente do mar. Ficar na pedra até me confundir com ela. Queria virar água. Na hora de morrer, quero virar água.
Aí, os parentes que a mim sucedessem ficariam intrigados. Virou choro aquela velha? Virou mar? Virou nuvem?
O que eu mais invejo da água é a habilidade dela de escorrer. Não fica presa na mão de ninguém. Não se segura em canto nenhum. E quando resolve parar em algum lugar, vai além dela - vira um tanto de coisa. Ou vira rio cheio de peixe, ou mar cheio de sal e de peixe mais gostoso que de rio.
Água é um negócio inquieto.
Se me perguntassem no vestibular de que é feito o coração, eu dizia que era de água. É tudo da mesma natureza. Se perguntassem onde fica - respondia que depende da hora.
É tudo muito estranho. Como é morre o homem que inventou Blimunda? Ele nem existe. Como pode morrer?
Eu sei que vou morrer porque cada vez mais eu sei que existo. As contas não me deixam esquecer. O frio na barriga não me deixa esquecer.
Menino, um dia a água do meu coração congela e você não consegue mais se banhar nela. Acha que sou feita de oceano e posso me derramar o resto da vida assim, à toa?
Já tenho 60 anos. Tenho só mais vinte pra ficar de brincadeira. Depois, vou saber de tudo. Sou senhora de extremos, tem isso de mocidade não. É da infância pra velhice.
-- E pra ficar tudo mais estranho, a Alemanha perde pra Sérvia no mesmo dia.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Auto-conhecimento

"Se ele sabe de tudo, por que ainda bate na mesma porta, em busca de outra resposta?", dizia Francisca à Luzenira, que lhe respondia:
"Ele quer é ver se consegue mudar a pergunta"

Frustração

Era para eu escrever a-s-s-i-m
Falar a-s-s-i-m
Com pausa e cuidado
e tempo e espera
e dúvida
e inação
pra ver se assim você gosta de mim

Era para ser um hai cai
Mas eu caí em mim mesma
De novo.

A lógica do absurdo - na falta de um título pra um texto sem lógica

Eu não sei lidar com meio termos. Não sei dizer que não sei em quem votar neste ano. Já mudei meu voto umas três vezes, pensei nos três candidatos. Sim. Nos três. E nem me cheguem com Inglaterra que não compreendo coalizão. Se bem que Brasil. Bem. Brasil.

Estranho. Primeira vez na vida que escrevo Brasil em algo pessoal. Muito estranho. A palavra Brasil é a mais estranha que escrevi em tempos. Porque nunca gostei de ser brasileira. Latino-americana sempre me pareceu mais agradável. A Copa do Mundo que me diz.

Bem, de volta ao meio termo.

Trânsito parado. Por que eu deveria manter o carro ligado e as janelas fechadas? Motor desligado, pra acompanhar de verdade o fluxo. Isso de deixar a chave girada e não sair do lugar - não me convém.
E daí se chove? Se estou na chuva, decerto me molharei. Janelas abertas que não vou ficar no frio do ar condicionado se estou no meio da rua. E daí se pode haver arrastão?

Admirei a namorada do meu amigo que saiu a pé pela rua até achar um lugar mais amistoso. Aproveitei o banho que tomei no estacionamento até chegar ao carro. Achei bonito ver pessoas nas pontas dos pés em fuga de poças d´água. Pensei um bocado na vida.

Que chova de muito. Porque negócio de garoa nem pra molhar serve. Só chateia. Prefiro tumulto. Esses que jogam a brasa de vez. Tiram da rotina.

Até porque não sei lidar com o meio termo: se chove ou se faz Sol.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Copa do Mundo

Ela bebeu o que sobrou do vinho e foi pra casa. Ligou o som do carro mais alto que o costume. Na primeira curva, baixou. Já lhe bastaria seus pensamentos, já era barulho suficiente. Se não fosse tão tarde, compraria mais uma garrafa de vinho. Caso não deixasse as ideias mais claras, traria o sono mais depressa.
O vinho sempre foi um bom anestésico. E uma boa desculpa. Parou no caminho. Outra garrafa e um maço de cigarros. Nunca soube tragar. Só que, era preciso. Álcool e cigarro. Ocuparia bastante o tempo e o vazio do apartamento.
As caixas ainda estavam pelo chão, cheias. Nada da mudança ocupava a prateleira. Roupas pelas cadeiras e cds espalhados no carro. Os livros construiam uma quase estante própria. Empilhava-os em formatos diferentes a qualquer sinal de tédio. Olhava para o celular que lhe servia de relógio. Ligou o computador para ouvir alguma música.
Escolheu o perfume favorito e resolveu borrifar o espaço todo com ele. Girou sobre seus próprios pés enquanto molhava as paredes com aquele cheiro. Seu próprio cheiro. Queria se livrar das paredes e daquilo tudo.
Estava bêbada.
Acomodou os livros num canto, tirou uns casacos da caixa, estirou umas toalhas no chão.
Dormiu.

domingo, 13 de junho de 2010

Santo Antônio, olhai por nós ou "Rome wasn´t built in a day".

De repente, teu cheiro chega. E fica. Minhas mãos, meus braços, meu cabelo. Nem parecem meus. São só teu cheiro. Hoje, talvez eu nem durma direito. É que a minha cama não se encaixa no meu corpo como meu corpo se encaixa no teu. Canto nenhum serve mais pro meu sono, pro meu descanso.
Por que quem sabe se nesse descanso no teu corpo cresce também a minha paz. E se quando você me acolhe, você também fica em paz.
----
Desde que acordei, tudo que fiz foi pedir para a chuva se aquietar. Só que ela, a danada, é uma rebelde. E deve ser por isso que gosto tanto dela.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Respira fundo, fecha os olhos e vai

Se eu não pedir você em casamento, tem calma. Se eu não chegar com pulos e saltos e beijos e abraços. Tem calma. Meu coração é daqueles que não conseguem dar conta de tudo de uma vez só. E ele é muito estranho. Mais estranho do que eu mesma pude ser em qualquer dia ou minuto da minha vida. Pequena vida. Menor que meu coração. De verdade. Até porque parece que meu coração ficou gigante, esticou as pernas para abraçar o mundo e se foi.

Meu coração era um tanto inquieto. Não ficava no mesmo lugar embora não desaparecesse de dentro de mim. Há dias que batia bem na palma da minha mão. Ela, coitada, pobre vítima, fica molhada e trêmula. Nem parecia mão. Parecia até outra parte do corpo. Às vezes, meu coração fugia pra lá também. Mas não se demorava muito. Achava que ali não era bem lugar pra ele. Coração é desses seres que se acha importante, que crê fazer girar em torno dele.

Ele nunca ficara perto da boca porque ouviu dizer que é por ali que os outros corações costumam sair. E ele não pretendia deixar de me ter como morada. Pelo menos foi o que alardeou por aí. Sou bem fácil de habitar. Obediente. Atenta às regras dele.

E eu achava que estava tudo bem entre mim e ele.

Que eu poderia sentir sempre cócegas quando ele resolvesse passar pelas minhas pernas. Frio na barriga porque ele quis brincar por lá. Bastaria você falar para mim de paixão (meu coração escuta tudo melhor do que eu). Da minha por você. Da sua por mim. Meu coração faria do meu corpo uma montanha russa inteira.

Só que meu coração...meu coração. Ele pediu férias. Há algum tempo. Achei por bem deixar o danado descansar um pouco.

Um pouco. Não tanto.

Uns dizem que foi visto na Espanha. Outros, cansou da minha impaciência com Copa do Mundo e afins e se desbancou pra África do Sul. Os pessimistas acham que ele morreu. Os otimistas falam em hibernação.

Então, se você pegar na minha mão e eu ficar calada, calada, concentrada, saiba. É pedido que faço pro meu coração voltar. Logo.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Dúvida

Como não entendo a lógica das ruas do Recife muito menos a falta de placas para orientar meu percurso (não adianta pensar em GPS, seria até pior), cheguei atrasada numa reunião do trabalho. Pode parecer óbvio o caminho entre a Agamenon Magalhães e o Centro de Convenções. Mas não é. Nada de seguir em frente o tempo todo.
Foi se desorientar, perdeu o lugar. Fiquei sobre meus inchados pés, num salto nada confortável, morta de vergonha, durante um bom tempo. Ao longe, ele. Um senhor magro, alto, de cabelos finos, olhos já puxados pelo tempo. Camisa branca, sapato branco. Ar de bom aluno e postura tranquila. Um dos melhores amigos do meu pai quase do lado dele. Uma bolsa na cadeira da frente. Tudo isso do outro lado. Precisaria atravessar entre as cadeiras. Eu, meu visual nada formal e minha mochila enorme e pesada. Afinal, tudo que é enorme precisa de peso para justificar seu tamanho.
Tomei coragem.
Sentei bem na frente dele. Eu e a mochila pesada. Dentro dela, além da agenda e outras coisas, meu adorado exemplar do Livro dos Seres Imaginários, de Borges. Não era o dele. O dele, eu tentei autografar quando a filha dele trabalhou com minha mãe. Tirei o livro da bolsa. Comecei a mexer como quem procura algo e não quer achar nada. Quase virei o danado do livro para ver se ele me cutucava e entabulava conversa. Nada. Hora de risos coletivos. Olho para trás. Os olhos puxados do tempo sorriem junto com a boca. Era quase a lua crescente, o gato de Alice.
E eu lá. Falo, não falo. Peço, ou não peço.
"Oi, tudo bem? Desculpa incomodar mas queria mostrar pros meus filhos, sabe? Eles ainda não existem mas vão, um dia. Antes tarde do que nunca e agora com o avanço da ciência, né? as mulheres podem escolher melhor. Até porque divórcio é um nó incrível. Deve ser muito doloroso"
Não. Não peço. Ou peço.
"Gosto muito de Borges. Tenho um livro do senhor. Aquele. Isso. Comprei assim que foi chegou nas livrarias. Saí de Olinda, de ônibus, para ir a Boa Viagem. Dois coletivos cheios sob Sol. Mas tá em casa. O senhor poderia autografar este daqui? Ele é um clássico latino-americano, grande incentivador da leitura"
Melhor. Peço.
Acaba a reunião e Ariano Suassuna sai discretamente. Pego minha agenda e vou resolver minhas coisas, com a mochila pesada e Borges dentro, quietinho, quietinho. Sem nenhum risco. Quem sabe aproveito para dar de presente e economizar algum trocado.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Apenas o fim

Ela relutou bastante até assumir a verdade. Já viveu sim um grande amor. E, diz aos mais próximos, se não casou a culda dela somente. Como toda narrativa que se digne de assim ser chamada, o fim do grande amor de Maria Joaquina teve princípio, meio e fim. É uma história que vale ser contada. Assim, mais ou menos. Isso de amor é tudo tão repetitivo.
Ela e o namorado eram um casal apaixonado com direito a todos os clichês. Os quais não serão aqui publicados porque, apesar de achar que ninguém lê esta joça, vai que o rapaz resolve passar por aqui (e, oras, sexta-feira, chuvinha, tô aqui, tô carente, tô sozinha). Se já namorou e se já terminou, não será olho furado, né? Não posso me queimar a troco de banana. Não, ele não era um banana apesar de seres masculinos bananóides já (deixa para depois, prometi que não me queimaria na fogueira virtual).
Bem. Vamos lá.
Tudo começou quando a moça teve uma brilhante ideia para o Dia dos Namorados! Tchanram! Um mural em cores vermelha e preta com um boneco do infeliz pregado! Uma almofada de coração pendurada e várias fotos e bilhetes. Fotos recortada por ela, que até hoje não sabe se é destra ou canhota. Que lindo! Se não fosse terrível. Resultado do prólogo: choro porque o senhor sensato se recusou a pregar o mural na parede da casa nova dele (e da velha também). Primeiro trauma.
E, para quem quiser saber o fim, caso o leitor inexistente ainda resista depois de tantas enfadonhas linhas, segue abaixo o restante do relato.
Foi triste. Depois de passar dois dias inteiros a ligar para um restaurante de comida esquisita que sediaria o aniversário do amado, a mo nça descobriu pelo twitter que ele já havia feito convite para celebrar a data em outro lugar. E ela foi a última a saber. Triste, frustrada, desesperada, eles brigaram e romperam por algumas horas. Ainda apaixonada, a menina comprou a versão mais nova do FIFA e uns joysticks novos para alegrar o coraçao do garotão. Porém, ainda restava a mágoa.
Ao chegar no novo espaço da festa, ela não se rendeu aos beijos ardentes, suculentos, deliciosos do rapaz. Entregou-se à vodca. Na hora da saudade, temerosa da distância que agora surgia entre eles, Joaquina subiu ao palco. Voluntariou-se para o número "Cantando no banheiro", parte do show daquele sábado. Escovão em punho e touca na cabeça disparou "Fazer amor de madrugada, tchururu, tchu tchururu", seguidos de "Casa comigo, bebê lindo!". Constrangido pelo desafino agudo da menina, o rapaz terminou o aniversário ali.
Incompreendida, desolada, abandonada, Joaquina correu para chorar no banheiro, sem mais cantar.
- Eu botava logo um par de gaia. Foi tudo muito romântico, foi lindo! (ouviu de uma bêbada diabética que injetava insulina no recinto)
- Manda se foder. (disse, direta, uma amiga do infeliz)
Jojô chorava, tremia, sofria, amava.
E o namorado, agora ex, nem se compadecia.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Amar se aprende amando

Drummond estava certíssimo. Atiremos o limão aos peixes que eles sim sabem o que fazem.
(Ou de como uma ideia boa surge na sessão de análise, confunde-se com o tal fluxo e se perde pelo caminho).
Há esperança. Há esperança de que o ato falho retorne e salve estas linhas. Mudaria de nome, poderia ser um ato perfeito, um ato heróico, um ato jurídico completo!
A moça atirava-se à noite nas sextas-feiras para não precisar se encontrar nos sábados pela manhã. Deixava para existir só nos domingos à tarde, na hora do sono. Sentia toda a dor do mundo - essa gente que só complica os passos e insiste em choro. Era uma chata.
Chorava tanto, emocionava-se tanto, admirava tanto. E eram tantos os tantos dela que poderia acabar com a água do mundo. Poderia querer convencer seu povo a guerrear contra o Sol, que teima em iluminar dias nublados, mais adequados ao humor impossível da moça. Na guerra, todos carregariam seus pianos nas costas, poderosas armas para quem gosta de ir à luta de cabeça baixa. Afinal, não se pode sentir a dor do mundo e encarar o próprio de frente. Há de se manter algum respeito.
Juntaram-se todos os peixes do Drummond para atirar limões nesses seres estranhos. Que criam pedra só para reivindicar poesia.
----
Mais, aqui.