sábado, 29 de maio de 2010

friday night, saturday morning

Queria que você, senhor, não me dissesse nada. Para que eu também não lhe falasse nada. Sinceramente, acho que minha imaginação deveria se tornar fértil de verdade. Para que eu lhe escrevesse algo que realmente prestasse.
Porque negócio de grande amor é muito complicado e faz parte dos números impossíveis. Aqueles que a gente jura que aprende no colégio. Mistura com a letra "i". De impossível. Calma, eu acredito no grande amor. Só que quando é comigo, bem, é feito bumerangue. Vem em minha direção, bate e volta. Pro infinito. E até nunca mais.
Sim. Eu tô inteira, moço. Só não sei se é de sua intenção vir aqui de novo pra testar os remendos. Acho que você diz que sim, eu digo que sim. Mas existe um grande não no meio do caminho, maior que a pedra de Drummond.
Aí fica aquele quase. Eu saio de um lugar na hora que o senhor moço chega. Você pensa em ir aonde eu estava. E nunca dá um passo. E a gente se perde, se perde.
Não é nem questão de amor. Porque amor, amor....caramba.
Semana passada, notei minha primeira marca de expressão. Uma quase ruga.
Das tantas linhas que acabei de escrever e ao tempo que escrevia, deletava. Não é nem segredo. É porque é melhor dizer nada. Só sei disso. Grande amor, grande amor, você é impossível.
Até quando sonho, sei disso.
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'
Posso dizer que existem dois impossíveis? Que nem os números "-1" e "+1"?
Tá. Eu sei que todas minhas definições matemáticas acima estão equivocadas.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

E agora?

Apesar ser um ser de paladar ortodoxo, que não compreende comida japonesa muito menos misturas estranhas como queijo coalho com goiabada e demasi doces e salgados, eu gosto de comer. Um bom ravióli de ricota com um vinho tinto frutado, naquele molho de tomate do Don Francesco, por exemplo. Um surubim na brasa com arroz de brocólis. O jantar de Humberto do fim do ano. O wafflle completo do Central dividido quase à tapa com as amigas queridas. Sorvete de fruta com risada. Comida é felicidade. Com amigos, mais ainda.
Só que vim aqui pra escrever sobre uma das minhas palavras favoritas. Ternura. Quando acho algo suave, delicado, doce, considero terno. Um dos meus poemas prediletos, um dos únicos que sei pelo menos algum verso decorado (Pela indescritível graças dos teus passos eternamento fugindo), se chama Ternura.
É que não entendia que significava ternura antes.
Não, não mesmo. Se me explicar, passo pro próximo. Dificuldade. É porque ternura tem som bom. Ternura, doçura, travessura, gostosura...
E, o mais importante, o motivo deste texto! Terno é o que se usa nas propagandas de peru!
E eu adoro peru. A carne é terna, macia.
Opa! Terna não!
É tenra.
Aiai...agora já foi.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

hot, hot, hot

Queria ter a virilidade de um homem. Então, escreveria melhor sobre o que sinto agora.
As desire passes through
Os homens sabem descrever uma mulher. Queria ter metade desse talento para tentar explicar o que ele provoca em mim. Não é paixão. É algo mais instintivo. Tudo bem que precisou bater na minha porta mais de uma vez para que eu pudesse perceber. Depois que entrou, ferrou. Gostaria muito de saber a metáfora, a comparação certa. A malícia para dizer tudo, tudo, tudinho que passava da ponta dos pés ao último fio de cabelo. Mas, haveria malícia, tesão?
The one you felt for makes it seems juvenile
É. Se Alex Turner resolver cantar no meu ouvido, não respondo por mim.

sábado, 15 de maio de 2010

Só para ocupar espaço

O horóscopo disse para prestar atenção nos sinais. Que sinais poderia surgir pra quem ficou o dia todo em casa? Nenhum. Existem dias que valem por uma semana inteira e outros que poderiam sumir, ninguém perceberia a falta deles. A vida é inacreditável.
Existe um oceano dentro de cada um. A claridade varia não de acordo com a profundidade, talvez de acordo com qualquer coisa que escapa. Tudo nos escapa. Ainda bem. Beltrana não procurava certeza em Fulano. Ela não tinha certeza nem pra ela. Não queria a dele pra si. O que ofereceria em troca?
Beltrana até que gostaria de ser daquelas meninas que sabem quando é certo. Que definem. Ela era uma folha ao vento. Às vezes, chegava mais perto do chão e algum grão de areia a prendia à terra. Noutras, ziguezagueava sem rumo. Secava ao Sol aos poucos.
Queria ter sido rosa que moça enamorada ganha de presente. Pra ficar segura na janela, desidratar num mesmo canto, dia a dia. Até morar dentro de um livro.
Era Beltrana sem definição. Por isso, até mesmo por isso, seu nome, nome de qualquer uma.
Não tinha história. Era uma folha, aquela menina.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Intro - o dia mais quente do ano

As gotas de chuva caem aos poucos. Não, não. Caem aos montes. Fica melhor assim? Aos montes é sempre melhor. A chuva era daquelas de muito, de dar frio e ventar. Sabe chuva super forte? Essas são das boas. Dão tanto trabalho que ocupam só pra ela os segundos todos em que elas pingam na gente. Isso se a gente dar sorte de estar na rua. Porque debaixo de telhado é sem graça. Mas e a chuva. A chuva.
Se a gente está com uma chuva pra levar a gente, carregar, soprar areia, lavar a alma, escorrer no corpo, grudar a roupa no corpo, impossível se preocupar com algo mais.
Chuva é um ser tão invasivo, é de uma natureza tão folgada que nem me deixou espaço para falar do que deveria falar: o dia mais quente do ano.

domingo, 9 de maio de 2010

Noite de sexta

Ela queria o silêncio. Queria paz. A sensação de estar na chuva, ensopada. Era um ato de rebeldia. Estar ali, na chuva, a arriscar a saúde. Precisava de pequenos atos de transgressão. Precisava dizer a si mesma que seguia o coração. O que era o coração? Uma vontade. Vontade de ir embora quando lhe desse na cabeça. Vontade de desaparecer quando pudesse.
Entrou no carro, deu partida. Poderia se despedir de tudo, só para ter a sensação de melancolia dos que vão embora. Não, não é melancolia. Os que partem transgridem. São eles que carregam em si o mistério de não se adequarem àquele lugar, àquela gente. Queria sair sem rumo. O problema é que não sabia caminho nenhum. Ou seria solução? Era madrugada. A beira do mar fazia parte do roteiro para ir pra casa. Poderia parar um pouco, caminhar, respirar. Ficar em silêncio.
Precisava de silêncio.
Escreveu pra ele. Sabia da resposta mas o fez mesmo assim. Não haveria resposta. Isso seria tudo.
"É impossível".
Pensou, riscou, reescreveu. Temou pelas consequencias. Quis que ficasse em aberto. Impossível. De tudo que poderia lhe acontecer, haveria o que nunca faria parte do cotidiano. Ela não era daquelas pessoas que confiam no acaso e se soltam no mundo das possiblidades. A menina precisava da concretude para se segurar. Era frágil. Do tipo que adoecia por dentro. Frágil, que se escondia dos outros. Bancava outra coisa, outra versão. Mas era isso.
O possível seria a transgressão. A rebeldia. O contra. O inesperado. O impossível. oras. O contrário estava tão ali, tão perto. E nem continha o charme fútil dos que comparam ódio a amor. Apaixonados são sempre pequenos. Afinal, não se precisa de muito quando se vive sob paixão. Quanto menor, mais aconchego. Aí ficam eles, só neles. Sós.
Não se pode ser jovem por toda a vida. Ele não lhe diria nunca. Ele não lhe diria: nunca. Tatibitate. Tantas vezes, o óbvio é o que assusta. Por isso, damos a interpretar para ver se há algo mais no que nos parece tão pouco ou um nada tão seco. Que escrevesse ela para si mesma. Que repetisse e decorasse. E não se desdissesse desta vez.
Parou o carro. Jogou o papel fora. Queria um sorvete mas era madrugada, era madrugada. Não desceu. Não foi até a rua. Chorou um pouco. Deveria sempre chover nessas horas.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Aula de fotografia

Segundo período da faculdade. Roland Barthes. O punctum. Ou algo parecido. Todos juntos, olhos fechados, leitura de textos. Falação sobre o que surgia à mente. Minha mente é inquieta. Acelerada. Tanto que, mesmo lesa de tanto analgésico tomado para combater mais uma crise violenta de enxaqueca, ainda há quem me chame de elétrica. Isso quando me acho em marcha lenta. Bem. À aula.
O punctum me rendeu refazer o trabalho. Pela segunda vez, refiz trabalho na faculdade. Eu sempre entedia outra coisa. Bem outra.
Bolas pretas, linhas, mudanças de cenário. Quase um videoclipe. Na minha vez de ler: Água Viva, de Clarice. Último livro que li dela. Foi na época de...de. Segundo período. Roland Barthes. Primeira aula de campo. Minhas melhores fotos. Todas montadas. Fui de mochila nas costas. Livro de Clarice (de novo!), lenço fino da minha mãe, um vestido antigo - da minha mãe. Da época que ela conheceu meu pai. Ladeiras de Olinda. Flores caídas, escada e o livro. Grade amarrada com o lenço e moto passante na rua. Fotos. Léo deitado de braços abertos, de bruços, no chão da Igreja. Lívia envolta numa toalha de renda, pra parecer uma santa no meio do comércio da Sé. Fotos. Visão meticulosa, Mariana.
Nada. Imaginação. No zoológico não prestou nada. A foto estava ali, na minha cabeça. Mas os animais não queriam cooperar.
Existem dois mundos. Um de dentro e um de fora. No de dentro, há um riso gostoso, confortável, à vontade. Saído do nada por causa da minha timidez. Né que sou tímida? (Mas não vou me censurar. Afinal, vai tudo sempre sem edição. Nunca revisei nem redação de Vestibular). No de fora. Nada. Nada.
Às vezes, consigo bons modelos, que topam embarcar na minha criação fantástica. Fugir de aula para tomar banho de chuva. Parar ônibus com sombrinhas. Correr por edifícios alheios e viver histórias que não poderão ser contadas -ninguém vai acreditar.
Nas outras - eu deveria usar papel e caneta para escrever, a tecla del. Parar e pensar. Mas imaginação é coisa tola. Qualquer coisa, foge.

domingo, 2 de maio de 2010

Um café turco, por favor

Daqui a pouco faz uma semana que estou com o título acima na cabeça. Café turco, aquele que as pessoas leem a borra pra fazer advinhações sobre futuro. Sempre fui muito inquieta, muito. E totalmente incoerente quando se diz respeito a destino. Vivo entregando ao universo ou coisa que o valha minhas decisões. Uso o universo de desculpa pro que eu quero fazer mas tenho medo. A música que toca na rádio, a recorrência de encontros com uma palavra, por exemplo. Tudo isso tem poder para mudar o caminho da minha vida.
Há alguns dias, basta falar de alguém ou alguém relacionado a este alguém e ele surge na minha frente. Pode ser uma pessoa que eu não vejo há anos. E eu juro que gostaria muito de entender isso.
Tem gente quem diga que eu tenho intuição. Outros que, pelo tanto que me arrisco, sou bem protegida pelo meu anjo da guarda. Semana passada, pratiquei a máxima de que faixa de pedestre deve ser respeitada e fui atravessar sem me preocupar muito com os carros. Uma senhora educada parou. A de trás precisou fazer uma manobra inesperada do tipo que canta pneus e etc.
Quando eu era assessora de Imprensa do HR, o local mais evitado por mim era a UTI pediátrica. Crianças que estão ali há anos e não sabem se retornam para casa. Bebês num esforço extremo de luta pela vida. E tão novos.
Um dia, fui lá e vi uma menina de pouco mais de dois meses. Algo nela mexeu comigo, além da conta. Parei um pouco, fechei os olhos. Ofereci uns dois anos da minha existência para que ela saísse de lá , afinal já estava com 24 anos e isso é um bocado perto de dois meses. Tentei mentalizar da mesma forma que pedia, aos cinco anos, para as sereias me levarem de volta pro fundo do mar porque eu não pertencia, não me encaixava à vida na areia. Dias depois, perguntei da menina. Recebera alta. Tá. Tentei fazer isso de novo, pra ajudar pessoas próximas mas não consegui. Até porque coincidência desse tipo só deve existir uma vez. Gastei a minha.´
Em janeiro, procurei um conhecido para jogar tarot pra mim. Ele me falou quinhentas mil coisas ótimas. A meu ver, existem umas duas que não eram tão ótimas assim. Mas.
É. Eu queria mesmo um café turco.