sábado, 27 de fevereiro de 2010

Fita amarela

Achava a moça que o coração dela havia morrido antes dela mesma partir. Só haveria restado o corpo, e corpo sem coração precisa ser usado bastante para dar continuidade ao andamento do sangue. Pernas, coxas, braços, tudo isso precisava manter-se irrigado.
E foi tanto esforço, tanto cansaço, tanto resfolego, que, de hora pra outra - coração dá sinal de que pode bater de novo. Curioso, né?

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres

- Alô, senhora Mariana Maciel?
- Alô.
- Ligamos porque recebemos sua opinião sobre nossos produtos. A senhora poderia explicar melhor?
- Posso sim. É que deveria ter mais variedade de bombons e chocolates, semana passada faltou sete belo e chocolate surpresa e biscoito são luiz de chocolate também.
- Muito obrigada pela sua opinião, senhora Mariana. Estamos à disposição.

Isso aconteceu há quase vinte anos, mas poderia ter sido ontem. Ou não. Afinal, já tenho anos nas costas de terapia cognitiva e uns seis meses de análise freudiana. Porém, uma vez chata, sempre, eternamente, prazeirosamente, chata.
Ser chato é uma arte. Quantos bilhetes escrevi naquele supermercado até ligarem para minha casa? Vários! Por semanas. Ser chato é ser um persistente. Um guerreiro. É quase um ato de heroísmo, ainda mais em tempos de gente cheia de fru frus e não sei quês, em que toda menina tem cara de boneca e a maior moda é ser legal - a história de ter atitude ficou pra trás, viu! Aviso logo!
Para chegar no meu nível de chatice, foi preciso muito esforço. Quantas vezes meus foras soaram incompreensíveis e caí no ridículo? Quantas vezes reclamei na fila e estava enganada? Aí, bem, era um gasto de energia. Ombos travados. Ser implicante dá um trabalho. Enorme, imenso, incomensurável (tem palavra mais chata que incomensurável? só nexo, creio).
Comecei a deixar pra lá. Ri da gracinha do garçom que falou que a lagarta estava no meu prato porque era vegetariana e gostava de alface tanto quanto eu. Deixei pra lá quando deram em cima de namorado meu na minha frente, só me retirei para não passar constrangimento. Comecei a tirar por menos, por menos, por menos.
Mas peraí - aturar surfista que ama natureza montar barraca em local de desova de tartaruga marinha?
Foi demais pra mim. Liberei a chata novamente.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Alesamento

A equipe de House aplica eletrochoque para curar um paciente que infartava por causa de um coração partido. Lembrança esquecida, rapaz salvo. Um filme aí mostrava o difícil desapego da menina em abandonar o namorado imaginário para ficar com um de verdade.
E lembrei que já há um tempo, me apaixono toda semana. Não necessariamente por alguém. Me apaixono por uma música, um vocalista de uma banda, uma cor, um vestido, uma comida. Um filme. Algumas paixões duram um bocado. Minha Vida Sem Mim e A Vida Secreta das Palavras. (Por quais palavras sou apaixonada?).
Hoje, eu estava triste. TPM e ressaca pós carnaval com virose pesada. Precisava daquela vivicidade que só a paixão traz. Paixão, de vez em quando, pode ser um ato de rebeldia. Uma revolução. Uma virada. Precisava me sentir apaixonada, inconsequente. Precisava sentir que quebrava regras por algo, por um sentimento.
Apesar de todo mal estar, do arrepio de frio, dor de cabeça, vômito e diarréia dos dois últimos dias. Estou viva! Muito viva! Queria gritar.
- Moço, um sorvete de duas bolas. Não, três. Duas de chocolate e uma de cajá.
Entrei no carro e tomei tudo até o fim, de frente pro mar, com o CD de Norah Jones bem alto. Acho que nem era paixão. Para deixar calminha assim, tinha que ser amor.

Romantismo

Sempre vi apenas benefícios em morar sozinha. Meu maior desejo desde criança. Botava placa no quarto exigindo privacidade. Escrevia manifestos de independência. Odiei a Disney porque queria o dinheiro para comprar meu apartamento. Para quê carro se o melhor era ter um espaço só meu. Para ficar sozinha, com o silêncio de companheiro fiel.
Até passar mal de madrugada, ter que limpar vômito, para depois vomitar de novo, limpar de novo. Mudar de quarto porque não queria repetir o processo pela quarta ou quinta vez.
Deve ser mais fácil morar junto com alguém. Acho que é por isso que as pessoas arrumam namorado e vão dividir uma casa.

Felicidade

O jogo do contente é umas das principais, caso não a principal, lição do clássico para meninas Pollyanna. Frente às adversidades, a heroína que dá nome ao livro busca sempre um lado enriquecedor, belo, positivo. Os livros de auto-ajuda atualizam de alguma forma esse modo de pensar. Alguns colocam no próprio ato de pensar as ferramentas essenciais para nos aproximarmos da felicidade e do sucesso: amoroso, pessoal, profissional. Agora, depois da introdução, vamos refletir sobre uma das maiores preocupações femininas durante esta época do ano. Ela, a famigerada, detestada, aterrorizante celulite.

Não é intenção explicar causas, consequências, dicas de tratamento e exercícios milagrosos para lidar com a maldita que ocupa nossas mentes no verão bem mais que a tendência neon, as colorações verde e cinza de esmalte, a vacina para a gripe A e o novo hit da Lady Gaga. A responsável pela aparência de casca de laranja dos derriéres femininos precisa ser encarada como muito mais que isso. Não, queridas, não vale pensar “Ah, a Juliana Paes também tem. Beyoncé também tem”. Mais que famosas, elas possuem medidas que desculpam qualquer falha na pele. Pobres mortais como eu e você, leitora, não dispomos de mais de 100 cm de quadril arrematados por menos de 70 cm de cintura. Padrão internacional de gostosura e não de fofura.
Então, qual o grande segredo e, o mais importante, o que Pollyanna e auto-ajuda têm a ver com celulite? Simples! Se cada ruga envergada em nossa pele é uma demonstração de que foram tantas emoções que vivemos, cada celulite é sinal de uma grande felicidade experimentada. E mais. Experimentada através de duas das maiores fontes de prazer acessíveis aos seres vivos: o ócio e o paladar.

Funciona assim: um grupo de amigas se encontra no bar para fofocar e, se derem sorte, paquerar. Estão cansadas do trabalho, angustiadas pelas tarefas que não conseguem concluir nunca, com a falta de tempo para si mesmas e a distância temporal entre o dia atual e as sonhadas férias. Qual a melhor saída? Perder tempo falando mal do mundo e como a vida é cruel e o trânsito estafante? Destroçar a moral masculina, afinal os homens são egoístas, imaturos e cruéis? Discorrer sobre se a família deveria ou não lançar o livro póstumo do Nabokov, o autor de Lolita, e cansar mais ainda os neurônios? Nadinha. O mais adequado é iniciar uma meditação cujo mantra será: humm, hummm. A-há! Acertou em cheio quem chutou que o salvador da noite seria um doce. Sugestão: Um waffle com sorvete de creme e calda de chocolate. No capricho e com a massa crocante, por favor.

Senhoritas, não pensem que é consolo de mulher feia. É, simplesmente, a comemoração de nosso descompromisso com a estética photoshop atual. É, digamos, um enfrentamento, um ensaio de revolução. Agora, não serve se a estratégia for utilizada como desculpa de menina amarela. É algo que precisa ser verdadeiro, honesto. Profundíssimo, que não sai nem com superdrenagem linfática.

Então, garotas, cada celulite é a prova material de horas a mais de descanso e silêncio distante da rotina espartana das academias. É a marca indelével de tortas e fricotes deliciosos com as comadres. Vamos sentir o Sol, sem canga, sem medo, sem vergonha. Quando um traseiro esculpido a traço de cartunista passar na nossa frente, vamos fazer uma oração pela infeliz moçoila. Ela não sabe como é bom se parecer um pouco com uma casca de laranja.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Hiperatividade momesca

Quinhentos mil planos românticos para um 14 de fevereiro - Valentine´s Day - que cai num domingo de Carnaval. Quase comprei uma fantasia bem bonita de Colombina. Fiquei com a de Espanhola porque usar branco com muito filó pra descer e subir ladeira, logo eu, a menina do impossível, não daria certo.

Não pude ir além. Depois de notar um amassado misterioso (ô estacionamento de shopping!), arremessar uma escada na casa do vizinho, destelhar um pouco (viu, mãe) a lavanderia no arremesso da escada, ter sintomas de insolação, ser rejeitada pela minha gata, não haveria como pensar em Valentine´s Day.

Agora, que já terminou o tal 14 de fevereiro, distante da minha gata, com o gato filhote silenciado na casa do vizinho, fico a imaginar o homem da minha vida. Penso, penso, penso, penso.

E só dá vontade de:
- fazer paródia da música da gente alheia
- planejar minha festa de aniversário
- tirar do papel a banda com as meninas
-aprender a tocar qualquer coisa pra poder montar a banda
- projeto do mestrado
-email para não sei quem
- que filme posso ver na terça
- Semana Santa
- fazer um blog de verdade, com textos baseados nos assuntos seríissimos de mesa de bar à base de H2Oh e waffles.

É melhor dormir.

Putz! Esqueci o começo da paródia da hora do Acho é Pouco! Lembrei!!!!!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Segredo maior do universo!

Implicante que sou, ariana que sou, adoro extremos. Opostos, radicalismos. Não gosto de meio termos, encimas do muro. Ou Legião ou Barão Vermelho. Ou Michael Jackson ou Madonna. Meu coração é pequeno o suficiente para ter que escolher. Cabe todo mundo não, ora essa. Né casa de Mãe Joana.
Já dizia a minha avó: "Coração é terra sem lei". E quando menos se espera, aparece um sem terra para reivindicar terra fértil sem cultivo. Finca bandeira, levanta acampamento. Com pouco alarde. Só uns timbres soltos. Não de quem entoa grito de guerra. Um assovio destraído de quem não se dá conta do risco que é pro dono da terra tomada.
E se demorar séculos para dar frutos, o assentamento vai embora? Como fica a grama sem o assovio? Sabe aquela lenda da menina do pé de figo? Tinha algo a ver com a voz da heroína?
Até que BV não é tão tenebroso assim.