terça-feira, 29 de setembro de 2009

Estava de bobeira pela livraria em busca de um livro sobre Psicanálise e Contos de Fadas, já que não encontrava o de Borges sobre Seres Imaginários. Menina imatura é assim mesmo, vive de criar mundos fantásticos para brincar de jogo do contente. Eis que me deparo com vários títulos esquisitos direcionados ao público feminino.

Um deles tratava dos modos que as mulheres devem se portar num relacionamento. Misturava dicas que sequer minha avó daria a outros trechos traumatizantes dos quais fui poupada de recordar. Outro livro, muito interessante, explicava a questão das recordações negativas - o cérebro nos protege das lembranças amargas. Era em quadrinhos, falava sobre abuso emocional, dependência emocional (argumentava que, de fato, era dependência química), etc.

O que me chamou mais atenção e o qual não pude folhear (porque o amigo que esperava chego na hora) era um sobre as 10 mulheres que somos antes dos 35. Bem, estou até agora a imaginar quantas já fui, já que estou no ápice dos meus 25 anos.

(continua)

domingo, 27 de setembro de 2009

Kley e a gente


Há quase um mês, paguei a hospedagem completa num albergue em Porto de Galinhas. Minha e de uma amiga. Fizemos vários planos, preparamos trilha sonora pra estrada, ensaiamos até abrir espumante pra recepcionar uma outra amiga.


Aí Kley teve uma parada respiratória. Vi um atropelamento de uma criança pelo carro da frente. O menino correu na avenida do nada. Minha irmã desesperada e eu sem reação. Kley é internado. O carro, deixado na frente de casa por causa de tristeza, quase arrombado. Saio da oficina, bato numa moto. Minha mãe lembra dos sonhos da semana e deixo Porto somente pro domingo. Despacho Marilia pra lá. De choro, basta o meu. Ou choro por ela, ou por Kley. Por dois, é muito. E é melhor chorar na frente do mar que na frente da parede branca do quarto dela.


Fico em casa. Sem graça, abraçada nas gatas, triste. Sorte que tenho amigos. Muitos, maravilhosos. Anjos. Todos com carinho para dar numa hora que poderia ser banal para tanta gente. Era só um cachorrinho, já velho, já cego, já feio. Com mau cheiro. Que usava fralda descartável e acordava a casa toda todas as madrugadas.


Só que era Kley. Ele corria atrás de galinhas, corria para não apanhar dos gatos. Levou susto de sapo cururu. Achava que era um pastor alemão. Derrubava as roupas da minha mãe no chão quando ela não estava em casa. E tinha ciúme das mulheres da família.


Kley me salvou de namorar um carinha que estava nem aí pra mim. Uniu-se a Marilia e expulsou o dito cujo aos latidos agudos dele. Kley chegou numa caixa aqui em casa, amarelado, cor de caramelo, fofo. Dia 30 de agosto de 1993. Quarenta dias depois de nascer. Ele só gostava de ração de gato, fã de peito de galinha e chocolate. Fugia de casa apaixonado pelas cachorrinha da esquina. Tinha bigode bem tosado, em homenagem ao meu pai.


Kley era especial. Querido pelos meus amigos, pelos meus tios. Minha avó, que nem de bicho gosta, chorou. Ele foi tão doce que esperou minha mãe viajar pra poder partir. Pra poupá-la.
Kley, você foi pro céu dos cachorrinhos. Encontrar seu pai, Ícaro, sua mãe, Fada, e seus irmãos. Você foi levar alegria e bagunça pra lá. Arranjar umas namoradas e comer bem muito filé de peito de frango grelhado. A gente levou pra você na clínica, mas você queria o do céu, que era mais gostoso. Obrigada, meu cachorrinho, obrigada por tudo. Como disse ontem ao me despedir: todos nós amamos muito você.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A Torre

Despedida.

Nantes - Beirut

Well it's been a long time, long time now
Since I've seen you smile
And I'll gamble away my fright
And I'll gamble away my time
And in a year, a year or so
This will slip into the sea
Well it's been a long time, long time now
Since I've seen you smile
Nobody raise your voices

Just another night in Nantes
Nobody raise your voices
Just another night in Nantes

A Temperança

Às vezes, dá medo de escrever o que vem à cabeça. Só se eu tivesse certeza de que ninguém leria e que o que penso me abandonaria. Lili? Lili descobriu que era somente um personagem de uma historinha rascunhada. Sofreu, sofreu, chorou. Pensou em cortas os pulsos. E pulso de personagem sangra? Se sangra, causa morte? Ela não tem medo de morte. Tem medo de continaur existindo de fantasia. Ser fantasia é muito ruim. É muito pouco. É de mentira, eis o problema, em resumo. A fada boa de voz grave feito bruxa passou uma poção mágica para se aquietar e parar de histerismo desnecessário. Oras, todo mundo fica doido pelo menos uma vez na vida. Que coisa! Lili lembrou que não entrava no mar com medo de ser levada pelas sereias. Medo nada! Medo só de polvo e tubarão, que nem existem no mundo dela. Ela quer mais é sair do mundo dela e virar gente. O temor era esperança.
No mundo de Lili, sereia também não existe. Claro, né!
Ela ensaiou uma partida. O narrador confidenciou que espera. Talvez ela vá mesmo embora.

sábado, 19 de setembro de 2009

Medo de primavera ou Do Instinto

Não sei usar pronomes. Não sei dizer eu. Talvez porque minha marca esteja escancarada o tempo todo porque não paro nunca. Não descanso, não durmo. E para cada não que me dou, devolvo uns cincos sim. Ou não. Ou sim. Quem sabe? Importa, de fato? De que vale cada afirmação?
Quando escrevo, descanso. Durmo. Por isso, melhor ficar na torre, mais seguro. Que há de mim além do instinto? Além do inquieto, do inconstante, da vontade de deixar de ser uma para virar milhões e dividir os rastros de sentimentos dispersos, escondidos em cada ato mal empregado, em cada armadilha por esse eu montada? Se houver uma palavra para ser apagada, que seja eu. O nós alivia a culpa. Culpa de quê? Nós é bom – vale por dois e por todos os problemas. Que problemas? De fato, há algum?

Escrevo para concentrar os olhos num único ponto. E dar lugar para as mãos e dedos. As pernas que se contorcem entre cadeira e chão e coxas. As coxas que possuem vida própria e seguem o que lhes der vontade e prendem entre elas aquilo que lhes carece. A vontade que escurece e ilumina. Mais ilumina, por que vontade é sempre bonita.

Vontade é sempre leveza. Vontade é que tem razão. Vontade é um sorriso. Qualquer um. Desde que seja.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Para todos e qualquer um


A maneira mais fácil de se saber se gostamos ou não de um filme ou de livro é quando nos percebemos envolvidos com os personagens. Ou seja, quando torcemos pelo final que desejamos. Quanto maior a vontade de ler um livro ou assistir tal filme, mais quero saber de como o enredo termina. Muitas pessoas estranham quando pergunto por quem morre. Uma amiga sabia que, por gostar de saber, eu gostava de contar, me pedia para eu não falar nada. Aí eu dizia:" A mocinha morre grávida no final". Ela batia em mim para depois me chamar de abestalhada e voltarmos aos risos. Cecília sempre acreditava.


Só que saber o fim da história me impediu de terminar um dos livros que mais me marcaram e inspiraram na vida: Memorial do Convento, de Saramago. Hoje, relembrei de Blimunda. Uma querida amiga precisava fazer um blog ilustrado. E escolheu o tema desejo. Discutimos logo Foucault e Freud. Nietszche ficou de fora, até porque nem sei se elas gostam ou leram. Eu mesma não li por puro medo, tudo que sei é do tanto que ouvi falar. No debate, também foram citados Hilda Hilst e Victor Hugo, com aquele texto bem bonito que virou música bem chata dos chatos do Barão Vermelho. Fernanda lembrou do adorável e belo Up - Altas Aventuras e eu de Blimunda.


Desejo é uma nuvem. Ao sabor do vento, a criar o vento. Vai e volta, desprendida, imprevisível. Livre. Quando acumulamos muito desejo, o desejo se transforma em chuva. Vira água. Escorre rápido e mais rápido ainda vai embora, evapora. As nuvens do desejo podem deixar o dia mais bonito ou mais cinzento. Será que é por isso que gosto tanto de tomar banho de chuva? Para lavar a minha alma dos quereres? Ontem, rejeitei o cuidado de dois cavalheiros e os deixei com o guarda-chuva. Dispenso sombrinha - nas minhas mãos, ou se perde ou se quebra, não possuem nenhuma serventia.


Meu desejo de agora? Não desejar mais o bolo de rolo de chocolate que minha mãe compra e me engorda. Muito. Porque sou muito criança para resistir à felicidade intensa e curta de um chocolate que escorre naquela massa fofinha açucarada.


Um desejo que não seja desejo, um sonho? Fazer um milk shake com ganache de chocolate amargo e sorvete de creme. Para depois testar o mesmo ganache com sorvete de chocolate da John´s. Acompanhados de um mega sanduíche de queijo polenguinho.


Ah, são desejos só meus. Que posso dizer que ninguém mais tem, só eu. Os outros, os outros são comuns de todos.


Indicação de leitura: Nina Chuva e Luna Clara & Apolo Onze

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Lili e o mundo

No mundo de Lili, todos os habitantes guardam num local bem especial e escondido o coração. Na verdade, é uma tábua. Cada vez que o coração é ferido, abre um buraco. Espaço que pode até ser tapado, mas fica sempre a marca, a cicatriz, do furo. Só que ali não é um lugar comum. É o país de Lili.Então, onde foi feito cada furo, que nunca poderá voltar a ser um espaço de madeira lisa da tábua, é meio que lapidado o buraco. Há um esforço para deixá-lo mais arredondado. Bem bonitinho.
Aí, aquele vazio passa a ser preenchido pelo doce favorito da pessoa dona do coração-tábua. No de Lili, os buracos são ocupados por tortas de morango, bolos de chocolate, trufas de chocolate amargo, picolé de limão, sorvete de chocolate. Tudo que ela gosta de chocolate. Até mesmo Milk shake que se toma de colher. As tábuas esburacadas e sem graça, no país dela, só ficam assim se o dono for bobo e assim quiser. Porque bom mesmo é que quando cada mágoa vira um doce, colorido, bonito e bem gostoso. Para comer lambendo o dedo e melando até a ponta do nariz.

Casa de mãe Joana

A objetividade é um dom. Seguir em linha reta, com precisão, Um dom. Organizar quarto e guarda-roupa, mantê-los ajustados, roupas estiradas, cabides bem pendurados.Não é coisa pra qualquer um. Uma amiga disse que deixamos gavetas e guarda-roupa igual à forma que deixamos nossas emoções. Meu quarto é um brinco. À força, porque ainda moro com meus pais. As gavetas, o caos. Não abra nunca a porta do meu guarda-roupa, pode desmoronar um mundo inteiro em cima de você. Nem ouse virar a chave que abre a porta que vai lhe dar acesso a mim. Ninguém sabe se lá abriga uma versão mais bagunçada da caixa de Pandora.

Mas vem cá? Não somos todos assim? Emaranhados, colchas de retalhos mal costurados? Quando criança, criei minha própria grife de roupas de Barbie - a Kolinha. Para quê usar linha e agulha, que complicava, enganchava e me fazia perder a ponta da costura? Cola Tenaz nas pontas dos tecidos que sobravam das costuras de vovó. Mais rápido e mais prático. Só não era à prova d´água. E ainda podia ter elástico por dentro.

Tem gente que ganha tempo pra desencavar aquilo que precisa por causa da organização. Por medo, desleixo ou sei lá o quê, jogo tudo em qualquer canto, passo por cima, acumulo. Deixo pelos espaços. Acho a bagunça uma coisa linda. Vai ver por isso nunca curti lego. Não dobrava, não desafiava a lei da gravidade, deixava tudo reto, alinhado, estruturado.

O bom é o desarranjado, o inesperado, o monstrinho. Feito aquele desenho animado do Natal - dos duendes e dos gnomos. Até hoje, não sei qual deles queria ser. Ah, e por que temos que escolher, excluir? O bom é tudo junto, misturado. Não abra a porta. Não torne a chave. Vai que Pandora se joga em cima de você.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Medo - 1/10000000

Eis que, obrigada, adquiro meu primeiro transportador compacto de arquivos. Na primeira vez que ouvi falar em pen drive, em 2005, pensei que era algum tipo de caneta especial armazenadora de arquivos e de ponta esferográfica nas cores azul ou preta. Foi com muita estranheza e desânimo que olhei para aquele pedaço de metal sem graça.
Até meus pais são donos de um transportador desses. Só comprei por pressão social. Com que cara entregaria um CD ou pediria para baixar o arquivo do email em tempos de mp...7, 10, 15, 55 (algo cuja utilidade ainda não foi decodificada pelo aparato cognitivo antiquado e tradicionalista). As melhores palavras saem dos meus dedos sob uma caneta e sobre papel. Bem ilegível.
Quando um filho meu pedir um aparato tecnológico desnecessário e alegar que todo mundo tem, vou perguntar se ele está registrado por todo mundo, fiho de maria não sei quem. Ai da minha filha se ousar alisar cabelo antes dos 18, com o dinheiro dos pais.
Atitudes só devem realmente ser tomadas em caso de necessidade urgente. Voltar ao lugar é tão difícil, desapegar-se é uma lição tão dura, redescobrir a desnecessidade é tão mais complicado. Vou abandonar meu celular com TV digital antes de passar ao menos cinco minutos em frente àquela mini tela. Em favor da revisão do meu carro, por ventura de mini/macro viagens. Porque é preciso querer ir embora para saber porque precisamos ficar.
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Lembrar: Crônicas de um quase boato ou Catequismo atravessado no êxodo do Litoral Sul pernambucano.