segunda-feira, 30 de março de 2009

Passos


Joaquina agradece imensamente aos últimos homens da sua vida. Ela que contou, enquanto bebíamos vinho e comíamos chocolate. Era uma tarde de sábado, de fofoca, de coisinhas de mulherzinha.



O primeiro deles lhe ensinou a dizer não, mesmo depois de muito ter errado, mesmo que meio tarde. Mostrou que ela ainda sabe manter limites e seguir em frente. Que sabe gostar da leveza e percebe quando a leveza engana. Joaquina restabeleceu sua conexão com o tempo, com a dignidade que pedia pra sair de dentro dela. A recordar que pode fazer escolhas. E escolher não é algo tão simples. Joaquina escolheu por ela e pela realidade.


O segundo lhe apresentou a sinceridade de uma atração inesperada e surpreendente. Em dois dias que valeram por duas semanas ou dois meses. E o valor disso para uma amizade. Que amor sem amizade não existe. E que vale a pena acreditar novamente, dar a cara para bater novamente. Até esgotar as possibilidades. Até ver que não dá certo mas que valeu ter tentado. O número dois lhe disse pra não ser tão racional assim, pra aceitar o instinto.


Depois, aquele que viu um potencial de mulher escondido em modos de menina. Quase uma fada madrinha. Um catalisador. Um guia. Um protetor. E um alerta também. Sempre existem lições que precisam ser revisadas. O terceiro olhou para ela e disse para que ela se enxergasse. Com bons e atentos olhos. Para cada traço, para cada passo, para cada pensamento, para cada atitude, Para cada curva, para o cabelo, para a boca, para os olhos. E Joaquina diminuiu o comprimento dos vestidos, começou a perder o medo dos decotes, lembrou de si. Voltou a se reconhecer nela. A ver uma fêmea nela. A saber quem era.


E todos se foram, com missões cumpridas, com lista de tarefas preenchidas. Com afetos deixados e queridos. Joaquina disse que a lição que mais importa é que ela ainda sabe a tranqüilidade, a sobriedade, que vem com o desapego.

Silêncio

Às portas dos meu vinte e cinco anos, quando já sei que minha ansiedade vai dar a largada para contar cada dia como um a menos para meu relógio biológico (sem comentários), percebo os sinais da maturidade.

Fui ver sábado “He´s not that into you” e refleti bastante. Desde o “por que chamo minhas amigas pra ver esse filme?” passei por “Assisti comédia romântica demais na minha vida” até chegar a “Preciso amadurecer urgentemente”.

Só que, por mais chato que seja, o amadurecimento já está chegando. Tanto que nem coloco neste espaço tudo que meu impulso gostaria. A cada dez linhas escritas, somente duas permanecem.

E é nisso que reside meu maior medo de envelhecer. Endurecer.


Pergunta nascida da observação:

- As pessoas têm optado por manter-se afastadas daquelas que lhe provocam algo além da indiferença, mas parecem ameaças ao instinto de auto-preservação? Mesmo que elas possuam algum talento para tirá-las da apatia? Mais: é realmente melhor um relacionamento tranqüilo e estável que não vai nem vem do que o causador de arrebatamentos? Não é bem isso, é algo parecido, mas não estou com inspiração para explicar.

Constatação da reflexão:

- Quem ama, fica perto. Quem não ama, fica longe. Simples e óbvio. Já ouvi dizer que perceber o óbvio é o mais difícil. Por isso que auto-ajuda vende tanto.

Os post revelam indicações do vazio.

domingo, 29 de março de 2009

Estudante sofre!


Como de praxe, dois meses é o tempo máximo que suporto com meu cabelo do mesmo jeito. Passar três meses e ver a mesma coisa todo dia no espelho é um problema. Então, quando fui na manicure, me ofereceram um tratamento ultra mega super hiper moderno pra deixar o cabelo cauterizado, hidratado, amaciado, alisado, etc, etc e tal mais alguns xampús especiais e caríssimos que disse logo não poder pagar. Aí, deixei de virar alusada pra virar alisada. Financeiramente também.


Então, como aprendiz de perua, saí desfilando minhas novas madeixas (não muito diferente das antigas, porque só fiz alisar meu cabelo liso) pela rua, pelo shopping, pelo cinema, pelo bar e ... pela praia. Pela praia! Isso que dá fazer uma saída brusca de protótipo de hippie anti-consumo pra consumista iniciante. Tentei, como muito esforço, resistir às águas translúcidas azuis, lindas, com peixinhos coloridos, do mar. Não mergulhei atrás de nenhum cardume, não brinquei de caldo, não saí nadando com medo de tubarão. Só que havia uma prancha no meio do caminho. No começo, minha proteção para a água salina. Depois, um trampolim improvisado. E, desequilibrada que sou, tchibum! Um dia depois do tratamento de choque.


Fiquei no mar mais um bom tempo. Tanto que consegui deixar a marca do biquiní, inexistente há séculos. Depois, água doce e, agora, só a química sabe quanto tempo vai demorar pra meu cabelo alisado ser somente liso de novo. Depois do banho de mar, provavelmente, menos de dois meses. Melhor pro meu tédio capilar.


Vida de aprendiz de perua é muito dura. Passar o dia todo na frente do mar e não poder correr atrás de peixe é um saquinho. Vai ver que preciso repensar essa vida.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Outras versões - Mesa de Bar


“Sofri demais quando você me deu o fora
Mas o tempo passa, o mundo gira
O mundo é uma bola
Tatuei a minha pele
Radicalizei
Entrei na academia e não me barbeei
E agora te apresento
Minha nova namorada, que

Pensou

Que eu ia me drogar por você
Que eu ia beber por amor
Que eu ia pedir pra me gaiar aah, aah”


Homenagem a uma querida amiga minha.

terça-feira, 24 de março de 2009

Classificações Avulsas


(Inspirações pós aula do almoço)


Um ex-namorado odiava minha mania de classificar pessoas. De usar meu faro para colocar em caixinhas os tipos humanos. No tarot, as imagens do comportamento humano são concentradas nos arquétipos. A mulher sensual e pragmática está na Rainha de Ouros; a mulher sedutora na Rainha de Copas; o cara conquistador no Rei de Paus, etc.

Nas rodas femininas, existe a classificação clássica que separa o machão, do bonzinho e do cafajeste. Categorias que possuem variações (macho alfa x macho beta; homem tipo A, tipo B e tipo C; vodca com pôquer, vinho com xadrez, uísque com videogame, cerveja com futebol e todinho com peteca, etc).

A questão é: por mais que no mercado de romances surjam tipo variados, geralmente, oscilamos entre os mesmos personagens. Por mais que se saiba que o tipo real ideal seria o uísque com videogame, sempre fazemos deles nossos melhores amigos e não conseguimos deslocar nossa atração para indivíduos assim, até porque uísque deixa um gosto de sapato velho na boca no day after.

A tipologia acima analisada foi repassada por um amigo que tomou conhecimento desses conceitos-chave através de uma amiga. Cerveja com futebol seria um cara mediano a la Homer Simpson; o vinho com chocolate corresponde ao gentleman; uísque com videogame é o cara gente boa que nos passa a versão masculina dos fatos, sem frescura; vodca com pôquer – o aventureiro, o cafajeste por excelência; e, o último tipo, criado por mim, o todinho com peteca, que representa o clássico “criado por vó” (e por mãe, tia, madrinha, com muita goma na roupinha, aquela não tem uma mancha). Ah, namorei um menino que foi passar o dia com minha família na praia e levou uma mochilinha. Quando dei uma olhada discreta, avistei uma cueca bem dobrada, que parecia ter acabado de sair do pacote “compre duas e leve a terceira de graça”.

(Bolsa ajuda a decifrar a esfinge feminina e a mochila é sua correspondente quando tratamos de homens. O mauricinho se entrega por ser muito organizado. O macho alfa não tem mochila, querida, ele carrega tudo numa sacola de supermercado e pronto ou, na mais sensível das hipóteses, enfia tudo numa sacola de tecido com estampas do exército – feche os olhos e imagine a bagagem que Rambo levaria para a lua de mel, pronto, algo do tipo)

Embora a gente saiba que toda a sofisticação do vinho com chocolate seja, na verdade, obra de um cerveja com futebol mal disfarçado ou um vodca com pôquer mais elegante, caímos na tentação de acreditar que príncipes encantados existem. Às vezes faltou somente beijar o sapo para a transformação acontecer.

Não aceitava muito bem o porquê de Carrie, em Sex and the City, cair de amores por Mr. Big quando o Mr. Right seria Aidan. Até parar para pensar e ver que Aidan não era tão certinho pra ela assim. Para ficar com Aidan, Carrie precisaria ser o que ele esperava dela, não ela mesma. Apaixonada, ela tentou bastante. O oposto do que acontecia com Big. O cafajeste era o príncipe e o príncipe era o sapo.

As classificações são importantes porque nos ajudam a tecer parâmetros, para deixarmos acesa aquela luz de alerta. Numa comparação criada neste meu auge consumista: por mais que eu acredite que meu tamanho seja 38 e o vestido P, estou, no momento, com uma calça 36 bastante confortável, além disso, existem lojas onde o PP ou o M vestem bem melhor no meu corpo. É preciso provar e ver como fica o caimento, o ajuste. Na afobação, em meio a uma promoção irresistível, dia desses, levei uma sandália linda de um número maior que o meu e que, depois, deu problemas para usar. Linda na vitrine e na hora da compra, em seguida, meio sem graça no meu pé.

domingo, 22 de março de 2009

check list

Rascunho

Trilha sonora:

2000 - Marisa Monte - Barulhinho Bom
2000/ 2001 - Cranberries
2001 - Chico Buarque e Caetano e Djavan e Kid Abelha e Paulo Diniz e Raul Seixas
2002 - Norah Jones
2003 - Nina Simone
2004 - Cardigans, Grant Lee, Joss Stone, Billy Holiday, Norah Jones, Madeleine Peyroux
2005 -
2006 - Zélia Duncan toca samba,
2007 - Amy Winehouse
2008 - Duffy, Feist, Norah Jones, BSS, RK
2009 - Bob Dylan
Minha memória musical é péssima.

Inferno Astral ou Blowing in the wind


Alguém querido lhe dizer um monte de coisa que você pensa e que lhe incomoda às vezes tira a gente do tempo. Principalmente, quando são itens habilmente (ou nem tanto) varridos para debaixo do tapete ou escondidos debaixo da cama, no lugar onde habitam os monstros da infância, aqueles que nos perseguem por muito, muito tempo.


Passos foram dados.


É que há mais silêncio que o normal. Depois da tormente, não vem a bonança, vem um vento que, salvo engano, é chamado de terral. Sai do continente, da terra firme, é quente, parece mais um bafo do forno. Não tira nada do lugar. Não, depois da tormenta, nem vento existe. É um vazio, um silêncio.


Uma pausa.


Revisões são chatas, entediantes e incomodam muito.


It ain´t me, baby deve ter tocado no momento em que nasci.

Só não é mais perfeita pra mim porque não fala de pessoas substitutas. Aí vou ter que falar um dia. Mas é isso.


Na adolescência, me achava coadjuvante. Hoje, entendo - pessoa substituta! Nunca a primeira em qualquer coisa na vida de alguém, ou a única, a mais importante. É uma parada do trajeto, do percurso, nem o trajeto em si, nem o ponto de partida ou destino. Áh, fica pra depois.
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quarta-feira, 18 de março de 2009

Por quem os sinos dobram





Era uma vez um país distante, bem distante. E bem antigo também. As conversas lá são bem diferentes das daqui. Lá, é só apertar os olhos, fazer uma forcinha no pensamento que ele segue o caminho dele, sem muitos erros, todo explicado. Por isso que nesse país existem menos guerras e confusões. Aí tem mais tempo para ter graça. Lá é tudo diferente. O tempo também. E é um país sem muros, para que ninguém fique em cima sem ter o que fazer ou sem pensamento para mandar embora, para mandar seguir para algum lugar. A palavra não quando vem perto de nunca desaparece e vira outra coisa. Assim, ninguém nunca vai poder dizer ou pensar "Hoje, não". Vai sair sempre: "Hoje, sim". Por que qual a serventia do que não pode hoje, talvez um dia e quem sabe nunca? Lá só há pode hoje. Talvez é feito muro, sumiu do mapa, foi banido.




Esse país distante fica num lugar meio difícil de encontrar no mapa. É que seus habitantes confundem esquerda com direita e se complicam na hora de desenhar as coisas. E não sabem mesmo dar referências de como chegar lá. A princesa do lugar, conhecida por Lili B. de B., é chefe de um bando de bonecas de pano, de várias cores e tamanhos. Elas estudam dia e noite um livro muito importante, um livro de preparo estratégico para o caso de uma invasão externa. Uma obra conhecida pelo nome de "A Revolta dos Brinquedos". Material muito perigoso. Muito.




Bem, esse páis tem uma história muito comprida e aqui nem foi muito bem contada. Para não esquecer e ficar guardado aqui, é bom explicar que a princesa Lilia virou princesa porque recebeu um dom. Vez por outra tinha a sorte ou azar de saber das coisas por antecipação. Aí contavam para ela aos 20 o que ela só iria saber aos 80. Sonhava com o aviso de hoje o que seria para amanhã. É que ela não era lá muito hábil...Misturava tudo e se confundia toda. Enfim, a história é muito comprida e aqui nem foi muito bem contada.

terça-feira, 17 de março de 2009

Chuva


E duas mulheres conversavam sobre a possibilidade de chover em Olinda e Recife como choveu em Santa Catarina. Só pensei que seria bom. Mas só se fosse chuva de rãs como foi em Magnólia. E vi Magnólia aos pedaços.

Comentaram rapidamente comigo sobre vida picotada. Hoje, acordei com a sensação de que sou um pedaço pequeno de papel em branco. Vazia de cor, cheia de ausências. Lembrei da alegria e da segurança que o par de gladiadoras me deu. Lógico que, para tanto, elas são desprovidas de salto.

Acho que estou mais cheia de ausência do que com vazio de cor. Isso pode ser bom.

A melhor coisa da vida? Tem tantas. Hoje seria tomar banho de chuva.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Oito de Março




Sou feminista. A partir disso, diversos posicionamentos meus são assumidos. Ser feminista é uma premissa, é a única bandeira que levanto, é o principal ismo que defendo. Talvez só exista outro, o espiritismo.

Os dois ismos entraram em conflito dentro de mim na última semana. Motivo: aborto. Por princípio, enquanto mulher, defendo o aborto. Mas não praticaria. Só que inúmeras vezes quando fui ler antes de dormir, abri aleatoriamente o Evangelho Segundo o Espiritismo e fiz reflexões sobre impedir o cumprimento do curso de algo. Da vida. E agora, eutanásia? E agora, menina de nove anos? Talvez por isso, não fui a nenhuma passeata. O conflito é grande para que eu segure bandeira. Ainda preciso debater isso com minha orientadora espiritual. Assistente social e de esquerda.

Engraçado que a única pessoa que me fez frear a minha defesa ampla e aberta ao aborto foi um ex-namorado sem religião. Mas é porque ele sabia o quanto ser mãe é importante para mim. Foi direto no ponto fraco.

Já que não fui protestar (pensei muito no quanto ainda somos tímidas em relação a outros grupos, como os gays, por exemplo, queria uma parada das mulheres que mobilizasse tanto quanta do arco-íris), aproveitei promoções. Dei uma de mulherzinha consumista. Não sabia gastar, me culpava por gastar. Ainda me culpo, mas gasto.

Saio pro trabalho hoje, segunda-feira, orgulhosa do meu par de gladiadoras e da minha carteira roxa. Claro que coloquei saia. Batom rosa sem medo. Creme hidratante com protetor solar no rosto. Minhas rosas lindas em cima da cama. Lembranças divertidas do café com minha mãe e minha tia. É, delícias de ser mulher. E foi tão bonito sentir cólica nesses dias. Obrigada, natureza.

Obs.: Preciso muito escrever sobre os 50 anos da Barbie. Muitíssimo. E sobre minhas expectativas para o filme “Ele não está afim de você”.

sábado, 7 de março de 2009

No direction home


Só Bob Dylan salva.


Elizabethown é um dos meus filmes favoritos por algo bem simples. A idéia esplêndida sobre pessoas substitutas. É isso! Sou uma pessoa substituta. Sempre vou ser.



Hoje não vou de Ain´t me baby.








Like a Rolling Stone





Once upon a time you dressed so fine

You threw the bums a dime in your prime, didn't you?

People'd call, say, "Beware doll, you're bound to fall"

You thought they were all kiddin' you

You used to laugh about

Everybody that was hangin' out

Now you don't talk so loud

Now you don't seem so proud

About having to be scrounging for your next meal.


How does it feel

How does it feel

To be without a home

Like a complete unknown

Like a rolling stone?

You've gone to the finest school all right, Miss Lonely

But you know you only used to get juiced in it

And nobody's ever taught you how to live on the street

And now you're gonna have to get used to it

You said you'd never compromise

With the mystery tramp, but now you realize

He's not selling any alibis

As you stare into the vacuum of his eyes

And say do you want to make a deal?


How does it feelHow does it feel

To be on your own

With no direction home

A complete unknown

Like a rolling stone?


You never turned around to see the frowns on the jugglers and the clowns

When they all did tricks for you

You never understood that it ain't no good

You shouldn't let other people get your kicks for you

You used to ride on the chrome horse with your diplomat

Who carried on his shoulder a Siamese cat

Ain't it hard when you discover that

He really wasn't where it's at

After he took from you everything he could steal.


How does it feelHow does it feelHam on your own

With no direction home

Like a complete unknown

Like a rolling stone?

Princess on the steeple and all the pretty people

They're drinkin', thinkin' that they got it made

Exchanging all precious gifts

But you'd better take your diamond ring, you'd better pawn it babe

You used to be so amused

At Napoleon in rags and the language that he used

Go to him now, he calls you, you can't refuse

When you got nothing, you got nothing to lose

You're invisible now, you got no secrets to conceal.


How does it feel

How does it feel

To be on your own

With no direction home

Like a complete unknown

Like a rolling stone?

Pedaços

Preciso voltar a ler Grande Sertão: Veredas. João Guimarães Rosa sabe falar mais bonito de amor que Vinícius. O que mais admirei em Vinícius foi quando descobri que ele casou sete vezes. Aí, no auge dos meus 14 anos e no fim do primeiro relacionamento, captei que a grande paixão da vida do poetinha foi a mulher que teria sido a inspiração de Para Viver um Grande Amor. Engraçado como uma coisa pode não ter nada a ver com a outra.
Acho que foi numa conversa com minha irmã que veio a idéia de só poder dizer quem foi o grande amor da vida lá pelos oitenta anos. Nessa altura, a pessoa deve achar que esse negócio desesperado de impor conceitos e nomear eras é erro experimental. E alicerce do medo. Alicerce do medo - quanta afetação!
Sábio quem disse que a vida é fácil, nós que complicamos. E bondosa a pessoa que me explicou pulsão de morte e pulsão de vida.
No exato momento, uso uma calça com diferentes tons de rosa. E que continuam sendo rosa. A minha blusa também é rosa. De matiz distinta das da calça. Na quarta série, professora Helena Menezes, conhecida por sua rigidez, instituiu a quarta-feira como dia em que faríamos redações. Nos primeiros exercícios, a tarefa era trabalhar a descrição. Não tinha a menor paciência para encher linhas com detalhes minuciosos de objetos. Aí, depois de muito sofrer por não tirar dez, o que muito me afligia nessa época, comecei a escrever sobre sentimento. A imaginar um pouco, exagerar outro tanto. Minha redação foi lida em outras turmas. Se já não havia paciência para descrever e nomear aos dez anos de idade, perto dos 25 é que prefiro deixar tudo misturado e chamar do mesmo nome mesmo. Afinal, conceitos sempre me foram apresentados como arbitrariedades.
O silêncio foi substituído por barulho. Uma idéia sempre traz outra à reboque.

terça-feira, 3 de março de 2009

Desabafo materialista


Pausa nos registros carnavalescos. Tenho a Quaresma inteira pra terminá-los.


Meu jeito destrambelhado impede que eu seja uma pessoa materialista. Apesar disso, me apego emocionalmente a algumas coisas. A livros, caso esteja no meio da história, e a objetos que se transformem de certa forma em pedaços de mim.


Perdi um livro lido até a página 35 no banheiro do Tacaruna dia desses. Comprei outro igualzinho, dez reais mais barato. Deixei de levá-lo para tudo que era canto e agora o deixo em casa. Tem sido menos lido, claro. Meu consolo é que alguém pode ter pego para ler. Vai que fiz uma boa ação invertida?


O pior, o pior, o pior foi perder minha agenda rosa, emborrachada, com elástico na capa, comprada num dia especial. O dia seguinte ao fim do mundo, à terrível humilhação e ao fracasso do mestrado. Estava em companhia de Ná e Cel. A agenda rosa já fazia parte do meu dia a dia. Lá estavam anotados meu roteiro do fim de semana, ligações que deveria fazer de trabalho e para amigos, metas pessoais e profissionais. Havia mais coisas ali que no meu diário! Quem pegar aquilo terá informações demais sobre minha vida. E vai achar que sou uma neurótica que controla cada passo do próprio dia. Na verdade, sou uma esquecida que vive com branco na mente e que precisa anotar tudo, tudo, tudo.


Agora, vou ter que torcer para que dê tempo de achar outra igual no Plaza. E pra que eu lembre de tudo até a data em que consiga comprar outra igual. Agenda com folhas em branco não tem graça.


E quase que deixava a dita cuja no trabalho antes de ir no cinema. Mesmo aviso do dia que perdi o livro. Tem nada não, um dia, um dia, aprendo a dar ouvidos ao meu sexto sentido.


Dou um chocolate para quem achar. A estampa era mais bonita, cheia de desenhos que lembram o formato de amebas psicodélicas. Mas era algo parecido com a que está acima. Repito: era mais bonita.
Dica para meninos: bolsa e agenda femininas revelam muito sobre a personalidades de quem as possui. Ou usa. Principalmente os artigos usados no dia a dia.